O Agro não é pop
07 de junho de 2018 às 08:15
João Rosa
O slogan “<b><i>Agro é tech, agro é pop, agro é tudo</i></b>” sem dúvida é a marca da belíssima campanha de marketing “<b>Agro: a Indústria-Riqueza do Brasil</b>” promovida pela Rede Globo em rede nacional. O objetivo da campanha é conectar o consumidor com o produtor rural e desmistificar alguns mitos em torno do agronegócio.<br />
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A afirmativa integral da mensagem, entretanto, é questionável. O agronegócio realmente é “<b>tech</b>”, com tecnologia de ponta empregada em diversos elos da cadeia produtiva, desde o desenvolvimento de cultivares até a comercialização do produto final. E a modernização é crescente. O agronegócio também é “<b>tudo</b>”, indo muito além de “<b>simplesmente</b>” alimentos. Basta assistir aos episódios da campanha para constatar a modernização das cadeias produtivas e pluralidade de produtos e subprodutos provenientes da produção.<br />
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Agora, se tem uma coisa que o agronegócio não é, é “<b>pop</b>”. “<b>Pop</b>”, segundo o dicionário, vem de “<b>popular</b>”, trazendo uma conotação informal de “<b>descolado</b>”, “<b>na moda</b>” e muitos outros termos que remetem a algo legal. Uma expressão vinculada ao mundo dos famosos.<br />
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Definitivamente, o agro não é “<b>pop</b>”. Longe disso, preconceito e desconfiança, esses sim são termos carregados pelo nosso setor – pelo menos em um primeiro momento – para grande parte da população. E não me restrinjo apenas ao Brasil, me refiro ao mundo. E não é para menos. Informações sem fundamento, incompletas, norteadas por ideologismos, algumas, inclusive, cerceadas por interesses terceiros, são as que mais atingem a população e, evidentemente, geram dúvidas e indignação. E as celebridades, já que estamos tratando do universo “<b>pop</b>”, têm boa responsabilidade nessa história, dado seu potencial de capilaridade e inspiração alheia. Na era digital, atingir e influenciar milhões de seguidores é tarefa fácil para alguns.<br />
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Talvez o exemplo mais recente que temos concerne sobre o Projeto de Lei 6299/2002, apelidada carinhosamente de “<b>Lei dos Agrotóxicos</b>” ou “<b>PL do Veneno</b>”. Um dos objetivos da proposta é agilizar o processo de registro – hoje leva entre 8 e 10 anos – de novos produtos, estes mais modernos e que irão substituir as formulações atuais. Com isso vai junto o fato/indignação de que os agricultores brasileiros utilizam defensivos em desuso no exterior. Nestes outros países, o registro é bem mais ágil – Estados Unidos e Austrália levam menos de 3 anos – por isso o descompasso da permissão quanto a utilização das formulações.<br />
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Mas não é isso que prega o post “<b>diga não à PL do veneno</b>”, ilustrado com uma caveira preenchida por alimentos e compartilhado no Instagram por celebridades como: Gisele Bundchen (+14,6), Mateus Solano (+1,7), Paola Carosella (+1,4), Leticia Spiller (+2,3), Luana Piovani (+2,1) e muitos outros. O número entre parênteses refere-se aos milhões de seguidores de cada famoso. Analisando os textos anexados às postagens, dentre tantos argumentos sem fundamento ou respaldo técnico/científico, uma mensagem é comum: que a principal proposta da nova lei é liberar novos produtos e, consequentemente, aumentar o uso de agrotóxicos, resultando “<b>em mais veneno na nossa comida</b>”. Pelo contrário, a liberação de novas formulações visa, sobretudo, reduzir a quantidade de defensivos utilizados, afinal os novos produtos são mais eficientes.<br />
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Em tempos de conectividade, alguns questionamentos ficam: qual informação viraliza e chega ao conhecimento dos consumidores? A dos famosos (com um conhecimento técnico profundo, diga-se de passagem) ou de indivíduos como eu (+5,3), Nicholas Vital (+1) e outros poucos do meio que se manifestam a respeito? O número entre parênteses refere-se aos nossos seguidores no Linkedin (não temos Instagram) e estão na casa do mil.<br />
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Aliás, você conhece algum famoso que se engaja e faz campanha pelos produtores rurais ou pelo agronegócio? Não me refiro a uma marca, ou produto específico, mas sim ao conceito da atividade. Agora na Copa do Mundo de 2018, você conseguiria imaginar um jogador da seleção brasileira com a camisa de baixo do uniforme (a ser retirado ao final do jogo para não levar cartão amarelo) com uma mensagem como “<b>#agro</b>” ou “<b>#somostodosprodutoresrurais</b>” estampada?<br />
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Sem dúvidas, o agro não é “<b>pop</b>”. E nem precisamos ser. Utilizando um gancho do Mauricio Nogueira em artigo do Valor Econômico (26/02/2018): “<b>O agro não precisa ser “pop”, o agro precisa ser o que é, sem que tenha que destinar tempo e recursos para se defender de ataques construídos por grupos de interesse</b>”. Não precisamos de pessoas, jogador de futebol, famosos, celebridades, o que for, que joguem a favor. O que precisamos é de indivíduos que não joguem contra sem estar munido de informações técnicas. Precisamos de ciência, imparcialidade. Apenas ideologia e modismo não basta.<br />
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Nesse contexto, o que fica evidente é a necessidade de melhorar a comunicação do agronegócio. Fazemos muito bem o que fazemos, mas nos comunicamos muito mal. A belíssima campanha da indústria-riqueza do Brasil foi um marco para o marketing do setor. Mas talvez a maior preocupação esteja na continuidade e capilaridade das ações. Precisamos reforçar de forma ininterrupta a pujança e imagem de uma atividade que tanto contribui para o país, em diversos elos. Como colocado pelo emblemático Nizan Guanaes em uma palestra que tive oportunidade de assistir: “<b>Marketing é igual corrida. Não adianta falar que vai correr e correr uma vez por ano. Chega até a ser perigoso. A atividade deve ser sistemática para que colham bons frutos</b>”.<br />
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<i><b>João Rosa,</b></i> professor do Pecege