O encolhimento do capitalismo

12 de maio de 2018 às 10:38

José Pio Martins
O encolhimento do capitalismo<br /> <br /> /uploads/image/artigos_jose-pio-martins_ economista-reitor-up_jpg<br /> <br /> Os impostos n&atilde;o s&atilde;o apenas um meio de pagar a m&aacute;quina estatal e os servi&ccedil;os fornecidos pelo governo. A carga tribut&aacute;ria revela, tamb&eacute;m, o tamanho da parte capitalista (o setor privado) e o tamanho da parte socialista (o governo) existentes no pa&iacute;s. O tamanho geral da economia nacional &eacute; dado pelo total do Produto Interno Bruto (PIB), que, no caso do Brasil, foi de R$ 6,3 trilh&otilde;es em 2016. Se o PIB fosse posto em uma balan&ccedil;a, um prato teria R$ 2,2 trilh&otilde;es (a carga de impostos pagos pela sociedade) e o outro prato teria R$ 4,1 trilh&otilde;es, ou seja, 35% do total &eacute; o tamanho da parte socialista (o governo) e 65% &eacute; a parte capitalista (o setor privado).<br /> <br /> O tamanho do governo &eacute; definido por ele pr&oacute;prio, pois os impostos significam confisco de renda da sociedade privada (pessoas e empresas) sob a for&ccedil;a da lei; portanto, &eacute; uma imposi&ccedil;&atilde;o cujo descumprimento &eacute; crime previsto no C&oacute;digo Penal. O setor privado funciona sob bases capitalistas: propriedade privada dos bens de capital, organiza&ccedil;&atilde;o empresarial da produ&ccedil;&atilde;o e trabalho assalariado, em regime de liberdade e de competi&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> J&aacute; o governo funciona em bases socialistas: toma parte da renda nacional, executa servi&ccedil;os p&uacute;blicos em regime de monop&oacute;lio, n&atilde;o se submete ao imperativo de satisfazer o cliente (o povo), n&atilde;o opera com base em efici&ecirc;ncia e concorr&ecirc;ncia, e nunca vai &agrave; fal&ecirc;ncia por incompet&ecirc;ncia no que faz. Quando o governo vem e toma mais R$ 10,4 bilh&otilde;es apenas com aumento de tributos sobre combust&iacute;veis, n&atilde;o se trata de mera transfer&ecirc;ncia de renda da sociedade para o Estado. Trata-se de diminuir a parte capitalista do pa&iacute;s e aumentar a parte socialista.<br /> <br /> O encolhimento do capitalismo e a expans&atilde;o do socialismo de um pa&iacute;s s&atilde;o efeito inexor&aacute;vel da eleva&ccedil;&atilde;o de tributos. O fil&oacute;sofo marxista Ant&ocirc;nio Gramsci (1891-1937) dizia que os comunistas deviam abandonar a ideia de implantar o comunismo extinguindo a propriedade privada e assassinando os resistentes, da forma como ocorreu no s&eacute;culo 20, mormente na Uni&atilde;o Sovi&eacute;tica. Gramsci propunha implantar o socialismo pela tributa&ccedil;&atilde;o compuls&oacute;ria, isto &eacute;, pelo confisco da riqueza privada.<br /> <br /> Quando a tributa&ccedil;&atilde;o chegasse &agrave; metade do produto nacional, mantendo-se o direito de propriedade privada e o livre de mercado de bens e servi&ccedil;os, o tamanho do Estado se igualaria ao resto da economia, e o socialismo estaria enraizado sem que a burocracia estatal tivesse de se aborrecer com os problemas do processo de produzir e criar riquezas. Do Estado jamais seriam exigidas qualidades como efici&ecirc;ncia, austeridade, capacidade gerencial e qualquer coisa t&iacute;pica de quem precisa assumir riscos e competir.<br /> <br /> Gastar o dinheiro dos outros, sem imposi&ccedil;&atilde;o de racionalidade e compet&ecirc;ncia, &eacute; o esporte preferido dos pol&iacute;ticos e da burocracia estatal. Os impostos, sobre os quais quem os paga n&atilde;o pode dar o menor palpite, sustentam o governo por mais inchado, incompetente e corrupto que seja. A quest&atilde;o essencial a ser entendida, al&eacute;m de que os impostos devem financiar os servi&ccedil;os p&uacute;blicos, &eacute; que elevar a carga tribut&aacute;ria significa reduzir o capitalismo e aumentar o socialismo.<br /> <br /> Na busca de seu objetivo socialista, Gramsci foi eficiente. Um pa&iacute;s que atingisse carga tribut&aacute;ria de 60% da renda nacional n&atilde;o seria mais capitalismo, pois, em uma na&ccedil;&atilde;o onde o Estado responda por 60% do disp&ecirc;ndio nacional, o capitalismo &eacute; um ap&ecirc;ndice t&iacute;mido de uma economia socialista. O Estado &eacute; necess&aacute;rio para cumprir suas fun&ccedil;&otilde;es cl&aacute;ssicas, tais como defesa, justi&ccedil;a, seguran&ccedil;a e servi&ccedil;os coletivos. N&atilde;o se discute sua elimina&ccedil;&atilde;o. Mas ele tem de ser limitado em seus poderes e adequado ao tamanho da economia nacional.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_jose-pio-martins_ economista-reitor-up_.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Jos&eacute; Pio Martins</i></b>, economista, &eacute; reitor da Universidade Positivo