Punir os culpados, salvar as empresas

05 de julho de 2018 às 09:41

José Pio Martins
O terremoto moral e jur&iacute;dico que se abateu sobre o grupo de empresas da fam&iacute;lia de Joesley e Wesley Batista, com a Holding J&amp;F e as unidades industriais da JBS &agrave; frente, levanta uma importante quest&atilde;o: qual tratamento deve ser dado pelas leis aos empres&aacute;rios e &agrave;s empresas? Trata-se de empres&aacute;rios que cometeram crimes e de um grupo de empresas que operam em v&aacute;rios pa&iacute;ses e t&ecirc;m, em seus v&aacute;rios ramos de atividade, 235 mil empregados em toda a cadeia produtiva. A resposta &agrave; pergunta proposta depende de entender a distin&ccedil;&atilde;o entre as pessoas f&iacute;sicas dos controladores e a pessoa jur&iacute;dica das empresas.<br /> <br /> H&aacute; algum tempo, virou moda falar em &ldquo;&eacute;tica empresarial&rdquo;, como se a empresa em si fosse um ente humano com capacidade de pensamento e discernimento, quando &eacute; um sistema composto de bens de capital (terrenos, pr&eacute;dios, m&aacute;quinas, equipamentos etc.), que contrata empregados, compra mat&eacute;rias primas e produz bens e servi&ccedil;os. Como organismo, a empresa &eacute; um ente moralmente neutro, pois &eacute; um sistema material, sem vontade pr&oacute;pria, montado e dirigido por pessoas. A empresa adquire vida no mundo jur&iacute;dico e econ&ocirc;mico, obt&eacute;m registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jur&iacute;dicas (CNPJ) e executa atos econ&ocirc;micos e neg&oacute;cios jur&iacute;dicos diversos, mas sempre sob o mando de algu&eacute;m.<br /> <br /> A empresa em si n&atilde;o toma decis&otilde;es; ela executa as decis&otilde;es tomadas por seus s&oacute;cios e dirigentes. Como ente material, a empresa n&atilde;o &eacute; &eacute;tica, a&eacute;tica ou anti&eacute;tica. As pessoas s&atilde;o. &Eacute;tica &eacute; uma virtude essencialmente e exclusivamente humana. O animal homem &eacute; o &uacute;nico capaz de pensar, discernir, decidir e agir conforme um c&oacute;digo de conduta baseado no certo ou errado, legal ou ilegal, bem ou mal. Os animais irracionais n&atilde;o agem assim, pois eles n&atilde;o t&ecirc;m capacidade de raciocinar, discernir e decidir entre uma a&ccedil;&atilde;o e outra com base em aspectos &eacute;ticos, morais, religiosos ou jur&iacute;dicos.<br /> <br /> A empresa tem importante fun&ccedil;&atilde;o social pelo fato de produzir bens e servi&ccedil;os, empregar pessoas, pagar impostos e satisfazer necessidades de consumidores. A propriedade que &eacute; empregada para praticar tais atos torna-se empresa e &eacute; a mais importante institui&ccedil;&atilde;o dentro do sistema econ&ocirc;mico. A legisla&ccedil;&atilde;o deve, portanto, submeter a empresa a um conjunto de normas e obriga&ccedil;&otilde;es consubstanciadas nas leis comerciais, tribut&aacute;rias, trabalhistas, ambientais e outras, cabendo aos respons&aacute;veis pela gest&atilde;o e opera&ccedil;&atilde;o da empresa a obriga&ccedil;&atilde;o de garantir a legalidade do que ela faz sob suas ordens e seus atos de ger&ecirc;ncia.<br /> <br /> Nesse sentido, &eacute; do interesse da na&ccedil;&atilde;o que, quando irregularidades e crimes ocorrem no interior de uma empresa, os autores sejam punidos por seus atos e a empresa seja preservada. Os culpados, ap&oacute;s o devido processo legal, devem ser afastados, despojados de seu patrim&ocirc;nio e presos, e a gest&atilde;o da empresa deve ser entregue a outros dirigentes e controladores a fim de seguir sua fun&ccedil;&atilde;o sem os v&iacute;cios dos antigos donos. A quest&atilde;o &eacute; saber se as leis brasileiras s&atilde;o eficientes para promover um processo justo e r&aacute;pido de apura&ccedil;&atilde;o e puni&ccedil;&atilde;o dos culpados e, ao mesmo tempo, salvar a empresa e coloc&aacute;-la sob a dire&ccedil;&atilde;o de gestores qualificados.<br /> <br /> Essa discuss&atilde;o n&atilde;o se restringe ao Brasil. Pelo contr&aacute;rio, vem figurando nos debates em v&aacute;rios pa&iacute;ses onde prevalece o capitalismo. Como sistema econ&ocirc;mico, o capitalismo &eacute; baseado na propriedade privada do capital, organiza&ccedil;&atilde;o empresarial da produ&ccedil;&atilde;o e trabalho assalariado. Repetindo: mesmo com seus defeitos, esse ainda &eacute; o melhor sistema para promover o progresso material e, por consequ&ecirc;ncia, o desenvolvimento social.<br /> <b>&nbsp;<br /> </b><b><img src="/uploads/image/artigos_jose-pio-martins_ economista-reitor-up_.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Jos&eacute; Pio Martins</b>, economista e reitor da Universidade Positivo.