A carne mais barata do mercado é a carne negra

22 de junho de 2018 às 16:15

Newton de Oliveira
Os n&uacute;meros apresentados pelo Atlas da Viol&ecirc;ncia de 2018 mostram a agudiza&ccedil;&atilde;o nas tend&ecirc;ncias do perfil de assassinatos cometidos no Brasil: a v&iacute;tima &eacute; de cor negra,pobre, jovem e e do sexo masculino. Isso vem corroborar as s&eacute;ries estat&iacute;sticas acerca do genoc&iacute;dio negro provocado pelas pol&iacute;ticas de seguran&ccedil;a p&uacute;blicas equivocadas, que fazem com que o combate a criminalidade se transforme em uma guerra aos pobres e esses pobres s&atilde;o homens jovens negros.<br /> <br /> O perfil dos vitimizados reflete a hist&oacute;rica desigualdade social brasileira. E o aumento dos n&uacute;meros tem como fator incrementador a crise brasileira que n&atilde;o s&oacute; estancou o processo d&eacute;bil mas positivo de ascens&atilde;o social e inclus&atilde;o que vinha ocorrendo no Brasil, como ao contr&aacute;rio, ao longo dos &uacute;ltimos dois anos ocorreu e ocorre uma regress&atilde;o nas pol&iacute;ticas p&uacute;blicas de combate &agrave; pobreza e os negros s&atilde;o os mais afetados por comporem a maioria dos pobres.<br /> <br /> De outro lado a heran&ccedil;a belicista de comando da seguran&ccedil;a p&uacute;blica tem como exemplo a interven&ccedil;&atilde;o federal militar no Rio de Janeiro. Seu insucesso absoluto e relativo com o aumento dos &iacute;ndices de criminalidade, de letalidade da a&ccedil;&atilde;o policial e relativo com a incapacidade de elucida&ccedil;&atilde;o do assassinato da vereadora Marielle e seu Motorista Anderson, s&atilde;o o exemplo cabal dessa op&ccedil;&atilde;o fracassada.<br /> <br /> Por sua vez a clivagem racial faz com que os n&uacute;meros de mortes de brancos sejam compar&aacute;veis ao dos pa&iacute;ses desenvolvidos e o dos negros esteja no patamar dos pa&iacute;ses mais violentos do planeta.<br /> <br /> Al&eacute;m dos fatores elencados n&atilde;o se deve desconsiderar os &quot;dem&ocirc;nios&quot; libertos pela crise brasileira que, a partir dos protestos de 2013 culminaram com a deposi&ccedil;&atilde;o da presidente da rep&uacute;blica, e trouxeram &agrave; tona no pa&iacute;s vozes do rancor e preconceito que afetadas pelas transforma&ccedil;&otilde;es promovidas pela ascens&atilde;o social, clamaram pelo retorno a antiga ordem em que os negros e pobres &quot;sabiam o seu lugar&quot;.<br /> <br /> Esse discurso encontrou eco nas estruturas das institui&ccedil;&otilde;es policiais e n&atilde;o se deve desconsiderar essa dimens&atilde;o sociol&oacute;gica desses n&uacute;meros. Eles corroboram os versos cantados por Elza Soares: &quot;a carne mais barata do Mercado &eacute; a carne negra&quot;<br /> <br /> <b><i>Newton de Oliveira </i></b>&eacute; professor de Direito do Mackenzie Rio e ex-subsecret&aacute;rio geral de seguran&ccedil;a do RJ.