Quando vamos efetivamente aceitar os robôs?

04 de junho de 2018 às 08:18

Vinicius Carneiro Maximiliano
Relat&oacute;rio recente do Banco Mundial alerta que, se os trabalhadores do S&eacute;culo 21 pretendem competir com as m&aacute;quinas, &eacute; melhor reduzirem sal&aacute;rios, cortar direitos trabalhistas e tornar custos humanos mais &quot;baratos&quot;. <br /> <br /> Particularmente, sou um dos que o relat&oacute;rio produzido pelo Banco Mundial no dia 20 de abril de 2018, chama de &quot;criadores de cen&aacute;rios catastr&oacute;ficos&quot;. Esse apartado &eacute; importante pois, as opini&otilde;es que expressarei aqui levam em considera&ccedil;&atilde;o essa &quot;pecha&quot; criada pelos estudiosos do Desemprego do S&eacute;culo 21.<br /> <br /> Interessant&iacute;ssimo observar que, gradativamente, &oacute;rg&atilde;o oficiais, que at&eacute; h&aacute; pouco tempo, sinalizavam que existia um exagero sobre a ascens&atilde;o da tecnologia sobre o trabalho humano, comecem a divulgar, em doses homeop&aacute;ticas, novos relat&oacute;rios com an&aacute;lises &quot;j&aacute; n&atilde;o t&atilde;o boas&quot; sobre o futuro do trabalho.<br /> <br /> Continuam a insistir que n&atilde;o precisamos nos preocupar com a tecnologia ascendente na substitui&ccedil;&atilde;o dos trabalhadores humanos e baseiam-se nos estudos de grandes e brilhantes escritores e analistas DO PASSADO, para fundamentar que, apesar de todos os alardes, nada foi como previram esses &quot;catastr&oacute;ficos&quot;. Concordo!<br /> <br /> Realmente, nos s&eacute;culos anteriores, as previs&otilde;es relativas as 3 revolu&ccedil;&otilde;es industriais pareciam exageradas e traziam consigo muito mais um discurso de resist&ecirc;ncia socialista, em contraposi&ccedil;&atilde;o a explora&ccedil;&atilde;o humana pelo capital e o trabalho. Marx, Keynes&hellip; todos &quot;supervalorizaram&quot; os danos, para justificar os preju&iacute;zos. E naquela altura, o recurso aplicado e a ruptura de mercado causada comportavam tais discuss&otilde;es nesse &acirc;mbito. O mundo era menor, a globaliza&ccedil;&atilde;o ainda era um conceito e a conectividade humana muitas vezes n&atilde;o ultrapassava as cartas manuscritas entre as pessoas.<br /> <br /> Ser&aacute; que algo mudou para o mundo de hoje? Ser&aacute; que o trabalho, como o conhecemos, sofreu mudancas impactantes? Sinceramente, tentaremos explicar um fen&ocirc;meno nunca antes vivenciado pela humanidade, sob a &oacute;tica dos estudiosos que igualmente n&atilde;o vivenciaram nossa atual (e dura!) realidade? Em que medida isso agrega valor, esclarece o cen&aacute;rio e alinha o futuro? Olhar para a frente, pelo retrovisor, n&atilde;o parece uma atitude l&oacute;gica&hellip;<br /> <br /> E &eacute; isso que tenho visto! Desde que iniciei uma p&aacute;gina espec&iacute;fica sobre o <a href="http://www.imcgrupo.com/link.php?code=bDpodHRwJTNBJTJGJTJGd3d3LmZhY2Vib29rLmNvbSUyRmRlc2VtcHJlZ280LjA6MjkzOTI0MTQ5NTpqb3JuYWxAbm92b2VzdGUuY29tOjU2MzA0NDJhOTA5Y2M0MWM0MTBjZWE2NjRiNTZiNzFiMDQ=" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>Desemprego no Seculo 21</u></i></span></a>, tenho dedicado algum tempo a refletir e buscar mat&eacute;rias e estudos que possam ajudar o mercado a explicar e a se preparar para esse impacto social. Afinal, desemprego, seja qual for a maneira como ele foi gerado, &eacute; uma quest&atilde;o social! Mas nem sempre compreendem a finalidade.<br /> <br /> Em uma outra oportunidade, tive de esclarecer em um dos posts da p&aacute;gina, que n&atilde;o sou contra os rob&ocirc;s, tampouco sou socialista ou comunista ou o que quiserem me chamar, que defende que tudo precisa ser proibido para que se preservem os empregos. Que era &quot;hipocrisia minha falar de desempregos causados pela tecnologia postando do meu Iphone&quot;&hellip; ledo engano!<br /> <br /> Minha posi&ccedil;&atilde;o &eacute; justamente trazer reflex&otilde;es sobre os impactos da tecnologia no mundo do trabalho e que est&atilde;o acontecendo de forma silenciosa, sem que Governos e Institui&ccedil;&otilde;es se de&ecirc;m conta de que, o agora, &eacute; bem diferente dos escritores e revolucion&aacute;rios dos s&eacute;culos passados.<br /> <br /> Pensar as consequ&ecirc;ncias e malef&iacute;cios que a ado&ccedil;&atilde;o e crescimento desenfreado das tecnologias ter&aacute; sobre o trabalho assalariado &eacute; uma quest&atilde;o de pol&iacute;tica p&uacute;blica!<br /> <br /> N&atilde;o &eacute; &quot;drama, cat&aacute;strofe ou exagero&quot;, &eacute; vida real, entendem? Afinal, querendo ou n&atilde;o, os rob&ocirc;s est&atilde;o ai, chegando e tomando espa&ccedil;o: quando iremos aceitar a realidade? Quando iremos aceit&aacute;-los?<br /> <br /> &Eacute; muito bonito falar sobre os &quot;pequenos&quot; impactos que a robotiza&ccedil;&atilde;o, a I.A. e a automa&ccedil;&atilde;o inteligentes trar&atilde;o ao mercado, para quem esta EMPREGADO. Por&eacute;m, tente vender o mesmo discurso para o pai ou m&atilde;e de fam&iacute;lia que acabou de perder seu emprego porque o &quot;robozinho&quot; novo da f&aacute;brica trabalha 24h por dia e produz o mesmo que 20 trabalhadores ao mesmo tempo, com erro e desperdicio praticamente zero, sem regras trabalhistas ou exig&ecirc;ncias burocr&aacute;ticas insustent&aacute;veis. Apenas a t&iacute;tulo de sugest&atilde;o, assistam um trecho do filme &quot;<a href="http://www.imcgrupo.com/link.php?code=bDpodHRwJTNBJTJGJTJGd3d3LmFkb3JvY2luZW1hLmNvbSUyRmZpbG1lcyUyRmZpbG1lLTUyOTMzJTJGOjI5MzkyNDE0OTU6am9ybmFsQG5vdm9lc3RlLmNvbTphNTA1ZjFjYWYyNzFiNjQxNjRhNGYwYmYwZDFlN2Q5ZWI3" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>A fant&aacute;stica fabrica de chocolate</i></u></span></a>&quot;, quando o pai do protagonista &eacute; substitu&iacute;do na coloca&ccedil;&atilde;o de tampas de pasta de dentes&hellip;<br /> <br /> Na vida real, os rob&ocirc;s j&aacute; est&atilde;o tomando conta dos trabalhos.<br /> <br /> As evid&ecirc;ncias est&atilde;o ai&hellip; s&oacute; n&atilde;o estamos prestando aten&ccedil;&atilde;o nelas porque o ganho de agilidade, conectividade e conveni&ecirc;ncia est&atilde;o enchendo os olhos do mercado, mas basta olhar em volta. Bancos est&atilde;o se desintegrando fisicamente, demitindo milhares de pessoas. F&aacute;bricas automotivas, que j&aacute; foram a locomotiva de gera&ccedil;&atilde;o de empregos mundo afora, demitem e reduzem a cada ano, enquanto mant&ecirc;m a produ&ccedil;&atilde;o e a melhoria cont&iacute;nua dos carros. Call centers praticamente se tornaram uma salinha com um super servidor com assistentes virtuais e &quot;bots&quot; que respondem a praticamente tudo!<br /> <br /> E isso &eacute; s&oacute; o come&ccedil;o! Eu sou um entusiasta da intelig&ecirc;ncia artificial e tenho visto projetos que v&atilde;o do maravilhoso ao estarrecedor! N&atilde;o sou um pesquisador, sou apenas um curioso! Mas existem estudos para otimizar praticamente TUDO que fazemos em forma de trabalho hoje (pelo menos da forma como o conhecemos). Alguns estudos ainda mais embrion&aacute;rios, mas que na teoria da evolu&ccedil;&atilde;o dos sistemas e algoritmos, ser&atilde;o poss&iacute;veis em pouqu&iacute;ssimo tempo. A China tem demonstrado que, um bom banco de dados, um governo autorit&aacute;rio e sistemas de intelig&ecirc;ncia artificial, podem ser utilizados para controlar uma sociedade de maneira muito mais eficaz do que por leis antiquadas.<br /> <br /> Algumas coisas me causam tanta preocupa&ccedil;&atilde;o, que sempre compartilho reportagens que mostram setores de mercado que est&atilde;o desenvolvendo tecnologias para que n&atilde;o dependam de m&atilde;o-de-obra humana direta. E isso &eacute; fato, n&atilde;o &eacute; estudo te&oacute;rico! N&atilde;o &eacute; alarde, &eacute; evid&ecirc;ncia! Porque resistimos tanto em aceitar que a vida real passa pela aceitac&atilde;o dos nossos novos parceiros de trabalho?<br /> <br /> Vejo em v&aacute;rios eventos que participo, dezenas de palestrantes dizendo que o n&uacute;mero de empregos que SER&Atilde;O (sim, no futuro do presente do indicativo!) gerados pelas tecnologias e rob&oacute;ticas vindouras, ser&atilde;o maiores do que o desemprego causado. Um discurso bastante parecido com esse do Banco Mundial, de que com o tempo, tudo se ajeita! E tenho sempre aproveitado o gancho para question&aacute;-los das evid&ecirc;ncias, dados e an&aacute;lises que fundamentam isso. Em sua maioria, deixam a pergunta em aberto&hellip; ou se remetem, novamente, aos cr&iacute;ticos da evolu&ccedil;&atilde;o das maquinas do passado&hellip;<br /> <br /> Esse &uacute;ltimo relat&oacute;rio do Banco Mundial &eacute; um alerta velado, mas um alerta!<br /> <br /> Talvez por politica interna eles n&atilde;o possam ou n&atilde;o devam criar alarde, mas na pr&aacute;tica, dizer que &quot;&eacute; melhor reduzir sal&aacute;rios para que os trabalhadores possam competir com as maquinas&quot;&hellip; meu amigo, tem coelho nesse mato! E uma institui&ccedil;&atilde;o da envergadura do Banco Mundial tem sim o potencial de causar preocupa&ccedil;&atilde;o em governos do mundo todo. Afinal, voc&ecirc;, ai na sua vida, no seu dia a dia, tem visto alguma pol&iacute;tica p&uacute;blica, ou algu&eacute;m da estrutura estatal, apresentando projetos ou falando como vai lidar com essa quest&atilde;o?<br /> <br /> Todos sabemos em s&atilde; consci&ecirc;ncia que n&atilde;o podemos COMPETIR com m&aacute;quinas. Temos sim de nos UNIR a elas&hellip; mas disputar espa&ccedil;o&hellip; &eacute; entrar em campo j&aacute; com 7x1 no placar inicial contra! E mais: o desemprego atual j&aacute; est&aacute; praticamente imposs&iacute;vel de ser revertido, n&atilde;o s&oacute; no Brasil como no mundo todo. Aqui, o &iacute;ndice entre 12 e 13 milh&otilde;es praticamente ja integrou as estat&iacute;sticas&hellip; e ninguem sabe como resolver, a verdade &eacute; essa! As poss&iacute;veis solu&ccedil;&otilde;es s&atilde;o as de sempre: aquecer a economia para gerar empregos&hellip; s&oacute; que ningu&eacute;m diz COMO.<br /> <br /> Pol&iacute;ticas educacionais que criem capacita&ccedil;&atilde;o de curto prazo, em habilidades espec&iacute;ficas e de treinamento de m&aacute;quina (sim, podemos ser bons &quot;treinadores&quot; para rob&ocirc;s!) seriam bem vindas. Mas para isso, os atuais gestores teriam que se preocupar menos em dar benef&iacute;cios sociais, aceitar o fato de que o desemprego &eacute; end&ecirc;mico e preparar as pessoas para o mundo real que nos aguarda, e que est&aacute; bem perto.<br /> <br /> Querendo ou n&atilde;o, s&oacute; na educa&ccedil;&atilde;o estruturada poderemos encontrar algum alento a essa dura realidade e tornar, a&iacute; sim, seus impactos menores. Fora isso, ao menos diante dos estudos que tenho visto at&eacute; hoje, continuamos olhando o cen&aacute;rio com &quot;romantismo&quot; exagerado, ancorando nossa seguran&ccedil;a nos erros de previs&otilde;es do passado&hellip; e um passado bem diferente da nossa atual realidade.<br /> <br /> &Eacute; mais ou menos assim: eu n&atilde;o acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!<br /> <br /> <b><i>Vinicius Carneiro Maximiliano</i></b> &eacute; advogado corporativo e gestor cont&aacute;bil. Autor do livro &quot;Dinheiro na Multid&atilde;o&quot; &ndash; Oportunidades x Burocracia no Crowdfunding Nacional&quot;, obra em que analisa o mercado de financiamento coletivo no Brasil e as quest&otilde;es fiscais e burocr&aacute;ticas que podem impactar esse segmento de mercado.