O injusto e genérico auxílio-moradia

07 de fevereiro de 2018 às 16:28

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
O pagamento de aux&iacute;lio-moradia a magistrados, procuradores, parlamentares e outros membros e altos servidores dos tr&ecirc;s poderes &eacute; legal porque a lei assim o determina. Mas &eacute; profundamente injusta se considerar que &eacute; feito com o dinheiro p&uacute;blico, resultante do recolhimento dos impostos pela popula&ccedil;&atilde;o, que est&aacute; sujeita a uma elevada carga tribut&aacute;ria, &eacute; obrigada a custear sua moradia e, por isso, muitos moram mal, at&eacute; em favelas, hoje chamadas dissimuladamente de &ldquo;comunidades&rdquo;. Mas n&atilde;o &eacute; s&oacute; auxilio-moradia. Muitos da casta superior&nbsp; contam com aux&iacute;lio-educa&ccedil;&atilde;o para si e os filhos, que abrange materiais did&aacute;ticos, anuidades dos cursos e at&eacute; licen&ccedil;a do trabalho para frequentar a p&oacute;s-gradua&ccedil;&atilde;o. Outra impropriedade pois o povo, para estudar, &eacute; obrigado a buscar vagas nas escolas p&uacute;blicas ou a&nbsp; pagar anuidades, materiais e ainda trabalhar.<br /> <br /> As mordomias foram criadas ao longo dos anos gra&ccedil;as &agrave; esperteza e tr&aacute;fico de influ&ecirc;ncia dos integrantes das classes mais poderosas do funcionalismo. Do alto de seus gabinetes, representantes classistas dos magistrados, procuradores e de outras categorias elaboraram projetos de seu interesse e, com jeitinho, convenceram governantes ou congressistas a apresent&aacute;-los e aprov&aacute;-los. Isso tamb&eacute;m se d&aacute; nos n&iacute;veis estadual e municipal, onde as castas privilegiadas acionam a criatividade em favor pr&oacute;prio e criam supersal&aacute;rios e&nbsp; brechas que excluem dos limites constitucionais de ganho as verbas recebidas a t&iacute;tulo de aux&iacute;lio. N&atilde;o &eacute; raro encontrar servidores de alto escal&atilde;o ganhando mais que o presidente da Rep&uacute;blica, o governador do estado e o prefeito municipal.<br /> <br /> O aux&iacute;lio-moradia ao juiz em in&iacute;cio de carreira, que vive de cidade em cidade em pontos distantes do interior, e por isso n&atilde;o tem como ali comprar sua casa, &eacute; justific&aacute;vel. Mas isso n&atilde;o deveria possibilitar que todos da classe o recebessem compulsoriamente. Quem tem a casa pr&oacute;pria na localidade onde trabalha n&atilde;o deveria receber, assim como o casal onde os dois t&ecirc;m direito, apenas um deveria ter o benef&iacute;cio, j&aacute; que ambos residem no mesmo im&oacute;vel. Da forma generalizada que o benef&iacute;cio &eacute; aplicado, tornou-se complementa&ccedil;&atilde;o salarial e, em boa parte dos casos, instrumento de burla ao limite constitucional de sal&aacute;rios. Outra coisa: se o alto funcion&aacute;rio tem direito a aux&iacute;lio-moradia, por uma quest&atilde;o de isonomia, os intermedi&aacute;rios e pequenos tamb&eacute;m deveriam receb&ecirc;-lo.<br /> <br /> Infelizmente, vivemos num pa&iacute;s de privilegiados. Ser&aacute; dif&iacute;cil mudar, pois existe no ordenamento jur&iacute;dico a figura do direito adquirido. Se um dia o governo e o Congresso Nacional tiverem a coragem de acabar com isso, milhares de a&ccedil;&otilde;es ser&atilde;o impetradas e a Justi&ccedil;a fatalmente mandar&aacute; continuar os pagamentos. E o povo continuar&aacute; padecendo na fila dos hospitais e pela falta de medicamentos, educa&ccedil;&atilde;o, seguran&ccedil;a p&uacute;blica e tantas outras defici&ecirc;ncias que o governo alega existirem por falta de dinheiro no cofre.<br /> <br /> Em tempo: n&atilde;o &eacute; o caso, nesse momento, criticar quem recebe os benef&iacute;cios previstos em lei e plenamente consolidados. Merecem cr&iacute;ticas os que, por a&ccedil;&atilde;o ou omiss&atilde;o, levaram a esse estado de coisas. &Eacute; preciso, agora, encontrar solu&ccedil;&otilde;es que continuem reconhecendo as exce&ccedil;&otilde;es e eliminem a generaliza&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o &eacute; porque um membro de uma categoria recebe aux&iacute;lio decorrente de sua situa&ccedil;&atilde;o espec&iacute;fica, que todos devam receb&ecirc;-lo indiscriminadamente...<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</i></b> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />