Escolhas que matam

04 de junho de 2018 às 08:12

Clemente Ganz Lúcio
As crises econ&ocirc;micas e as recess&otilde;es s&atilde;o fen&ocirc;menos que atormentam as sociedades nesses dois s&eacute;culos de capitalismo. Causas diversas est&atilde;o na origem de cada crise e podem ser tratadas de formas diferentes, conforme as distintas correntes de pensamento econ&ocirc;mico. O debate acompanha as escolhas de pol&iacute;ticas econ&ocirc;micas dos governos e as decis&otilde;es de empresas, investidores, bancos, entre outros. As sociedades assistem, &agrave;s vezes participam, mas sempre sofrem as consequ&ecirc;ncias das crises e das medidas tomadas para enfrent&aacute;-las. Desdobramentos assombrosos, como guerras, conflitos sociais, empobrecimento e mis&eacute;ria, desemprego, arrocho salarial e fome tecem a teia de mazelas que une cada contexto hist&oacute;rico espec&iacute;fico.<br /> <br /> Para poucos, quer dizer, para os mais ricos, as crises s&atilde;o oportunidade para enriquecerem ainda mais, comprando ativos baratos, ganhando com juros, arrochando devedores e garimpando oportunidades. Com as crises, esses poucos ganham com o sofrimento de muitos!<br /> <br /> As crises criam os derrotados pelo desemprego, destitu&iacute;dos de capacidade para gerar a renda para o consumo da fam&iacute;lia, muitos perdem casa e bens, e outros veem a fam&iacute;lia se desagregar. O desespero abate e adquire faces perversas que destroem o horizonte das pessoas e as perspectivas de futuro de uma na&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Mais dram&aacute;tico ainda &eacute; o destino daqueles que n&atilde;o t&ecirc;m autonomia para lutar e se defender, como as crian&ccedil;as. Estudo divulgado pela Funda&ccedil;&atilde;o Abrinq (http://fadc.org.br) mostra que a mortalidade infantil voltou a crescer no Brasil, depois de uma d&eacute;cada de cont&iacute;nua redu&ccedil;&atilde;o. O n&uacute;mero de &oacute;bitos de crian&ccedil;as entre 1 e 4 anos passou de 5.595, em 2015, para 6.212, em 2016, aumento de 11% no per&iacute;odo. No caso das crian&ccedil;as com entre 1 m&ecirc;s e 1 ano de idade, o n&uacute;mero de mortes subiu 2%, de 11.001 para 11.214.<br /> <br /> Qual o motivo? O desemprego faz os estragos conhecidos, mas as decis&otilde;es governamentais s&atilde;o ainda mais perversas, porque quando a crise afeta a receita fiscal do Estado, os gastos sociais s&atilde;o cortados. Diante de uma crise, o governo cobra mais impostos de quem pode &ndash; dos ricos &ndash; ou faz cortes. E os cortes deveriam atingir quem pode aguentar o tranco da recess&atilde;o. Os gastos com a manuten&ccedil;&atilde;o do atendimento social e destinados a financiar a sa&iacute;da da crise deveriam ser mantidos.<br /> <br /> O pior corte &eacute; aquele que fragiliza ainda mais as condi&ccedil;&otilde;es dos mais fracos, quer dizer, de crian&ccedil;as e pobres. A pr&oacute;pria Funda&ccedil;&atilde;o Abrinq mostra onde acontecem cortes nos programas sociais. Um exemplo &eacute; o programa Rede Cegonha, cuja aten&ccedil;&atilde;o &eacute; voltada &agrave; m&atilde;e no pr&eacute;-natal, ao parto e &agrave; crian&ccedil;a, do nascimento at&eacute; os dois anos, em que o governo aplica hoje somente pouco mais de 10% dos recursos que deveria aplicar. Os cortes se espalham pelos programas de alimenta&ccedil;&atilde;o, educa&ccedil;&atilde;o, sa&uacute;de, saneamento, Mais M&eacute;dicos, entre tantos outros. As consequ&ecirc;ncias s&atilde;o graves, e podem levar a &oacute;bito pessoas que dependem desses servi&ccedil;os ou ainda acarretar sequelas, muitas vezes, irrevers&iacute;veis a outras.<br /> <br /> Por isso &eacute; sempre bom falar da import&acirc;ncia da escolha de parlamentares e governantes por meio do voto. Eles decidem como arrecadar impostos e como aplic&aacute;-los. Os trabalhadores s&atilde;o a maioria da popula&ccedil;&atilde;o, mas se tornam minoria porque d&atilde;o poder, pelo voto, &agrave;queles que decidem contra seus interesses. S&atilde;o decis&otilde;es que podem desempregar, arrochar sal&aacute;rios, tirar direitos e matar. H&aacute; caminhos para fazer a economia crescer, gerar empregos, proteger direitos e garantir a vida diante das adversidades. Por isso, aten&ccedil;&atilde;o &agrave;s escolhas faz muita diferen&ccedil;a!<br /> <br /> <i><b><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_clemente-ganz-lucio_sociologo-diretor-tecnico-dieese.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Clemente Ganz L&uacute;cio</b></i> &eacute;&nbsp; Soci&oacute;logo, diretor t&eacute;cnico do DIEESE, membro do CDES &ndash; Conselho de Desenvolvimento Econ&ocirc;mico e Social e do Grupo Reindustrializa&ccedil;&atilde;o