Quem ganha com o lucro dos bancos, além dos bancos?
22 de junho de 2018 às 15:03
Clemente Ganz Lúcio
Desde 2014, a economia brasileira enfrenta recessão, com sérios impactos sobre o mercado de trabalho: elevação do desemprego, crescimento da informalidade e redução dos salários. Para piorar, a lei da terceirização, aprovada em março, e a reforma trabalhista, em vigor desde novembro, permitiram a precarização do trabalho. Na outra ponta, as altas taxas de juros, mesmo em queda, em nenhum momento, estimularam o crédito e o investimento produtivo. Neste cenário, os lucros dos cinco maiores bancos do Brasil, mais uma vez, bateram recordes em 2017. Itaú Unibanco, Bradesco, Caixa Econômica, Banco do Brasil e Santander somaram lucro de R$ 77,4 bilhões, 33,5% a mais do que em 2016.<br />
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Esses resultados se devem, entre outros fatores, à elevação das receitas com tarifas e serviços e, especialmente, à queda nas despesas de captação, que acompanharam o movimento de redução da taxa básica de juros (Selic). Também caíram as despesas com impostos (IR e CSLL), em parte devido à entrada de créditos tributários, mas também em função de resultados inferiores em termos operacionais e da intermediação financeira, conforme pode ser observado no estudo Desempenho dos Bancos, divulgado pelo DIEESE em maio e disponível no site da entidade (www.dieese.org.br).<br />
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Nada a se comemorar, uma vez que, mesmo com todos os ganhos, os bancos fecharam muitos postos de trabalho e implantaram tecnologia intensiva em capital, abrindo mão de boa parte do trabalho humano. Em 2017, Bradesco, Banco do Brasil, Itaú e Caixa, juntos, fecharam 1.315 agências bancárias. Com relação ao emprego no setor, desde 2012, cai continuamente o número de trabalhadores. Entre dezembro de 2016 e dezembro de 2017, o total de empregados nas cinco maiores instituições financeiras passou de 432.644 para 418.564 pessoas. Isso significou, que, em média, 1.000 trabalhadores foram demitidos por mês, anualmente.<br />
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Isso sem falar na rotatividade dos empregos no setor, usada para baratear o custo do trabalho, com empregados sendo admitidos por salários inferiores aos dos demitidos.<br />
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E para quem vai esse lucro todos dos bancos? Quem ganha com esse resultado? Com certeza, não é a maioria da sociedade brasileira. Além de jogar para a mão dos clientes a realização de serviços antes feitos pelos trabalhadores do setor, cobrar tarifas e enxugar custos, os bancos fazem com que uma parcela pequena de acionistas se aproprie de um dinheiro que não se materializa em investimentos produtivos, empregos e desenvolvimento. Apesar do expressivo aumento nos lucros, os cinco maiores bancos do país fizeram o desserviço de aumentar a taxa de desemprego mensal, contribuindo para redução da massa salarial.<br />
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Clemente Ganz Lúcio</b></i> é Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e do Grupo Reindustrialização