O Brasil precisa de um choque liberal

19 de fevereiro de 2018 às 15:40

Luiz Carlos Borges da Silveira
O Brasil vive delicado momento. N&atilde;o se trata apenas de crise pol&iacute;tica ou econ&ocirc;mica, o que preocupa &eacute; a crise de firmeza de decis&atilde;o, de rumos para o pa&iacute;s. Talvez fosse este o momento de firmar posi&ccedil;&otilde;es, abandonar dogmas superados e adotar o modernismo administrativo. Fundamentado tal ideia em pesquisas e an&aacute;lises, vejo que seria oportuno buscar um modelo consent&acirc;neo com a globaliza&ccedil;&atilde;o e aplicar o liberalismo, receita com a qual pa&iacute;ses de menor potencialidade superaram suas crises e atrasos.<br /> <br /> O termo liberalismo preocupa os ultrapassados advers&aacute;rios da modernidade do s&eacute;culo XXI, ou seja, aqueles apegados a sistemas deca&iacute;dos ou decadentes. Liberalismo n&atilde;o &eacute; nenhuma amea&ccedil;a, &eacute; o caminho que as na&ccedil;&otilde;es livres e inteligentes adotam &ndash; com sucesso. O liberalismo pol&iacute;tico baseia-se na premissa de que n&atilde;o seria necess&aacute;ria a exist&ecirc;ncia de um poder absoluto para gerir a vida da sociedade; e o liberalismo econ&ocirc;mico &eacute; a defesa da emancipa&ccedil;&atilde;o da economia de qualquer dogma externo a ela mesma, ou seja, a elimina&ccedil;&atilde;o de interfer&ecirc;ncias provenientes de qualquer meio, inclusive e principalmente governamental.<br /> <br /> Basta simples leitura da hist&oacute;ria recente de algumas na&ccedil;&otilde;es para compreens&atilde;o do que isso representaria para o nosso pa&iacute;s. Estudo do Banco Mundial relaciona pol&iacute;ticas favor&aacute;veis ao mercado como maior engajamento em com&eacute;rcio e liberaliza&ccedil;&atilde;o financeira, com n&iacute;veis de crescimento mais elevados. O banco concluiu que os pa&iacute;ses tidos como &ldquo;mais globalizados&rdquo; tiveram no per&iacute;odo avaliado m&eacute;dia anual de crescimento acima de 5%, contra apenas 1,4% dos &ldquo;menos globalizados&rdquo;. Pol&iacute;ticas liberais, diz o relat&oacute;rio, foram positivas.<br /> <br /> Um dos comparativos, por ser mais evidente, refere-se &agrave;s duas Coreias. A do Norte, com regime comunista onde o estado &eacute; dono de tudo, a tudo e a todos comanda, &eacute; exemplo de atraso pol&iacute;tico e principalmente econ&ocirc;mico e social, na&ccedil;&atilde;o em que a pobreza &eacute; assustadora. Recente not&iacute;cia cita at&eacute; canibalismo, por causa da fome em prov&iacute;ncias rurais. O pa&iacute;s tem uma economia aut&aacute;rquica e altamente centralizada, o com&eacute;rcio internacional &eacute; muito restrito, a economia n&atilde;o tem como crescer, o PIB &eacute; constantemente negativo e o PIB per capita n&atilde;o chega a 2 mil d&oacute;lares. Em contraposi&ccedil;&atilde;o, a Coreia do Sul, que adota o liberalismo amplo, era na d&eacute;cada de 1950 mais pobre do que o Haiti, e hoje possui pujante desenvolvimento econ&ocirc;mico, pol&iacute;tico e social, sendo pa&iacute;s l&iacute;der entre os &ldquo;tigres asi&aacute;ticos&rdquo;; seu PIB beira os US$ 2 bi e o PIB per capita &eacute; de 28 mil d&oacute;lares (dados de 2013); possui ind&uacute;stria moderna e competitiva e elevada posi&ccedil;&atilde;o no com&eacute;rcio internacional.