O fim da estabilidade no serviço público

07 de fevereiro de 2018 às 16:22

Luiz Carlos Borges da Silveira
O Brasil passa por per&iacute;odo de mudan&ccedil;as tendentes a modernizar e dinamizar a vida pol&iacute;tica e administrativa no &acirc;mbito do governo, por isso acredito ser oportuno repensar e discutir a estabilidade funcional no servi&ccedil;o p&uacute;blico. Esse instituto vem do tempo em que a carreira apresentava poucos atrativos em compara&ccedil;&atilde;o com a iniciativa privada e por isto buscou-se proporcionar alguma garantia ante as incertezas do mercado de trabalho no setor particular. Hoje, a estabilidade tem gerado v&iacute;cios que visivelmente comprometem a presta&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o, da&iacute; a necessidade de reconsider&aacute;-la, debatendo a viabilidade de sua extin&ccedil;&atilde;o ou aplica&ccedil;&atilde;o de novo ordenamento nas rela&ccedil;&otilde;es de trabalho na &aacute;rea oficial.<br /> <br /> &Eacute; sabido que, com poucas ressalvas, a presta&ccedil;&atilde;o do servi&ccedil;o p&uacute;blico &agrave; popula&ccedil;&atilde;o &eacute; deficiente, morosa e extremamente burocr&aacute;tica com decis&otilde;es centralizadas sujeitas a uma legisla&ccedil;&atilde;o extensa e complicadora e algumas normas ultrapassadas. A vital&iacute;cia garantia do emprego favorece a falta de empenho e a acomoda&ccedil;&atilde;o, produzindo falsa necessidade de mais funcion&aacute;rios para execu&ccedil;&atilde;o das mesmas tarefas. Da&iacute;, mais concursos, mais gente contratada que logo estar&aacute; igualmente desmotivada e acomodada.<br /> <br /> Portanto, seria conveniente a ado&ccedil;&atilde;o de normas que contribuam para motiva&ccedil;&atilde;o funcional e consequente dinamiza&ccedil;&atilde;o da atividade sem sistem&aacute;ticas admiss&otilde;es que incham a m&aacute;quina e aumentam despesas sem observ&acirc;ncia do crit&eacute;rio custo/benef&iacute;cio. Uma das alternativas pode ser o ganho por produtividade. A iniciativa privada utiliza esse sistema com proveito em termos de aumento da produtividade e da qualidade, com empregados em constantes treinamentos, reciclagem e avalia&ccedil;&atilde;o s&eacute;ria que resultam em vantagens salariais. No &acirc;mbito p&uacute;blico, em diversas carreiras isso &eacute; poss&iacute;vel, como no ensino, no atendimento de sa&uacute;de. Haveria com certeza maior motiva&ccedil;&atilde;o, mais empenho e participa&ccedil;&atilde;o com ganho para ambas as partes. A ascens&atilde;o deve ter por base o m&eacute;rito, a dedica&ccedil;&atilde;o e a produtividade. &Eacute; verdade que a administra&ccedil;&atilde;o federal aplica processo de avalia&ccedil;&atilde;o, por&eacute;m mais vale para o curr&iacute;culo funcional contando pontos para eventual processo de promo&ccedil;&atilde;o. Al&eacute;m do mais, n&atilde;o utiliza crit&eacute;rios que assegurem imparcialidade. &Eacute; a chamada Avalia&ccedil;&atilde;o 360 Graus, onde, curiosamente, o funcion&aacute;rio participa e avalia a si pr&oacute;prio. <br /> <br /> No fundo, tal avalia&ccedil;&atilde;o n&atilde;o tem nada a ver com ganho por produtividade, um mecanismo t&atilde;o importante que at&eacute; os clubes de futebol de ponta, obrigados a altas contrata&ccedil;&otilde;es de profissionais caros passaram a adotar uma tabela especial vinculando o sal&aacute;rio do atleta a conquistas do clube que revertam em mais renda, inclusive contratos publicit&aacute;rios e de merchandising.<br /> <br /> Um dos problemas do princ&iacute;pio da estabilidade &eacute; sua banaliza&ccedil;&atilde;o e extens&atilde;o a categorias que se acham fora do benef&iacute;cio. Hoje, o custo da m&aacute;quina p&uacute;blica com funcion&aacute;rios que exercem atividade-meio ultrapassa o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal criando dificuldades e impossibilitando o governo de melhorar o n&iacute;vel salarial, oferecer gratifica&ccedil;&otilde;es, treinamento e reciclagem &agrave;queles que exercem atividade-fim, ou seja, que tratam diretamente com a popula&ccedil;&atilde;o, que atendem &agrave;s pessoas, pois s&atilde;o esses que efetivamente cumprem o papel do Estado. Os outros burocratizam o servi&ccedil;o e entravam o atendimento p&uacute;blico. Deve-se ter em conta que governo existe para atender ao povo.<br /> <br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_luiz-carlos-borges-da-silveira.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Luiz Carlos Borges da Silveira</i></b> &eacute; empres&aacute;rio, m&eacute;dico e professor. Foi Ministro da Sa&uacute;de e Deputado Federal. &nbsp;