O papel do educador diante da inversão de valores
05 de julho de 2018 às 09:43
Luis Antonio Namura Poblacion
Educar tem sido missão cada vez mais difícil nos dias atuais. Não só pelos muitos recursos digitais e tecnológicos que parecem ‘roubar’ a infância das crianças, como pelos comportamentos expostos na mídia e em redes sociais que as hipnotizam com conteúdos que estimulam o consumismo, o desperdício e as ‘trolagens’ entre as pessoas. O mundo virtual vem progressivamente confundindo seus limites com os do mundo real no cotidiano de crianças e adolescentes. O celular e a internet têm mudado a forma de se relacionar com a família, os amigos e os professores. Como convencer uma criança de 5, 6 anos, por exemplo, de que determinado comportamento é errado quando ela assiste na internet adultos adotando o mesmo comportamento como se fosse algo legal? E, pior, o tal ‘adulto’ ainda é idolatrado e muitas vezes detém boa posição social. <br />
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Essa inversão de valores chega às escolas, interfere diretamente no comportamento das crianças em sala de aula e, consequentemente, na relação que esse aluno tem com os demais colegas e com seus educadores. O professor, que detém autoridade, vem enfrentando cada vez mais dificuldades para impor disciplina e respeito e começa a lidar com sérios problemas, como o aumento da agressividade infantil, a transgressão de regras e a violação dos direitos alheios, entre outras questões. Diante de tal situação, como o professor deve agir para evitar a disseminação de atitudes agressivas e sem limites, passando do âmbito individual de cada aluno para o coletivo? <br />
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É verdade que sempre houve situações-problema envolvendo alunos em sala de aula, mas a questão vem tomando dimensões assustadoras. Primeiro, é preciso entender o porquê de tais comportamentos. A mídia e as redes sociais são parte do problema, mas eles podem ter origem também na falta ou fragilidade de referências morais e afeto, transtornos familiares como violência doméstica ou dificuldade dos cuidadores em estabelecer limites e regras; além de conflitos emocionais, barreiras sócio-econômicas ou até distúrbios cognitivos ou mentais. Por isso, a forma como o educador lida com os conflitos tem papel crucial na formação emocional da criança e do adolescente. Se o professor grita, bate-boca ou resolve as adversidades de forma agressiva, o aluno tende a reproduzir tais atitudes. Não é deste modo que ele exercerá a sua autoridade. Não mais. <br />
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Mas, diante da multiplicidade de causas e consequências, é insensato buscar receitas mágicas. O que deve ser buscado gradualmente é a construção e o fortalecimento da confiança e do respeito por meio do diálogo. É difícil? Muito! No entanto, é preciso se aproximar do aluno, adotando uma postura calma, porém assertiva, dando a ele a possibilidade de expressar seus sentimentos, seus problemas e falar sobre seus atos. Não ignore o que a criança sente ou o que desencadeou aquela atitude agressiva ou desrespeitosa. Estimular o diálogo é dar a ela a oportunidade de se explicar e se retratar, sempre valorizando seus esforços positivos, como manifestações de afeto e senso de responsabilidade; e potencializando a autoestima que o encoraja a superar barreiras. Os debates em grupo também têm seu valor. Promover atividades e brincadeiras criativas que permitam a interação e a reflexão em torno de situações e comportamentos também ajudam a desenvolver a consciência do coletivo sobre limites e boas condutas, além de promover o envolvimento das crianças e jovens na construção de soluções. <br />
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A relação escola-família também é de suma importância. De nada adianta a escola reunir esforços para ‘civilizar’ uma criança se a família não trilhar o mesmo caminho. Por isso, todos os esforços devem ser feitos para aproximar a escola dos pais, a fim de que todos os problemas envolvendo o aluno possam ser debatidos em conjunto na busca de melhorias, não só do desempenho escolar, mas também em torno de comportamentos e hábitos, para que se construa assim a inteligência emocional tão necessária ao convívio em sociedade.<br />
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Os educadores têm uma missão importantíssima e fundamental na construção de um mundo mais solidário. Não só em casa, mas também na escola, se aprendem valores, por meio da convivência entre as crianças – já tão diferentes entre si –, e os adultos. É preciso valorizar a atuação do professor enquanto agente transformador, peça indispensável no desenvolvimento emocional e cognitivo dos alunos. Para tal, é necessário que a Escola e o Poder Público se comprometam a dar a eles condições adequadas de trabalho para que a complexidade de sua profissão e os desafios a que são submetidos diariamente não desmotivem esses educadores no pleno desenvolvimento do processo educativo. <br />
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<b><i>Luis Antonio Namura Poblacion</i></b> é Presidente da Planneta (www.planneta.com.br); Engenheiro Eletrônico pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica; com especialização em Marketing e Administração de Empresas e MBA em Franchising pela Louisiana State University e Hamburguer University – Mc Donald´s. Atua na área de educação há mais de 35 anos.<br />