Um país em crise existencial

09 de julho de 2018 às 14:43

José Pio Martins
A ideia de que tudo se resolve no Estado teve sua express&atilde;o m&aacute;xima na Constitui&ccedil;&atilde;o brasileira de 1967, no artigo 158, inciso XIX, que assegurava aos brasileiros &ldquo;col&ocirc;nia de f&eacute;rias e cl&iacute;nicas de repouso&rdquo;. A partir de Karl Marx, cresceu a legi&atilde;o de intelectuais, pensadores e pol&iacute;ticos, na direita e na esquerda, dedicados a convencer a sociedade de que para cada problema individual h&aacute; sempre uma solu&ccedil;&atilde;o estatal.<br /> <br /> A social-democracia, que se propunha ser uma terceira via entre socialismo e capitalismo, foi respons&aacute;vel pelo crescimento do setor p&uacute;blico e pelo aumento da tributa&ccedil;&atilde;o. A ess&ecirc;ncia dessa ideia &eacute; que o sistema produtivo deve ser capitalista, com base na propriedade privada, na organiza&ccedil;&atilde;o empresarial da produ&ccedil;&atilde;o e no trabalho assalariado, mas com governo grande, tributa&ccedil;&atilde;o pesada e programas de transfer&ecirc;ncia de renda via servi&ccedil;os p&uacute;blicos. Os social-democratas se inspiraram em Marx para dizer que o problema da produ&ccedil;&atilde;o j&aacute; estava resolvido e tudo se resumia a ter um bom sistema de distribui&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Os defensores desse modelo n&atilde;o entenderam duas coisas. A primeira, que Marx n&atilde;o estava pensando na pobre R&uacute;ssia czarista quando prop&ocirc;s o socialismo, mas na Inglaterra, um pa&iacute;s com desenvolvido capitalismo industrial sob um regime liberal. Marx disse, em A Ideologia Alem&atilde;, que enquanto n&atilde;o houver aumento da produtividade capaz de gerar abund&acirc;ncia, a briga pela redistribui&ccedil;&atilde;o ser&aacute; apenas uma briga pela &ldquo;die alte Scheisse&rdquo; (a velha merda).<br /> <br /> Ajudados pela grande depress&atilde;o econ&ocirc;mica dos anos 1930, que reduziu o produto mundial e lan&ccedil;ou milh&otilde;es no desemprego, os adeptos do crescimento do Estado tiveram a oportunidade de promover a expans&atilde;o desmedida da m&aacute;quina p&uacute;blica. Por&eacute;m, cinco d&eacute;cadas depois, o gigantismo estatal gerou subprodutos perversos: carga tribut&aacute;ria pesada, inefici&ecirc;ncia governamental, inibi&ccedil;&atilde;o do investimento privado, casta de funcion&aacute;rios p&uacute;blicos de altos sal&aacute;rios, privil&eacute;gios para os tripulantes da m&aacute;quina oficial, d&eacute;ficits fiscais, elevadas d&iacute;vidas p&uacute;blicas e muita corrup&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Conquanto o governo seja necess&aacute;rio e tenha suas fun&ccedil;&otilde;es, o gigantismo estatal e o excesso de interven&ccedil;&atilde;o na vida das pessoas passaram a produzir a doen&ccedil;a que vieram para curar, al&eacute;m de disseminarem uma danosa consequ&ecirc;ncia de natureza cultural: a cren&ccedil;a de que a solu&ccedil;&atilde;o de todos os males sociais e individuais est&aacute; no Estado. Na Am&eacute;rica Latina, os pol&iacute;ticos populistas e demagogos cresceram na esteira da cultura da depend&ecirc;ncia, que se tornou a marca de grande parte da popula&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> O alem&atilde;o desempregado de Ansbach, afora o aspecto hil&aacute;rio e jocoso de sua a&ccedil;&atilde;o, apenas exp&ocirc;s o reflexo da cren&ccedil;a de que o bem-estar &eacute; direito de todos e dever do Estado. N&atilde;o se trata de ser contra redes de prote&ccedil;&atilde;o social, mas &eacute; justamente para bem cumprir esse papel que o Estado n&atilde;o pode ser inchado, perdul&aacute;rio, endividado e excessivamente tributador. O caso do Brasil hoje &eacute; not&oacute;rio: o maior obst&aacute;culo ao crescimento econ&ocirc;mico &eacute; o setor p&uacute;blico, inchado, ineficiente, endividado e corrupto.<br /> <br /> A redu&ccedil;&atilde;o da pobreza depende da cria&ccedil;&atilde;o de riqueza, tarefa da sociedade e do sistema produtivo privado.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_jose-pio-martins_%20economista-reitor-up_.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Jos&eacute; Pio Martins</i></b> &eacute; economista e reitor da Universidade Positivo (UP).