A hora da bastilha

12 de julho de 2018 às 14:04

Valter Pomar
<div style="text-align: center;"><img src="/uploads/image/img_brasil-247_a-hora-da-bastilha.jpg" width="450" height="265" align="middle" alt="" /></div> <br /> Durante a manh&atilde;, a tarde e o in&iacute;cio da noite do dia 8 de julho de 2018, a Pol&iacute;cia Federal recusou-se a cumprir imediatamente uma ordem judicial que determinava a soltura do presidente Lula.<br /> <br /> A desobedi&ecirc;ncia da Pol&iacute;cia Federal tinha como objetivo criar as condi&ccedil;&otilde;es para anular o habeas corpus obtido por Lula.<br /> <br /> O habeas corpus fora concedido pelo desembargador Rog&eacute;rio Favreto, que no final-de-semana de 7 e 8 de julho era respons&aacute;vel pelo plant&atilde;o do Tribunal Regional Federal da 4&ordf; Regi&atilde;o (TRF4).<br /> <br /> Ao n&atilde;o cumprir imediatamente a ordem de soltura, a Pol&iacute;cia Federal manteve o presidente Lula sequestrado por v&aacute;rias horas, sequestro respaldado pelo ministro da Seguran&ccedil;a P&uacute;blica Raul Jungmann e apoiado pelo oligop&oacute;lio da comunica&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> A primeira tentativa de anular o habeas corpus partiu do juiz S&eacute;rgio Moro, que a imprensa noticiou estar de f&eacute;rias e fora do pa&iacute;s.<br /> <br /> A segunda tentativa partiu do desembargador Gebran Neto, relator do processo contra Lula no TRF4.<br /> <br /> Contra estas duas tentativas, o desembargador Rog&eacute;rio Favreto reafirmou sua decis&atilde;o.<br /> <br /> No final do dia 8 de julho, o desembargador presidente do Tribunal Regional Federal da 4&ordf; Regi&atilde;o (TRF4), Carlos Eduardo Thompson Flores, determinou que o presidente Lula deveria continuar preso.<br /> <br /> O descumprimento da ordem de soltura por parte da Pol&iacute;cia e a anula&ccedil;&atilde;o do habeas corpus --sem respeitar nem os ritos, nem os escr&uacute;pulos -- n&atilde;o devem surpreender ningu&eacute;m: golpistas s&atilde;o golpistas!<br /> <br /> Portanto, aplicam o &quot;estado de direito&quot; quando lhes conv&eacute;m, reservando aos seus inimigos o &quot;estado da direita&quot;.<br /> <br /> E por qual motivo n&atilde;o cumpriram os ritos?<br /> <br /> Porque respeitar os ritos, seguir os procedimentos, implementar o devido processo legal, implicaria em aceitar que o presidente Lula passasse pelo menos algumas horas, talvez alguns dias, fora da cadeia.<br /> <br /> Essa possibilidade atemoriza os golpistas mais do que qualquer outra coisa.<br /> <br /> Porque Lula livre conduz a Lula candidato, Lula candidato conduz a Lula presidente, Lula presidente conduz &agrave; derrota do golpe.<br /> <br /> Note-se que o habeas corpus foi concedido em resposta ao seguinte fato: o presidente Lula n&atilde;o teve seus direitos pol&iacute;ticos cassados, &eacute; pr&eacute;-candidato &agrave; presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica e est&aacute; sendo impedido de participar das atividades da pr&eacute;-campanha.<br /> <br /> A ju&iacute;za respons&aacute;vel pela execu&ccedil;&atilde;o da pena recebeu v&aacute;rios pedidos, por parte da defesa do presidente, para garantir por exemplo o direito de Lula conceder entrevistas aos meios de comunica&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Como a ju&iacute;za n&atilde;o respondeu a estes pedidos, tr&ecirc;s parlamentares federais impetraram um habeas corpus junto ao TRF4. E o desembargador Rog&eacute;rio Favreto acolheu o habeas corpus.<br /> <br /> Ou seja: a decis&atilde;o do desembargador parte do princ&iacute;pio que Lula pode ser candidato.