PT ABRE CAMPANHA

29 de janeiro de 2018 às 11:25

Gaudêncio Torquato,
N&atilde;o poderia haver evento mais &uacute;til aos prop&oacute;sitos do PT do que o julgamento do recurso de defesa de Lula pelo TRF-4, que manteve a condena&ccedil;&atilde;o por 3 a 0 e elevou a pena para doze anos e um m&ecirc;s na &uacute;ltima quarta-feira. O partido carecia de um grande motivo para reanimar a milit&acirc;ncia, nos &uacute;ltimos anos afogada na borrasca que come&ccedil;ou no mensal&atilde;o e desembocou no petrol&atilde;o, a Opera&ccedil;&atilde;o Lava Jato.<br /> <br /> Lula se compara a Tiradentes ou Mandela, sem rubor na face, para assim embalar o partido, temeroso da pr&oacute;pria exist&ecirc;ncia por ocasi&atilde;o do mensal&atilde;o. Lula era e continua a ser o elo que une as alas do partido, pelo carisma e por ser o principal puxador de votos do pa&iacute;s. <br /> <br /> Apesar da puni&ccedil;&atilde;o severa, seguir&aacute; caminhando na trilha da candidatura, vestindo o manto de v&iacute;tima das elites, agora engrossadas pela elite de toga do Judici&aacute;rio.<br /> <br /> A campanha se desenvolver&aacute; sob um clima de alta tens&atilde;o, fomentada por contingentes barulhentos, entre os quais os ex&eacute;rcitos da CUT e do MST, com disposi&ccedil;&atilde;o de fechar rodovias e invadir propriedades, na esteira de recomenda&ccedil;&otilde;es de quadros petistas, com destaque para a presidente do partido, Gleisi Hofmann, e o senador Lindberg Farias, incitando a milit&acirc;ncia a pegar em armas contra os inimigos e a tomada do poder pela viol&ecirc;ncia.&nbsp; <br /> <br /> Consiga ou n&atilde;o posicionar-se como candidato at&eacute; 17 de setembro, data limite para a garantia de presen&ccedil;a nas urnas, Lula preencher&aacute; a planilha de necessidades que o PT planejou: reacender as fogueiras do petismo, puxar um cord&atilde;o de candidatos proporcionais nos Estados e, quem sabe, at&eacute; eleger governadores. <br /> <br /> Se Lula for impedido de ser candidato, seu eventual substituto acabar&aacute; entrando na tuba de resson&acirc;ncia constru&iacute;da pelo julgamento dos ju&iacute;zes de Porto Alegre e poder&aacute; puxar razo&aacute;vel baciada de votos, principalmente no Nordeste, regi&atilde;o que det&eacute;m 27% dos votos do territ&oacute;rio.<br /> <br /> Sem Lula como candidato, a esperada polariza&ccedil;&atilde;o entre ele e Bolsonaro, pela extrema-direita, perde for&ccedil;a, sendo prov&aacute;vel o impulso a ser dado ao candidato do centro, principalmente se o governador de S&atilde;o Paulo Geraldo Alckmin canalizar for&ccedil;as encasteladas nas &aacute;reas de centro-direita e centro-esquerda. <br /> <br /> Esse cen&aacute;rio n&atilde;o abrigaria outras candidaturas centrais, como a de Henrique Meirelles ou a de Rodrigo Maia, situa&ccedil;&atilde;o que produziria dispers&atilde;o de votos. &Aacute;lvaro Dias, que habita tamb&eacute;m o centro, n&atilde;o teria votos suficientes para ser o principal protagonista do terreno. Seu perfil &eacute; regional. Nessa condi&ccedil;&atilde;o, poderia estar Luciano Huck, caso induzido a entrar na arena. <br /> <br /> Voltando ao PT, &eacute; poss&iacute;vel concluir que n&atilde;o ser&aacute; desta vez que o partido ser&aacute; batido fragorosamente. Lula, mesmo n&atilde;o sendo candidato, ser&aacute; o respons&aacute;vel pela sobrevida do petismo. Se vier a ganhar os recursos jur&iacute;dicos, o clima de polariza&ccedil;&atilde;o reacender&aacute; a fogueira entre &ldquo;n&oacute;s&rdquo; e &ldquo;eles&rdquo;. Ainda assim, a vit&oacute;ria do PT seria a alternativa menos prov&aacute;vel.<br /> &nbsp;<br /> <b><i>Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, professor titular da USP &eacute; consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o. Twitter: @gaudtorquato <br />