200 milhões de reféns do caminhão

26 de maio de 2018 às 10:41

Tenente Dirceu Cardoso Gon&
Mais uma vez, os caminhoneiros pararam o pa&iacute;s. Sentindo-se enganados em 2014, quando o governo lhes prometeu atend&ecirc;-los e n&atilde;o cumpriu, agora vieram mais exigentes. Garantiram s&oacute; reabrir o tr&aacute;fego de mercadorias pelas estradas depois que suas reivindica&ccedil;&otilde;es forem atendidas e publicadas no Di&aacute;rio Oficial. Ainda n&atilde;o sabemos quais os n&iacute;veis de aceita&ccedil;&atilde;o ao acordo firmado quinta-feira com o governo, que vai subsidiar o combust&iacute;vel, pois existem parcelas insatisfeitas e radicalizadas entre os grevistas. Faltam o o pr&oacute;prio diesel, etanol e gasolina, alimentos e at&eacute; rem&eacute;dios. Menos de uma semana de caminh&otilde;es parados nos trouxe a essa situa&ccedil;&atilde;o. E o pior &eacute; que a crise &ndash; se &eacute; que foi resolvida &ndash; ter&aacute; de ser renegociada a cada 30 dias, podendo tudo se repetir em caso de desacordo. Ainda mais: motoboys, transportadores escolares, condutores de Uber e outros consumidores de combust&iacute;veis amea&ccedil;am parar em busca de solu&ccedil;&otilde;es iguais ou parecidas &agrave;s que se ofereceu aos caminhoneiros e outros consumidores do diesel.<br /> <br /> O governo tem o dever de exigir a desmobiliza&ccedil;&atilde;o imediata do movimento paredista, pois j&aacute; ofereceu a alternativa poss&iacute;vel. Agora tem de exercer o seu papel garantidor do direito de ir e vir da popula&ccedil;&atilde;o e o acesso aos insumos de que necessitamos para o dia-a-dia. Por mais que tenham raz&otilde;es em suas reivindica&ccedil;&otilde;es, n&atilde;o &eacute; l&iacute;cito aos transportadores travar a vida de todos os brasileiros. O que as autoridades n&atilde;o conseguirem pelo di&aacute;logo, ter&aacute; de ser pela for&ccedil;a, para evitar o mal maior. E os radicais que tentam levar o movimento ao impasse e at&eacute; for&ccedil;ar a interven&ccedil;&atilde;o militar, precisam considerar que esse pode ser um rem&eacute;dio muito amargo. &Eacute; melhor que a solu&ccedil;&atilde;o se d&ecirc; entre os poderes constitu&iacute;dos.<br /> <br /> A carga tribut&aacute;ria brasileira &eacute; escandalosa e precisa ser reduzida. Mas isso n&atilde;o &eacute; coisa recente e n&atilde;o se resolve num passe de m&aacute;gica. O pa&iacute;s depende de ampla reforma tribut&aacute;ria e administrativa e o governo, que arrecada dos impostos, precisa reduzir seus gastos (muitos deles abusivos) para que as despesas n&atilde;o continuem ultrapassando o valor da receita. Os combust&iacute;veis, cujo consumo impacta os pre&ccedil;os dos transportes e de toda a economia nacional, realmente, deveriam ter carga tribut&aacute;ria menor, como ocorre nos pa&iacute;ses vizinhos, que importam do Brasil os derivados do petr&oacute;leo e os vendem &agrave; popula&ccedil;&atilde;o pela metade do pre&ccedil;o cobrado aqui.<br /> <br /> O que temos hoje &eacute; o resultado de d&eacute;cadas de imprevid&ecirc;ncia e abandono. O desenvolvimento nacional foi constru&iacute;do em boa parte atrav&eacute;s dos trilhos das ferrovias. No come&ccedil;o dos anos 50 do s&eacute;culo passado, quando a popula&ccedil;&atilde;o brasileira era de apenas 50 milh&otilde;es de habitantes, chegamos a ter 34.207 quil&ocirc;metros de estradas de ferro ativos com o transporte de cargas e passageiros. A falta de investimentos na ferrovia e a entrada da ind&uacute;stria automobil&iacute;stica, fez a malha ferrovi&aacute;ria encolher para os atuais 30.129 quil&ocirc;metros, a maior parte abandonada ou sub-utilizada. Os caminh&otilde;es, que em qualquer pa&iacute;s s&eacute;rio e organizado fazem apenas a ponta do transporte &ndash; entre o terminal ferrovi&aacute;rio, a&eacute;reo ou aquavi&aacute;rio e o destinat&aacute;rio &ndash; hoje respondem com 60% de todo o transporte no pa&iacute;s de mais de 200 milh&otilde;es de habitantes. A raiz do problema est&aacute; a&iacute; e o resto todo &eacute; consequ&ecirc;ncia...<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &nbsp;<br /> <i><b><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/img_artigos_tenentedirceu.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="81" align="left" /><br /> <br /> Tenente Dirceu Cardoso Gon&ccedil;alves</b></i> - dirigente da ASPOMIL (Associa&ccedil;&atilde;o de Assist. Social dos Policiais Militares de S&atilde;o Paulo) - aspomilpm@terra.com.br