<br /> <br /> Fica &oacute;bvio, portanto, o motivo pelo qual a soltura de Lula, por este motivo em particular, era algo absolutamente intrag&aacute;vel para o golpismo.<br /> <br /> A decis&atilde;o do desembargador Rogerio Favreto pode ser lida neste endere&ccedil;o.<br /> <br /> endere&ccedil;o<br /> https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2018/07/08/interna_politica,972010/leia-na-integra-a-decisao-do-desembargador-que-concedeu-o-habeas-corpu.shtml<br /> <br /> A decis&atilde;o do desembargador &eacute; uma li&ccedil;&atilde;o para todos os integrantes do poder judici&aacute;rio que discordam do &quot;Estado de exce&ccedil;&atilde;o&quot;: decis&otilde;es individuais e monocr&aacute;ticas, mesmo que venham a ser desacatadas e revertidas pela quadrilha golpista, cumprem um papel importante na conscientiza&ccedil;&atilde;o e mobiliza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica.<br /> <br /> A decis&atilde;o do desembargador &eacute;, tamb&eacute;m, uma li&ccedil;&atilde;o para quem est&aacute; engajado na defesa do presidente Lula. Ele quase foi solto por um habeas corpus fundamentado em argumentos pol&iacute;ticos. E n&atilde;o, como se vinha tentando, em base a argumentos t&eacute;cnicos, nem pelo fato de ter sido condenado injustamente.<br /> <br /> A decis&atilde;o do desembargador revela, por fim, as fragilidades e fortalezas do golpismo.<br /> <br /> Uma destas fragilidades &eacute; a evidente ilegalidade e persegui&ccedil;&atilde;o movidas contra o presidente Lula, que v&atilde;o ao ponto de ju&iacute;zes estimularem policiais a desrespeitarem uma ordem judicial.<br /> <br /> J&aacute; uma das fortalezas consiste na articula&ccedil;&atilde;o entre setores dominantes no aparato judicial, policial e midi&aacute;tico.<br /> <br /> Noutros termos: eles est&atilde;o decididos a fazer qualquer coisa e, ao menos por enquanto, tem os meios para fazer qualquer coisa.<br /> <br /> E o que mais eles podem fazer?<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;">1.Os golpistas mantiveram Lula preso, mas perderam a batalha da opini&atilde;o p&uacute;blica no dia 8 de julho. Far&atilde;o de tudo para reverter esta derrota, tentando apresentar a decis&atilde;o do desembargador Rog&eacute;rio Favreto como artimanha partid&aacute;ria, erro t&eacute;cnico e ilegalidade. Buscar&atilde;o estigmatizar Favreto, para atemorizar outros garantistas. &Eacute; preciso responder a esta ofensiva.<br /> <br /> 2.Os golpistas dizem que Lula n&atilde;o poder&aacute; ser candidato, mas n&atilde;o tem como impedir que ele registre a candidatura no dia 15 de agosto. Entretanto, os golpistas podem tentar antecipar simbolicamente a decis&atilde;o, para estimular d&uacute;vida e confus&atilde;o no eleitorado de Lula. Ou at&eacute; podem tentar constitucionalizar, no STF, a pris&atilde;o em segunda inst&acirc;ncia: nesta hip&oacute;tese, a maioria de 6 a 5 contra o habeas corpus de Lula poderia se repetir, agora como maioria de 6 a 5 contra o preceito constitucional da presun&ccedil;&atilde;o da inoc&ecirc;ncia. &Eacute; preciso se preparar para cada uma destas possibilidades.<br /> <br /> 3.O n&uacute;cleo duro dos golpistas enfrenta dificuldades eleitorais. Seus candidatos preferidos (como Meirelles e Alckmin) n&atilde;o chegam a 10% das inten&ccedil;&otilde;es de voto. As pesquisas informam que todas as candidaturas golpistas, Bolsonaro inclusive, perdem para Lula no primeiro e no segundo turno. Os golpistas podem tentar acelerar a unifica&ccedil;&atilde;o entre eles, inclusive apostando em algum nome de &quot;centro&quot; que aceite o papel de candidato alternativo a Lula e ao PT. &Eacute; preciso desmascarar estas movimenta&ccedil;&otilde;es e encorpar ainda mais nossa for&ccedil;a eleitoral.