A tecnologia e o futuro do emprego

04 de junho de 2018 às 08:15

José Pio Martins
Que o mundo est&aacute; passando por uma gigantesca revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica ningu&eacute;m duvida. Rob&ocirc; sapiens, Internet das Coisas, intelig&ecirc;ncia artificial, comunica&ccedil;&atilde;o na palma da m&atilde;o, redu&ccedil;&atilde;o de intermedia&ccedil;&atilde;o humana em v&aacute;rias atividades (banc&aacute;ria, compras, atendimento, fluxo de documentos etc.) s&atilde;o alguns exemplos do arsenal de mudan&ccedil;as em andamento. Todos os dias lemos que livrarias est&atilde;o fechando porque os compradores preferem o oceano de ofertas via internet; que as mais sofisticadas opera&ccedil;&otilde;es banc&aacute;rias s&atilde;o feitas por computador e por celular; que os aplicativos de smartphone est&atilde;o acabando com tarefas comerciais e burocr&aacute;ticas antes feitas presencialmente e com material f&iacute;sico.<br /> <br /> O mundo da burocracia est&aacute; diminuindo (menos no Brasil). Coisas como ir a um cart&oacute;rio para fazer ou retirar um documento, ir ao laborat&oacute;rio para buscar resultados, gastar tempo para fazer coisas simples que tomam tempo e custam dinheiro s&atilde;o exemplos de atividades que v&atilde;o sumir. Al&eacute;m dessas, h&aacute; atividades altamente sofisticadas que est&atilde;o sendo paulatinamente assumidas pelas tecnologias e v&atilde;o eliminar milhares de tarefas e de trabalho humano. A ansiedade &eacute; saber para onde ir&atilde;o os empregos eliminados em face das novas aplica&ccedil;&otilde;es tecnol&oacute;gicas.<br /> <br /> J&aacute; foi publicado que, nos Estados Unidos, 47% dos empregos est&atilde;o amea&ccedil;ados de extin&ccedil;&atilde;o por substitui&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica. As pessoas est&atilde;o assustadas e gritando: &ldquo;Os rob&ocirc;s ir&atilde;o roubar nossos empregos!&rdquo; No curto prazo, a explos&atilde;o de novas tecnologias ir&aacute;, sim, gerar um deslocamento nos empregos. Mas, no longo prazo, deve acontecer uma mudan&ccedil;a nos padr&otilde;es e formas de trabalho, e milh&otilde;es de empregos de outro tipo ser&atilde;o criados. A revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica ir&aacute; aumentar a produtividade por hora de trabalho e diminuir&aacute; custos.<br /> <br /> Quando os custos diminuem, os pre&ccedil;os tamb&eacute;m caem e, por consequ&ecirc;ncia, milh&otilde;es de consumidores de menor renda passam a ter poder de comprar; logo, melhoram sua qualidade de vida, fazendo que surjam novas formas de emprego. A alta tecnologia resulta de um mercado livre e competitivo e reduz n&atilde;o apenas o custo dos produtos de consumo, mas tamb&eacute;m os bens de capital &ndash; sobretudo as novas m&aacute;quinas de tecnologia moderna &ndash;, que tamb&eacute;m passam a ser produzidos a custos menores.<br /> <br /> Quando ocorre essa sequ&ecirc;ncia de eventos econ&ocirc;micos &ndash; avan&ccedil;o da tecnologia, aumento da produtividade do trabalho, barateamento dos bens e servi&ccedil;os, barateamento dos bens de capital, aumento do consumo &ndash;, outro fen&ocirc;meno explode: uma maior parte da renda das pessoas (consumidores) fica liberada para outras compras. E novas demandas surgem, outros bens e servi&ccedil;os t&ecirc;m de ser ofertados, outros empreendimentos s&atilde;o criados e outros tipos de empregos s&atilde;o gerados.<br /> <br /> Um computador pessoal que hoje &eacute; comprado por US$&thinsp;500 custava quatro vezes mais h&aacute; poucos anos. Os milh&otilde;es de computadores vendidos no mundo decorrem da diminui&ccedil;&atilde;o de seu pre&ccedil;o nos &uacute;ltimos anos, e o n&uacute;mero de empregados trabalhando em toda a cadeia de produ&ccedil;&atilde;o, venda e assist&ecirc;ncia t&eacute;cnica aumentou vertiginosamente. Em toda a hist&oacute;ria da humanidade, quando revolu&ccedil;&otilde;es tecnol&oacute;gicas ocorreram &ndash; como a m&aacute;quina a vapor, o motor a combust&atilde;o e a eletricidade &ndash;, o resultado foi uma abundante cria&ccedil;&atilde;o de empregos. Empregos antigos se tornam obsoletos e s&atilde;o eliminados, e trabalhadores s&atilde;o liberados para os novos empregos.<br /> <br /> Em 1970, o Brasil tinha 46% da popula&ccedil;&atilde;o vivendo na zona rural. Ou seja, para duas pessoas terem alimento, uma tinha de estar na lavoura, produzindo para ela pr&oacute;pria e para mais uma. Em uma sociedade na qual metade da popula&ccedil;&atilde;o tem de estar no campo produzindo comida, a pobreza ser&aacute; a norma corrente, e n&atilde;o haver&aacute; espa&ccedil;o para produzir educa&ccedil;&atilde;o, sa&uacute;de, lazer, turismo e uma penca de bens industriais e servi&ccedil;os pessoais a fim de melhorar o padr&atilde;o m&eacute;dio de bem-estar.<br /> <br /> A possibilidade de a humanidade viver melhor veio com a introdu&ccedil;&atilde;o da tecnologia na agricultura e na pecu&aacute;ria, pelo fim da necessidade de tantas pessoas terem de trabalhar na produ&ccedil;&atilde;o de alimentos. A libera&ccedil;&atilde;o das pessoas da zona rural propiciou a expans&atilde;o da ind&uacute;stria, depois do com&eacute;rcio e dos servi&ccedil;os, e elevou o padr&atilde;o de vida. Mas a tecnologia assusta. Quando a eletricidade sepultou velas e lampi&otilde;es e os autom&oacute;veis enterraram as carro&ccedil;as e as charretes, n&atilde;o faltou quem prenunciasse o fim dos tempos. O desemprego tem outras causas, entre elas a explos&atilde;o demogr&aacute;fica. O mundo tinha 1 bilh&atilde;o de habitantes em 1830; em 100 anos dobrou, e atualmente somos 7,4 bilh&otilde;es; seremos 9,4 bilh&otilde;es daqui a 30 anos. A revolu&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica ser&aacute; a salva&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o a condena&ccedil;&atilde;o.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_jose-pio-martins_ economista-reitor-up_.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Jos&eacute; Pio Martins</i></b>, economista, &eacute; reitor da Universidade Positivo.