A PALHAÇADA NA CAMPANHA

02 de fevereiro de 2018 às 16:48

Gaudêncio Torquato,
Os climas pol&iacute;tico-eleitorais puxam bord&otilde;es, refr&atilde;os, chav&otilde;es e abordagens, todos centrados na ideia de dar respostas satisfat&oacute;rias &agrave;s demandas sociais. Bengala de apoio a candidatos e partidos, as receitas procuram chamar a aten&ccedil;&atilde;o dos eleitores, raz&atilde;o pela qual se esfor&ccedil;am para apresentar um diferencial na express&atilde;o. <br /> <br /> S&atilde;o frequentes, no desfile dos modismos, formas extravagantes de apresenta&ccedil;&atilde;o, trejeitos, esquisitices e coisas obtusas. Costuma-se designar esse territ&oacute;rio de dandismo, significando o &ldquo;prazer de espantar&rdquo;. D&acirc;ndis praticam a arte de surpreender.&nbsp; O mestre Baudelaire dizia: &ldquo;creio que existe na a&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica certa dose de provoca&ccedil;&atilde;o, por ser preciso suscitar uma rea&ccedil;&atilde;o&rdquo;. Os d&acirc;ndis querem provocar, criar impacto. E, n&atilde;o raro, caem no exagero, fazendo da est&eacute;tica sua a&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica.<br /> <br /> Lembrando o passado: Lula desfilou com um isopor na cabe&ccedil;a quando descansava numa praia baiana; Fernando Henrique, em 1994, montou num cavalo no interior de Pernambuco e se esbaldou comendo buchada de bode. Quando senador, Suplicy desfilou nos corredores do Senado com um curto short vermelho oferecido a ele por Sabrina Sato. Quem n&atilde;o se lembra das palha&ccedil;adas de campanha de Tiririca?<br /> <br /> A campanha deste ano, na esteira da profunda crise que afasta o eleitorado da pol&iacute;tica, ser&aacute; um prato cheio para os d&acirc;ndis. Que pretendem criar um diferencial de imagem. Os excessos ser&atilde;o tolerados, aceitos ou menosprezados pelos eleitores? &Eacute; poss&iacute;vel que, face &agrave; indigna&ccedil;&atilde;o que permeia os grupamentos sociais, contrariados com os esc&acirc;ndalos e den&uacute;ncias que queimam os &uacute;ltimos estoques de imagem dos pol&iacute;ticos, alguns prefiram votar no macaco Ti&atilde;o ou na macaca Chita. Mas a hip&oacute;tese mais razo&aacute;vel &eacute; a de que, nesse ano, o eleitor n&atilde;o quer perder seu voto.<br /> <br /> A tend&ecirc;ncia ser&aacute; a de escolher o candidato que tenha algo novo a dizer, coisas cr&iacute;veis e fact&iacute;veis. O copo do desprezo aos pol&iacute;ticos est&aacute; transbordando. J&aacute; n&atilde;o se aceitam promessas mirabolantes, propostas absurdas ou as ideias emboloradas do passado. A estripulia circense est&aacute;, portanto, com os dias contados. O desejo do eleitor, pela m&eacute;dia de vontades extra&iacute;das de pesquisas, aponta para perfis n&atilde;o contaminados com o v&iacute;rus da mesmice, gente nova &ndash; n&atilde;o apenas na idade &ndash; que possa agregar sua experi&ecirc;ncia profissional ao campo devastado da pol&iacute;tica. <br /> <br /> Aparecer a qualquer custo, participar de uma encena&ccedil;&atilde;o farsesca, caprichar nos exageros seriam, pois, atos desprezados pelos conjuntos eleitorais. Por outro lado, o tempo de m&iacute;dia eleitoral ser&aacute; muito curto, de forma a evitar o tradicional dandismo com que somos brindados (ou agredidos?) em &eacute;poca de campanha. O nivelamento por baixo &eacute; costume antigo, mas desta feita, n&atilde;o tem condi&ccedil;&atilde;o de prosperar. Mesmo sabendo que a planilha de candidaturas dever&aacute; abrigar elevado grupo de incultos e b&aacute;rbaros. <br /> <br /> Mas haver&aacute; espa&ccedil;o para a brabeza, palavras duras, cr&iacute;ticas severas, murros na mesa. Quem conter&aacute;, por exemplo, o estilo altissonante de Ciro Gomes? N&atilde;o se espere por uma palavra doce de Bolsonaro. A &iacute;ndole pac&iacute;fica de Geraldo Alckmin dever&aacute;, nas curvas da campanha, deslizar para uma tirada mais raivosa. E mesmo o jeito de freira de Marina Silva pode ceder lugar ao modo guerreiro de Joana D&acute;Arc. E se Lula conseguir ser candidato, quem sabe, poder&aacute; aparecer carregando uma cruz. Luis XIV costumava lembrar que &ldquo;os povos gostam do espet&aacute;culo; atrav&eacute;s dele, dominamos seu esp&iacute;rito e seu cora&ccedil;&atilde;o&rdquo;.&nbsp; <br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, professor titular da USP &eacute; consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o. Twitter: @gaudtorquato<br />