<br /> <br /> 4.A pol&iacute;tica do governo golpista, as decis&otilde;es do Parlamento e do Judici&aacute;rio jogaram o pa&iacute;s na crise, na regress&atilde;o e no caos. Os golpistas continuam encaminhando medidas, como no caso da Embraer e da Eletrobr&aacute;s, que no limite buscam tornar irrevers&iacute;vel a regress&atilde;o neoliberal. Alguns dos desdobramentos disto puderam ser vistos no movimento dos caminhoneiros, que alguns dizem pode ser retomado proximamente. Como solu&ccedil;&atilde;o ao caos que eles mesmos criam, os golpistas agitam cada vez mais o espantalho da &quot;ordem unida&quot;, leia-se, de uma interven&ccedil;&atilde;o e/ou golpe militar. &Eacute; preciso deixar claro quem est&aacute; por tr&aacute;s do caos e o caos ampliado que especulam causar.</div> <br /> Que podemos fazer diante disso? Por exemplo:<br /> <br /> <div style="margin-left: 40px;">1.Travar a &quot;batalha das narrativas&quot;, sempre explicando o pano de fundo: os golpistas mant&eacute;m Lula preso e querem impedir sua candidatura, para seguir prejudicando o povo brasileiro, pisoteando as liberdades democr&aacute;ticas e golpeando a soberania nacional. Centrar fogo no aparato judici&aacute;rio e no oligop&oacute;lio da m&iacute;dia. &Eacute; preciso uma a&ccedil;&atilde;o de comunica&ccedil;&atilde;o de outra qualidade e pot&ecirc;ncia.<br /> <br /> 2.Apoiar ativamente a luta do movimento sindical e popular contra o governo golpista e suas medidas. A paralisa&ccedil;&atilde;o do dia 10 de agosto cumpre papel importante neste sentido. Jogar energias na mobiliza&ccedil;&atilde;o de massa.<br /> <br /> 3.Apresentar ao pa&iacute;s nosso programa emergencial, destacando a revoga&ccedil;&atilde;o das medidas golpistas e a convoca&ccedil;&atilde;o de uma Assembleia Constituinte.<br /> <br /> 4.Transformar a inscri&ccedil;&atilde;o da candidatura de Lula, no dia 15 de agosto, num grande ato de massas. O ideal &eacute; que a candidatura seja respaldada por um abaixo-assinado em que milh&otilde;es de brasileiros e de brasileiras apoiem a inscri&ccedil;&atilde;o. &Eacute; preciso ter pelo menos 100 mil em Bras&iacute;lia para inscrever Lula.<br /> <br /> 5.Articular a mobiliza&ccedil;&atilde;o interna com a mobiliza&ccedil;&atilde;o internacional. H&aacute; um potencial imenso, ainda subaproveitado.<br /> <br /> 6.Preparar-se para o agravamento das tens&otilde;es e das amea&ccedil;as.</div> <br /> Uma das amea&ccedil;as recorrentes &eacute; a da interven&ccedil;&atilde;o militar. N&atilde;o devemos subestimar este risco, at&eacute; porque certa interven&ccedil;&atilde;o j&aacute; est&aacute; em curso: militares assumindo cada vez mais postos e tarefas no governo federal, militares da ativa fazendo &quot;pronunciamentos&quot;, pesquisas indicam que cresce o apoio a uma ditadura como sa&iacute;da para a crise, fortalecimento da &quot;vers&atilde;o eleitoral&quot; do golpe, que &eacute; a candidatura de Bolsonaro.<br /> <br /> Mas n&atilde;o se enfrenta um golpe, capitulando frente a ele. N&atilde;o se enfrentam amea&ccedil;as de interven&ccedil;&atilde;o e ditadura militar, recuando e calando covardemente. N&atilde;o se derrota os golpistas, com candidaturas que aceitam o golpismo. E, principalmente, n&atilde;o se derrota uma candidatura como a de Bolsonaro, sem apresentar uma sa&iacute;da popular para a crise econ&ocirc;mico-social alimentada pelo programa &quot;ponte para o futuro&quot;.