A desumana desigualdade brasileira

05 de abril de 2018 às 08:26

Celso Luiz Tracco
A explora&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica do ser humano por outro ser humano se consagrou como uma forma de vida, principalmente a partir da revolu&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola e do adensamento da humanidade em povoados e cidades, ocorrida h&aacute; cerca de 10.000 anos. A revolu&ccedil;&atilde;o agr&iacute;cola fez com que o homem, pela primeira vez na sua hist&oacute;ria, conseguisse armazenar alimentos. A partir de ent&atilde;o aqueles que, por algum motivo detinham o poder fosse pela for&ccedil;a fosse pela posse dos recursos alimentares, passaram a explorar, escravizar, dominar, aqueles que passavam fome e n&atilde;o tinham o que comer. Esta pr&aacute;tica era eticamente aceita pela sociedade de ent&atilde;o. Os poderosos tinham poder porque seus deuses assim determinaram, portanto eram divinos. Nasceram para mandar. Os subjugados eram considerados seres inferiores e deveriam reverenciar seus senhores com gratid&atilde;o por poderem comer as migalhas oferecidas por eles. <br /> <br /> Teoricamente, esse sistema de vida teve um fim com a Revolu&ccedil;&atilde;o Francesa (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), que se propunha a dar um fim ao regime mon&aacute;rquico. Infelizmente, em nosso pa&iacute;s, passados 240 anos, ainda vivemos sob a &eacute;gide de um estado de privil&eacute;gios mon&aacute;rquicos, apesar de, no papel, vivermos em uma Rep&uacute;blica.<br /> <br /> &Eacute; vergonhoso que altas autoridades ajam como monarcas desp&oacute;ticos. Alguns exemplos recentes: Ju&iacute;zes das altas cortes suspendem julgamentos importantes porque precisam se ausentar por compromissos particulares; ju&iacute;zes retomam mat&eacute;rias j&aacute; julgadas, simplesmente porque assim o desejam; representantes do Congresso se atribuem feriados e per&iacute;odo de f&eacute;rias que nenhuma outra classe trabalhadora possui; alguns, usam avi&otilde;es da For&ccedil;a A&eacute;rea para tratarem de assuntos pessoais, como realizar implantes de cabelo ou assistir a uma festa de casamento; governadores tomam helic&oacute;pteros do estado, para visitarem suas propriedades de fim de semana ou para buscar seu animalzinho de estima&ccedil;&atilde;o. Os exemplos acima poderiam ser c&ocirc;micos se n&atilde;o fossem tr&aacute;gicos e pior, eles est&atilde;o respaldados pela legisla&ccedil;&atilde;o ou por normas legais.<br /> <br /> Por tr&aacute;s desses atos est&atilde;o milhares de outros que delapidam a moral da sociedade, que tiram recursos dos menos favorecidos, que n&atilde;o permitem investimentos sociais. N&atilde;o, n&atilde;o somos todos iguais: n&atilde;o temos Liberdade porque n&atilde;o temos seguran&ccedil;a nas ruas; n&atilde;o temos Igualdade por que n&atilde;o temos 15 sal&aacute;rios por ano e nem f&eacute;rias de 60 dias; n&atilde;o temos Fraternidade, porque a situa&ccedil;&atilde;o que vivemos gera um clima de &oacute;dio e de extremismos. O Brasil continua sendo o pa&iacute;s dos privil&eacute;gios mon&aacute;rquicos.<br /> <br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_celso-luiz-tracco_economista.JPG" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Celso Luiz Tracco</i></b> &eacute; economista e autor do livro &Agrave;s Margens do Ipiranga - a esperan&ccedil;a em sobreviver numa sociedade desigual.