Carta ao general Braga Netto

27 de fevereiro de 2018 às 16:46

Frei Betto
General, o Rio precisa de interven&ccedil;&atilde;o c&iacute;vica, e n&atilde;o militar. O Estado fluminense e a prefeitura carioca est&atilde;o ac&eacute;falos.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &nbsp;<br /> Em 10 anos de implanta&ccedil;&atilde;o das UPPs houve tempo suficiente para evitar que uma gera&ccedil;&atilde;o de crian&ccedil;as e jovens escapasse das garras do narcotr&aacute;fico. Cometeu-se o equ&iacute;voco de instalar postos policiais nas comunidades, e n&atilde;o escolas, cursos profissionalizantes, quadras de esportes, oficinas de dan&ccedil;a, teatro, m&uacute;sica e literatura.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> O Ex&eacute;rcito brasileiro acumula uma hist&oacute;ria de fracassos. Promoveu um genoc&iacute;dio no Paraguai, e at&eacute; hoje os arquivos da guerra no s&eacute;culo 19 s&atilde;o mantidos secretos para n&atilde;o envergonharem a nossa hist&oacute;ria militar. Fez uma matan&ccedil;a desnecess&aacute;ria em Canudos para evitar que os nordestinos se livrassem da tutela dos donos de engenhos.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> Deixou-se manipular pela Casa Branca, em 1964, para derrubar o governo democraticamente eleito de Jango, e implantou uma ditadura que durou 21 anos.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> N&atilde;o permita, general, que haja novo fracasso. N&atilde;o autorize seus soldados a se transformarem em assassinos fardados que, ao ingressar nas comunidades, primeiro atiram e depois interrogam.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> Sua miss&atilde;o ser&aacute; t&atilde;o in&uacute;til quanto &agrave; das UPPs se acreditar que a viol&ecirc;ncia que assola o Rio &eacute; culpa apenas do narcotr&aacute;fico, dos bandidos e das mil&iacute;cias.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> As causas &eacute; que precisam ser urgentemente combatidas: a desigualdade social, o sucateamento da escola p&uacute;blica, o desemprego, a fal&ecirc;ncia do sistema de sa&uacute;de.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> N&atilde;o admita que seus soldados e oficiais sejam corrompidos, como ocorre a tantos policiais e autoridades que engordam a conta banc&aacute;ria ao fazer vista grossa para o crime organizado. De onde procedem as sofisticadas armas em m&atilde;os dos bandidos? Quem os mant&eacute;m previamente informados das opera&ccedil;&otilde;es repressivas?<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> Os problemas n&atilde;o est&atilde;o apenas nos morros. Est&atilde;o, sobretudo, no asfalto, onde residem os que alimentam o narcotr&aacute;fico, os pol&iacute;ticos corruptos, os que permitem que o nosso sistema carcer&aacute;rio seja sede do comando do crime.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; <br /> Salve a imagem do Ex&eacute;rcito, general. E conven&ccedil;a os governantes do povo fluminense e carioca a renunciarem, para que sejam convocadas elei&ccedil;&otilde;es antecipadas. A democracia &eacute; sempre a melhor alternativa!<br /> <br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_frei-betto.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Frei Betto</i></b> &eacute; escritor, autor de &ldquo;Calend&aacute;rio do poder&rdquo; (Rocco), entre outros livros. <br />