<br /> <br /> Neste sentido, n&atilde;o h&aacute; como separar a chamada quest&atilde;o democr&aacute;tica da luta em defesa das condi&ccedil;&otilde;es de vida das camadas populares.<br /> <br /> &Eacute; por isso que dizemos: contra o golpismo, contra as amea&ccedil;as de ditadura militar, contra Bolsonaro, contra o caos, neste momento s&oacute; h&aacute; uma sa&iacute;da ao mesmo tempo democr&aacute;tica e em favor dos setores populares: a elei&ccedil;&atilde;o de Lula.<br /> <br /> Claro que a elei&ccedil;&atilde;o de Lula provocar&aacute; rea&ccedil;&otilde;es dos golpistas de 2016 e dos que defendem o golpe-dentro-do-golpe. Mas iludem-se os que acham que ser&aacute; poss&iacute;vel derrotar o golpe, sem travar enfrentamentos e sem correr riscos.<br /> <br /> Outra amea&ccedil;a recorrente &eacute; a de que o Partido dos Trabalhadores corre o &quot;risco de isolamento.&quot; Entre os que falam isso, h&aacute; muita gente de boa f&eacute;, motivo pelo qual &eacute; preciso explicar pacientemente qual o problema e como enfrent&aacute;-lo.<br /> <br /> Existem cerca de 20 pr&eacute;-candidaturas presidenciais. Hoje uma delas, a de Lula, tem mais for&ccedil;a eleitoral que todas as demais somadas. Isso n&atilde;o elimina a necessidade de ampliar os apoios. Mas coloca o problema no grau devido.<br /> <br /> Destas cerca de 20 pr&eacute;-candidaturas presidenciais, quatro se posicionaram contra o golpe: Lula (PT), Manuela (PCdoB), Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT).<br /> <br /> Dos demais partidos que s&atilde;o ou foram da esquerda brasileira, o Partido Comunista Brasileiro deve apoiar a candidatura de Boulos. O Partido da Causa Oper&aacute;ria deve apoiar a candidatura de Lula. O Partido Socialista Brasileiro, que apoiou e articulou em favor do golpe contra a presidenta Dilma, tende neste momento a apoiar Ciro Gomes. E a Rede, que tamb&eacute;m apoiou e articulou em favor do golpe, tem Marina Silva como sua candidata. E o PSTU, que para ser gentil lavou as m&atilde;os diante do golpe, tamb&eacute;m ter&aacute; candidatura pr&oacute;pria.<br /> <br /> Sendo assim, &eacute; por defini&ccedil;&atilde;o muito estreito o leque de alternativas partid&aacute;rias com quem o PT poderia fazer alian&ccedil;as no primeiro turno da disputa presidencial. E mesmo estes poss&iacute;veis aliados teriam que estar dispostos a aceitar a t&aacute;tica de inscrever Lula e uma candidatura a vice-presid&ecirc;ncia tamb&eacute;m petista no dia 15 de agosto.<br /> <br /> Portanto, independente da pol&iacute;tica de alian&ccedil;a que se defenda adotar nos estados &ndash; acerca desta pol&iacute;tica h&aacute; &oacute;bvias diverg&ecirc;ncias -- a pol&iacute;tica de alian&ccedil;as nacional ser&aacute; basicamente com movimentos sociais e lideran&ccedil;as democr&aacute;ticas.<br /> <br /> Entretanto, este indesejado &quot;isolamento de alian&ccedil;as partid&aacute;rias&quot; n&atilde;o implica em isolamento eleitoral, nem no segundo turno, nem no governo. Ali&aacute;s, se fosse assim, 11 governadores (12 com o do Amap&aacute;) n&atilde;o teriam se pronunciado em seguida ao 8 de julho.<br /> <br /> Entre as amea&ccedil;as, est&aacute; tamb&eacute;m a falta de esperan&ccedil;a que volta-e-meia atinge alguns dirigentes da esquerda brasileira, contaminando por tabela a milit&acirc;ncia, nossas bases sociais e nosso eleitorado.<br /> <br /> De fato, as coisas est&atilde;o dif&iacute;ceis e podem ficar ainda mais dif&iacute;ceis. E erra muito feio quem pintar um quadro cor-de-rosa.