Dia Mundial da Água: uso inteligente gera benefícios financeiros para edifícios públicos e privados

21 de março de 2018 às 15:04

Danny Braz
Mar&ccedil;o &eacute; o m&ecirc;s das &aacute;guas. N&atilde;o s&oacute; pela express&atilde;o eternizada por Tom Jobim, mas porque &eacute; o m&ecirc;s em que se comemora o Dia Mundial da &Aacute;gua, no dia 22, data institu&iacute;da pela Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas, em 1992. Para n&oacute;s, brasileiros, &eacute; quase sempre o m&ecirc;s com maior quantidade de chuvas, atingindo quase todo o territ&oacute;rio nacional, dado que &eacute; o fim do ver&atilde;o. Essa &eacute;poca &eacute; comumente usada para refor&ccedil;ar a conscientiza&ccedil;&atilde;o do uso da &aacute;gua e, pelo visto, 2018 ser&aacute; um ano onde essa consci&ecirc;ncia se far&aacute; extremante necess&aacute;ria. <br /> <br /> Ao menos at&eacute; o fim de fevereiro, a chuva esteve abaixo do normal, e apesar de ainda n&atilde;o haver avisos sobre racionamento, a popula&ccedil;&atilde;o j&aacute; est&aacute; atenta. Entre 2014 e 2016, tivemos um per&iacute;odo hist&oacute;rico de crise h&iacute;drica no estado de S&atilde;o Paulo, o que refor&ccedil;ou ainda mais a ideia de que o Brasil, pa&iacute;s de imensos rios e afluentes, a despeito disso, constantemente sofre com secas em diversas regi&otilde;es. A solu&ccedil;&atilde;o, no entanto, j&aacute; vem sendo aplicada. Mostra de que a crise h&iacute;drica ensinou algo &agrave; popula&ccedil;&atilde;o. O uso racional da &aacute;gua j&aacute; &eacute; uma realidade cada vez maior, sobretudo quando falamos de pr&eacute;dios, sejam eles p&uacute;blicos ou privados. <br /> <br /> No setor p&uacute;blico, vemos cada vez mais munic&iacute;pios aderindo a programas como o PURA - Programa de Uso Racional da &Aacute;gua. Criado pela Sabesp, em 1996, o PURA &eacute; direcionado a entidades p&uacute;blicas da administra&ccedil;&atilde;o direta (Secretarias de Estado, prefeituras e unidades do Governo Federal), dando incentivos fiscais a essas entidades conforme o cumprimento de metas de consumo de &aacute;gua. O PURA se baseia em orienta&ccedil;&atilde;o - sobretudo de servidores p&uacute;blicos e alunos das redes escolares - e na adequa&ccedil;&atilde;o de pr&eacute;dios a projetos h&iacute;dricos que evitem desperd&iacute;cio e promovam solu&ccedil;&otilde;es como o uso inteligente de &aacute;gua da chuva para irriga&ccedil;&atilde;o de jardins, hortas e reuso na limpeza.<br /> <br /> Somente esse projeto contemplou 600 escolas estaduais at&eacute; o fim de 2017. A previs&atilde;o para 2018 s&atilde;o mais 380. Esses pr&eacute;dios chegam a economizar 7 milh&otilde;es de litros de &aacute;gua por m&ecirc;s. Atualmente, est&atilde;o cadastrados na Grande S&atilde;o Paulo, 2.935 im&oacute;veis com o consumo de &aacute;gua monitorado. Em dezembro de 2016, o programa foi respons&aacute;vel por uma economia de aproximadamente 380 milh&otilde;es de litros de &aacute;gua, quantia equivalente ao consumo mensal da popula&ccedil;&atilde;o do porte de Aruj&aacute;, na Grande S&atilde;o Paulo, que tem 85 mil habitantes.