OS PERFIS PARA AS URNAS

24 de fevereiro de 2018 às 11:18

Gaudêncio Torquato,
At&eacute; o pleito de outubro, os eleitores colocar&atilde;o uma lupa sobre os candidatos. Far&atilde;o um controle mais apurado do que em elei&ccedil;&otilde;es passadas. Primeiro, em fun&ccedil;&atilde;o da desconfian&ccedil;a que paira sobre os pol&iacute;ticos. Segundo, porque o voto come&ccedil;a a sair do cora&ccedil;&atilde;o para subir &agrave; cabe&ccedil;a. O voto racional toma o lugar do voto emotivo. Terceiro, porque o conjunto do eleitorado, de costas para a pol&iacute;tica, se abriga em entidades de refer&ecirc;ncia e defesa &ndash; sindicatos, associa&ccedil;&otilde;es, clubes, federa&ccedil;&otilde;es, movimentos de todos os tipos &ndash; e estas tendem a orientar a escolha para determinados perfis. Bancadas setoriais ganhar&atilde;o amplitude. Veremos um eleitor afinado ao esp&iacute;rito do tempo. <br /> <br /> Que conceito o eleitor faz hoje do pol&iacute;tico? Pesquisas mostram que, de cada 100 brasileiros, apenas 3 confiam nos pol&iacute;ticos. Esc&acirc;ndalos em s&eacute;rie registrados nos &uacute;ltimos tempos contribuem para a m&aacute; avalia&ccedil;&atilde;o. E que perfis conseguem atrair a aten&ccedil;&atilde;o? Vejamos. A autoridade &eacute; seguramente um deles. O brasileiro sente-se atra&iacute;do pela figura do pai, que expressa autoridade, respeito, o homem providencial capaz de suprir as necessidades da fam&iacute;lia. Mas n&atilde;o se deve confundir autoridade com autoritarismo, aqui estendido &agrave; arbitrariedade. J&acirc;nio Quadros era uma figura que expressava respeito.<br /> <br /> O equil&iacute;brio atrai a aten&ccedil;&atilde;o. Pessoas desequilibradas n&atilde;o merecem considera&ccedil;&atilde;o, mesmo que neste ano a palavra dura, um murro na mesa possam fazer parte do discurso (Bolsonaro absorve essa condi&ccedil;&atilde;o). O equil&iacute;brio est&aacute; ligado &agrave; harmonia, &agrave; serenidade, valor que carrega sentimento de justi&ccedil;a. Estes valores somam-se, conferindo ao pol&iacute;tico confiabilidade e respeitabilidade, base para a consolida&ccedil;&atilde;o de uma boa imagem.<br /> <br /> Os desafios da administra&ccedil;&atilde;o e as demandas sociais exigem conhecimento e experi&ecirc;ncia, ferramentas para o encontro de solu&ccedil;&otilde;es r&aacute;pidas. O eleitor desconfia de aventureiros e ignorantes por consider&aacute;-los &ldquo;aposta cega, um tiro no escuro&rdquo;. O preparo e o ide&aacute;rio bem organizado podem melhorar a imagem. Melhor ainda quando o ideario for endossado por grupos sociais. Ou seja, se ganhar o apoio de entidades. O bom candidato &eacute; tamb&eacute;m aquele que sabe articular, fazer intermedia&ccedil;&atilde;o e intera&ccedil;&atilde;o com os grupos organizados. Urge respirar o &ldquo;cheiro das ruas&rdquo;. A proximidade com o povo se faz necess&aacute;ria. <br /> <br /> E os valores negativos? Indecis&atilde;o &eacute; um deles. Associa-se &agrave; ideia de pessoa sem personalidade, fraca, t&iacute;bia. Encrenqueiro e corrupto, ent&atilde;o, nem se fala: s&atilde;o tra&ccedil;os negativos. O brasileiro desconfia de estilos rompantes, impetuosos, viradores de mesa. Mudan&ccedil;as s&atilde;o desej&aacute;veis, contanto que n&atilde;o causem grandes sustos. <br /> <br /> Quem est&aacute; ligado &agrave;s teias de corrup&ccedil;&atilde;o ser&aacute; visto com desconfian&ccedil;a. &Eacute; dif&iacute;cil se purgar. Perfis sem programas, conhecimento de temas, ter&atilde;o voo curto. Morrer&atilde;o antes de chegar &agrave; praia, &agrave;s urnas. H&aacute; um conceito que forma o esqueleto vertebral do pol&iacute;tico: a identidade, que abriga a hist&oacute;ria, o pensamento, a coer&ecirc;ncia, os sentimentos e a maneira de ser. Se a identidade &eacute; forte e positiva, o pol&iacute;tico ser&aacute; associado &agrave;s boas lembran&ccedil;as de seus eleitores. Uma boa imagem, por&eacute;m, n&atilde;o nasce e cresce no espa&ccedil;o de uma campanha.<br /> <br /> Conselho ao eleitor: comece, desde j&aacute;, a focar sua lupa sobre os perfis dos eventuais protagonistas.<br /> &nbsp;<br /> <img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> <b><i>Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, professor titular da USP &eacute; consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o.&nbsp; <br />