Religião não rima com intolerância

18 de janeiro de 2018 às 16:46

José de Paiva Netto
Em 21 de janeiro celebra-se o Dia Mundial da Religi&atilde;o. Em artigo publicado na Folha de S.Paulo na d&eacute;cada de 1980 arguido por um leitor se n&atilde;o sectarizaria a minha palavra o fato de, em meus escritos, dar muito valor &agrave; Religi&atilde;o, escrevi:<br /> <br /> N&atilde;o vejo Religi&atilde;o como ringues de luta livre, nos quais as muitas cren&ccedil;as se violentam no ataque ou na defesa de princ&iacute;pios, ou de Deus, que &eacute; Amor, portanto, Caridade, e que, por isso, n&atilde;o pode aprovar manifesta&ccedil;&otilde;es de &oacute;dio em Seu Santo Nome nem precisa da defesa raivosa de quem quer que seja. Alziro Zarur (1914-1979) dizia que &ldquo;o maior criminoso do mundo &eacute; aquele que prega o &oacute;dio em nome de Deus&rdquo;.<br /> <br /> Compreendo Religi&atilde;o como Fraternidade, Solidariedade, Entendimento, Compaix&atilde;o, Generosidade, Respeito &agrave; Vida Humana, Salva&ccedil;&atilde;o das Almas, Ilumina&ccedil;&atilde;o do Esp&iacute;rito, que todos somos. Tudo isso no sentido mais elevado. Creio na Religi&atilde;o como algo din&acirc;mico, vivo, pragm&aacute;tico, altruisticamente realizador, que abre caminhos de luz nas Almas e que, por essa raz&atilde;o, deve estar na vanguarda &eacute;tica. N&atilde;o a vejo como coisa ab&uacute;lica, nefelibata, afastada do cotidiano de luta pela sobreviv&ecirc;ncia que sufoca as massas. N&atilde;o a entenderia, se n&atilde;o atuasse tamb&eacute;m, de modo sensato, na transforma&ccedil;&atilde;o das realidades tristes que ainda atormentam os povos. Estes, cada vez mais, andam necessitados de Deus, que &eacute; ant&iacute;doto para os males espirituais, morais e, por consequ&ecirc;ncia, os sociais, inclu&iacute;dos o imobilismo, o sectarismo e a intoler&acirc;ncia degeneradores, que obscurecem o Esp&iacute;rito das multid&otilde;es. (...) E de maneira alguma devem-se excluir os ateus de qualquer provid&ecirc;ncia que venha beneficiar o mundo.<br /> <br /> <b>Deus, Sabedoria e Miseric&oacute;rdia</b><br /> <br /> Religi&atilde;o, como sublima&ccedil;&atilde;o do sentimento, &eacute; para tornar o ser humano melhor, integrando-o no seu Criador, pelo exerc&iacute;cio da Fraternidade e da Justi&ccedil;a entre as Suas criaturas. O Pai Celestial &eacute; fonte inesgot&aacute;vel de Sabedoria e Miseric&oacute;rdia quando n&atilde;o concebido como caricatura, estere&oacute;tipo, &oacute;dio, vingan&ccedil;a, porquanto &ldquo;Deus &eacute; Amor&rdquo; (Primeira Ep&iacute;stola de Jo&atilde;o, 4:8), sin&ocirc;nimo de Caridade. <br /> <br /> Com apurado senso de oportunidade, preconiza o Profeta Muhammad (570-632) &mdash; &ldquo;Que a Paz e as b&ecirc;n&ccedil;&atilde;os de Deus estejam sobre ele&rdquo; &mdash; no Cor&atilde;o Sagrado, Surata Al &acute;Ankabut (A Aranha): &ldquo;Cremos no que nos foi revelado e no que vos foi revelado. Nosso Deus e vosso Deus &eacute; o mesmo. A Ele nos submetemos&rdquo;. <br /> <br /> V&ecirc;m-me &agrave; lembran&ccedil;a estas palavras de Santa Teresa d&rsquo;&Aacute;vila (1515-1582): &ldquo;Procuremos sempre olhar as virtudes e as coisas boas que virmos nos outros e tapar-lhes os defeitos com os nossos grandes pecados&rdquo;.<br /> <br /> <b>Religi&atilde;o na vanguarda</b><br /> <br /> Tudo evolui. Ontem os homens diziam, por exemplo, que a Terra era chata. Afirmava-se que o nosso planeta seria o centro do Universo. Por que ent&atilde;o as religi&otilde;es teriam de estacionar no tempo? Pelo contr&aacute;rio. Religi&atilde;o, quando sin&ocirc;nimo de Solidariedade e Miseric&oacute;rdia, tem de iluminar harmoniosamente a vanguarda de tudo: da Filosofia, da Ci&ecirc;ncia, da Pol&iacute;tica, da Arte, do Esporte, da Economia etc. &Eacute; tamb&eacute;m por interm&eacute;dio dela &mdash; a Religi&atilde;o &mdash; que Deus, que &eacute; Amor, nos manda os mais potentes raios da Sua Generosidade. (...)<br /> <br /> Bem a prop&oacute;sito esta medita&ccedil;&atilde;o do nada menos que c&eacute;tico Voltaire (1694-1778): &ldquo;A toler&acirc;ncia &eacute; t&atilde;o necess&aacute;ria na pol&iacute;tica como na religi&atilde;o. S&oacute; o orgulho &eacute; intolerante&rdquo;. (...)<br /> <br /> <b>Para amainar a frieza de cora&ccedil;&atilde;o</b><br /> <br /> Cabe reiterar esta m&aacute;xima abrangente de Zarur: &ldquo;Religi&atilde;o, Filosofia, Ci&ecirc;ncia e Pol&iacute;tica s&atilde;o quatro aspectos da mesma Verdade, que &eacute; Deus&rdquo;.<br /> <br /> Ora, querer conservar os ramos do saber universal confinados em departamentos estanques, em preconceituosa conflagra&ccedil;&atilde;o, tem sido a origem de muitos males que nos assolam, em especial tratando-se de Religi&atilde;o, entendida no mais alto sentido. <br /> <br /> &Eacute; principalmente de sua &aacute;rea que deve provir o esp&iacute;rito solid&aacute;rio, que, faltando aos diferentes ramos do saber e &agrave; pr&oacute;pria Religi&atilde;o, resulta na frieza de sentimentos que tem caracterizado as rela&ccedil;&otilde;es humanas, nestes &uacute;ltimos tempos. <br /> <br /> (...) O milagre que Deus espera dos seres espirituais e humanos &eacute; que aprendam a amar-se, para que n&atilde;o ensande&ccedil;am de vez, como na pesquisa para o uso b&eacute;lico da antimat&eacute;ria. <br /> O melhor altar para a venera&ccedil;&atilde;o do Criador s&atilde;o Suas criaturas. Torna-se urgente que a Humanidade tenha humanidade.<br /> <br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_paiva-neto_lbv.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <i><b>Jos&eacute; de Paiva Netto</b></i>, jornalista, radialista e escritor.<br /> paivanetto@lbv.org.br &mdash; www.boavontade.com