<br /> <br /> Em setembro do ano passado, a Prefeitura de S&atilde;o Jos&eacute; adotou o PURA com a meta de reduzir em at&eacute; 25% o valor das contas de &aacute;gua, gerando uma economia anual nos cofres p&uacute;blicos de at&eacute; R$ 2,1 milh&otilde;es. Em fevereiro desse ano, Diadema seguiu o exemplo, economizando pelo menos 10% e podendo chegar a 35% por m&ecirc;s na conta de &aacute;gua. A proposta &eacute; reverter as economias em investimentos para a cidade. <br /> <br /> S&atilde;o valores altos a serem considerados, mas eles n&atilde;o se restringem ao setor p&uacute;blico. Nos edif&iacute;cios privados, energia e &aacute;gua representam 20% dos gastos prediais mensais. E o impacto n&atilde;o vem s&oacute; no bolso, pois pr&eacute;dios, residenciais ou comerciais, sofrem muito quando h&aacute; falta de &aacute;gua. &Eacute; por isso que, para a maioria dos pr&eacute;dios, se tornou comum ostentar um certificado LEED. O Leadership in Energy and Environmental Design &eacute; uma certifica&ccedil;&atilde;o para constru&ccedil;&otilde;es sustent&aacute;veis, concebida pela ONG americana U.S. Green Building Council (USGBC), de acordo com os crit&eacute;rios de racionaliza&ccedil;&atilde;o de recursos (energia, &aacute;gua, etc.) atendidos por um edif&iacute;cio.<br /> <br /> Isso mostra que tanto setor p&uacute;blico quanto privado est&atilde;o cada vez mais s&atilde;o adeptos de um uso melhor da &aacute;gua. Um exemplo s&atilde;o edif&iacute;cios &iacute;cones de S&atilde;o Paulo, como o World Trade Center, no Morumbi, a Torre Matarazzo e o Hospital S&iacute;rio Liban&ecirc;s, todos refer&ecirc;ncias no reaproveitamento de &aacute;gua da chuva e detentores do LEED.<br /> <br /> O mais interessante &eacute; que o cuidado com a &aacute;gua tem diversas vantagens agregadas. Nas escolas, por exemplo, os sistemas de capta&ccedil;&atilde;o e reutiliza&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua da chuva auxiliam a educa&ccedil;&atilde;o ambiental, sobretudo quando se fala de jardins e hortas. No setor privado, se ganha com menor taxa de manuten&ccedil;&atilde;o, e se incentiva uma economia de beleza sustent&aacute;vel, o que favorece o bem estar sem desperdi&ccedil;ar um bem t&atilde;o valioso.<br /> <br /> Segundo estudos, at&eacute; 70% do consumo de &aacute;gua nas resid&ecirc;ncias e 60% nos pontos comerciais ocorre nas &aacute;reas externas. Boa parte desse percentual est&aacute; nos jardins. Um moderno sistema de irriga&ccedil;&atilde;o contempla equipamentos de maior efici&ecirc;ncia, o que resulta num menor consumo de &aacute;gua. A irriga&ccedil;&atilde;o ter&aacute; distribui&ccedil;&atilde;o adequada da &aacute;gua de acordo com as necessidades de cada planta ou hortali&ccedil;a. Um projeto paisag&iacute;stico bem elaborado costuma agrupar as plantas que mais necessitam de &aacute;gua, separando-as das demais, a fim de fazer uma distribui&ccedil;&atilde;o inteligente. Para auxiliar, pode-se fazer uma capta&ccedil;&atilde;o de &aacute;gua de chuva e armazenamento. A tecnologia envolvida nesse tipo de equipamento garante projetos com alta durabilidade, baixa manuten&ccedil;&atilde;o e um acabamento perfeito, j&aacute; que os sistemas ficam enterrados no solo.<br /> <br /> Usar a tecnologia a favor da economia financeira e h&iacute;drica &eacute; a grande proposta para 2018. A preocupa&ccedil;&atilde;o com o futuro do meio ambiente j&aacute; &eacute; parte do dia a dia do brasileiro. A consci&ecirc;ncia de um consumo sustent&aacute;vel &eacute; algo que precisa se enraizar na nossa cultura cada vez mais, para que o peso do pensamento ambiental ganhe mais for&ccedil;a. &Eacute; importante pensar no que se ganha financeiramente, mas &eacute; preciso valorizar muito mais o que se ganha em termos de bem estar ambiental. A&iacute; sim, podemos comemorar tranquilos do Dia Mundial da &Aacute;gua.<br /> <br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_danny-braz_engenheiro-civil-consultor-internacional.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Danny Braz </i></b>&eacute; engenheiro civil, consultor internacional com foco em constru&ccedil;&otilde;es verdes e diretor geral da empresa Regatec.