Marielle, que sua morte não seja em vão

16 de março de 2018 às 14:46

Tenente Dirceu Cardoso Gon&cce
Aqueles que esperavam o primeiro cad&aacute;ver importante dentro da crise pol&iacute;tica e de seguran&ccedil;a vivida pelo pa&iacute;s, j&aacute; o t&ecirc;m. At&eacute; mais de um pois, al&eacute;m da vereadora do Rio de Janeiro - que ao lado do mandato possu&iacute;a milit&acirc;ncia em &aacute;reas altamente sens&iacute;veis da sociedade -&nbsp; ainda h&aacute; o do seu motorista, este igual a tantos outros trabalhadores mortos no dia-a-dia brasileiro, mas hoje diferenciado dos demais por ter perecido na mesma emboscada que vitimou a parlamentar. Marielle Franco &eacute;, sem d&uacute;vida, v&iacute;tima dos males que h&aacute; muito tempo acometem o pa&iacute;s &ndash; desagrega&ccedil;&atilde;o social, corrup&ccedil;&atilde;o, impunidade, demagogia e legisla&ccedil;&atilde;o leniente &ndash; e da sua corajosa op&ccedil;&atilde;o de desfraldar a bandeira e enfrentar tudo isso de peito aberto. &Eacute; prematuro dizer sobre a autoria, mas as autoridades de seguran&ccedil;a t&ecirc;m o dever de identificar os matadores e envolvidos para entreg&aacute;-los &agrave; Justi&ccedil;a, sejam eles criminosos comuns, pistoleiros a servi&ccedil;o do mundo pol&iacute;tico, membros de fac&ccedil;&otilde;es, milicianos ou at&eacute; mesmo policiais. <br /> <br /> Enquanto a fam&iacute;lia evita especular sobre autoria, oportunistas de todos os matizes se movimentam produzindo manifesta&ccedil;&otilde;es e hip&oacute;teses quando deveriam, sensatamente, apenas exigir que as autoridades cumpram sua obriga&ccedil;&atilde;o. Independente de quem tenha praticado essa atrocidade, existem problemas que, se n&atilde;o tiveram rela&ccedil;&atilde;o direta com o crime, s&atilde;o determinantes do quadro geral em que ocorreu. Todos os que de alguma forma se mobilizaram no epis&oacute;dio precisam agora ter a consci&ecirc;ncia de que n&atilde;o basta participar de passeatas, discursos e acusa&ccedil;&otilde;es de corpo presente e depois de alguns dias esquecer tudo, como j&aacute; presenciamos nos casos de outros cad&aacute;veres produzidos por problemas pol&iacute;ticos, sociais e estruturais em diferentes &eacute;pocas da vida nacional. <br /> <br /> O momento &eacute; de dor. Politizar o acontecimento e, principalmente, dele tirar dividendos eleitorais, &eacute; atitude canalha. Independente de sua atua&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, cren&ccedil;as e a&ccedil;&otilde;es, Marielle era uma brasileira &uacute;til, ativa e destemida.&nbsp; Seu sangue, infelizmente derramado, n&atilde;o pode servir de combust&iacute;vel eleitoral e nem irrigar grupos desagregadores da sociedade. Por respeito, seu sacrif&iacute;cio s&oacute; pode e deve servir de alavanca para o combate &agrave;s desigualdades sociais, &agrave; des&iacute;dia e incompet&ecirc;ncia da autoridade constitu&iacute;da e at&eacute; de ferramenta &agrave; reforma da Constitui&ccedil;&atilde;o que, com seu texto de direitos sem deveres correspondentes, ensejou o lan&ccedil;amento ladeira abaixo do pa&iacute;s e da sociedade.<br /> <br /> Ser&aacute; um desperd&iacute;cio se os corpos de Marielle e do seu motorista se transformarem em bandeiras pol&iacute;ticas ou eleitoreiras. O justo ser&aacute; a sociedade manter-se mobilizada para que a morte de ambos, n&atilde;o seja em v&atilde;o e ,em vez de eleger ou favorecer partidos ou institui&ccedil;&otilde;es, sirva para exigir medidas concretas que evitem o massacre de milhares de brasileiros (a maioria an&ocirc;nimos) que o crime e as iniquidades sociais assassinam diariamente em todos os quadrantes do territ&oacute;rio nacional. <br /> <b><i>&nbsp;<br /> </i></b><b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" width="60" hspace="3" height="81" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</i></b> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br <br />