<br /> <br /> Su&eacute;cia e Canad&aacute; s&atilde;os outras duas na&ccedil;&otilde;es que aprenderam com seus erros e se deram bem. A Su&eacute;cia, durante quase 30 anos teve uma popula&ccedil;&atilde;o dependente dos servi&ccedil;os do Estado, crescia o emprego p&uacute;blico e diminu&iacute;a no setor privado, a pol&iacute;tica assistencialista descontrolada provocava d&eacute;ficit or&ccedil;ament&aacute;rio e a infla&ccedil;&atilde;o chegava a n&iacute;veis inacredit&aacute;veis para os padr&otilde;es do pa&iacute;s, os gastos p&uacute;blicos atingiam 67% do PIB e os impostos aumentavam de maneira preocupante. Ap&oacute;s adotar o sistema liberal democrata melhorou a efici&ecirc;ncia da economia produtiva e da arrecada&ccedil;&atilde;o fiscal, mesmo com al&iacute;quotas tribut&aacute;rias menores. Em 2012 a infla&ccedil;&atilde;o foi de 1.1. O pa&iacute;s beneficiou-se tamb&eacute;m de sua coes&atilde;o &eacute;tnica, social e cultural e do cultivo de valores tradicionais como honestidade, frugalidade e parcim&ocirc;nia. <br /> <br /> O Canad&aacute; tamb&eacute;m viveu experi&ecirc;ncia socializante e a situa&ccedil;&atilde;o fiscal se deteriorou. Hoje o pa&iacute;s exibe not&aacute;vel desempenho em presta&ccedil;&atilde;o social &agrave; popula&ccedil;&atilde;o com or&ccedil;amentos p&uacute;blicos controlados, equilibrados. A partir da d&eacute;cada de 1990 a economia decolou, havendo redu&ccedil;&atilde;o da rela&ccedil;&atilde;o d&iacute;vida p&uacute;blica/PIB. Isto aconteceu com ado&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas liberais. O pa&iacute;s passou relativamente bem pelas recess&otilde;es de 2001 e 2009. Em 2012 a infla&ccedil;&atilde;o foi de 1.6. <br /> <br /> Enquanto isso, aqui no Brasil, seguimos com propostas equivocadas, que esquecem que quem gera empregos &eacute; a iniciativa privada. Dever&iacute;amos incentivar a produ&ccedil;&atilde;o, por&eacute;m oneramos as empresas para custear a m&aacute;quina p&uacute;blica, aumentamos impostos e paralisamos a ind&uacute;stria. A nossa carga tribut&aacute;ria alcan&ccedil;a 38% do PIB, ou seja, os cofres p&uacute;blicos recebem um valor que equivale a mais de um ter&ccedil;o do que o pa&iacute;s produz. A economia brasileira est&aacute; verdadeiramente danificada, o que gera reflexos negativos em todos os setores da vida nacional.<br /> <br /> O governo deve investir nas pessoas, educacional e profissionalmente, estimular e dar condi&ccedil;&otilde;es para o empreendedorismo que gera emprego e renda e reduz a informalidade, em grande parte causada por programas assistencialistas que induzem o benefici&aacute;rio a n&atilde;o trabalhar para n&atilde;o perder o b&ocirc;nus, caso t&iacute;pico do Bolsa Fam&iacute;lia. Liberalismo pressup&otilde;e a liberdade de iniciativa para o desenvolvimento individual e coletivo. Abraham Lincoln preconizou em sua Mensagem aos Homens que Dirigem o Povo: &ldquo;N&atilde;o poder&aacute;s ajudar aos homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si pr&oacute;prios&rdquo;. Em vez disso, o governo brasileiro se apropria de rendas e recursos que o setor privado utilizaria melhor para a inova&ccedil;&atilde;o e aumento da produtividade. &Eacute; urgentemente necess&aacute;rio redefinir a influ&ecirc;ncia e a inger&ecirc;ncia do Estado na economia privada.<br /> <br /> A conclus&atilde;o l&oacute;gica &eacute; que o governo est&aacute; precisando de um choque de gest&atilde;o, de efici&ecirc;ncia, come&ccedil;ando pela redu&ccedil;&atilde;o da m&aacute;quina p&uacute;blica, elimina&ccedil;&atilde;o ou fus&atilde;o de Minist&eacute;rios (atualmente existe proposta tramitando na C&acirc;mara Federal). O essencial, mesmo, &eacute; modernizar e otimizar a administra&ccedil;&atilde;o, adotar pol&iacute;tica de transpar&ecirc;ncia, pois a gest&atilde;o p&uacute;blica como est&aacute; &eacute; de total inefici&ecirc;ncia e assim n&atilde;o pode gerar e aplicar pol&iacute;ticas eficazes para o desenvolvimento do pa&iacute;s e o bem-estar social dos brasileiros. <br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_luiz-carlos-borges-da-silveira.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Luiz Carlos Borges da Silveira</i></b> &eacute; empres&aacute;rio, m&eacute;dico e professor. Foi Ministro da Sa&uacute;de e Deputado Federal.&nbsp;&nbsp; <br />