<br /> <br /> Mas observemos a coisa do &acirc;ngulo dos inimigos do povo: eles deram um golpe, controlam o aparato de Estado, os meios de produ&ccedil;&atilde;o e de comunica&ccedil;&atilde;o, tem maioria no parlamento e mesmo assim est&atilde;o com dificuldades para derrotar Lula e o PT nas elei&ccedil;&otilde;es de 2018.<br /> <br /> A nossa resili&ecirc;ncia tem bases objetivas e subjetivas, entre as quais se destacam os efeitos da &quot;ponte para o futuro&quot; golpista sobre as condi&ccedil;&otilde;es de vida da classe trabalhadora depois de 2016 versus a mem&oacute;ria das transforma&ccedil;&otilde;es positivas que ocorreram depois de 2003.<br /> <br /> Nossa resili&ecirc;ncia &eacute; um dos motivos que torna poss&iacute;vel derrotar o golpismo. &Eacute;, portanto, uma das bases reais da esperan&ccedil;a.<br /> <br /> A esperan&ccedil;a n&atilde;o garante a vit&oacute;ria. Quem garante a vit&oacute;ria &eacute; a luta. Vence a luta quem combina adequadamente for&ccedil;a e pol&iacute;tica correta. Mas s&oacute; luta de verdade quem acredita que pode vencer.<br /> <br /> Neste sentido, o ocorrido no dia 8 de junho ajudou a demonstrar, para centenas de milhares de militantes e para milh&otilde;es de simpatizantes, que a luta pode tornar fact&iacute;vel o que antes parecia totalmente imposs&iacute;vel.<br /> <br /> Uma quarta amea&ccedil;a que enfrentamos &eacute; a dist&acirc;ncia entre a teoria e a pr&aacute;tica de v&aacute;rios de nossos dirigentes e militantes.<br /> <br /> Antes, predominava entre n&oacute;s a ilus&atilde;o republicana no lado de l&aacute;. E a pr&aacute;tica era coerente com isso: n&atilde;o nos preparamos &agrave; altura para enfrentar o golpe.<br /> <br /> Hoje, est&aacute; quase predominando entre n&oacute;s a percep&ccedil;&atilde;o de que o lado de l&aacute; n&atilde;o tem limites, n&atilde;o tem escr&uacute;pulos e n&atilde;o tem d&uacute;vida sobre o que deseja: manter Lula preso, fraudar as elei&ccedil;&otilde;es 2018, fazer a esquerda brasileira deixar de ser alternativa de governo, matar qualquer chance futura de sermos alternativa de poder e, fazendo tudo isto, criar as condi&ccedil;&otilde;es para ampliar a desigualdade social, esmagar as liberdades democr&aacute;ticas e pisotear a soberania nacional.<br /> <br /> Entretanto, embora na teoria a ilus&atilde;o republicana tenha perdido muito espa&ccedil;o, na pr&aacute;tica seguem predominantes os &quot;h&aacute;bitos de tempos pac&iacute;ficos&quot;.<br /> <br /> Acontece que agora &quot;os tempos s&atilde;o de guerra&quot;. Sendo assim, &eacute; preciso fazer o lado de l&aacute; perceber que temos escr&uacute;pulos e que por isso mesmo estamos dispostos a fazer tudo o que for necess&aacute;rio para defender nossos direitos e liberdades.<br /> <br /> E quem &eacute; o &quot;lado de l&aacute;&quot;?<br /> <br /> Para muitos militantes, o lado de l&aacute; tem nome e sobrenome. Por exemplo: S&eacute;rgio Moro.<br /> <br /> Para outros, o lado de l&aacute; tem CNPJ: a Rede Globo, por exemplo.<br /> <br /> A grande maioria ainda n&atilde;o compreendeu que o &quot;lado de l&aacute;&quot; n&atilde;o &eacute; este ou aquele golpista, esta ou aquela empresa ou institui&ccedil;&atilde;o. O lado de l&aacute; &eacute; tudo isso, mas &eacute; muito mais.<br /> <br /> O lado de l&aacute; &eacute; a classe dominante brasileira e seus aliados internacionais.<br /> <br /> Este &eacute; o tamanho do inimigo que precisamos derrotar.<br /> <br /> Esta classe dominante e seus aliados tomaram a decis&atilde;o e a est&atilde;o aplicando: n&atilde;o respeitam a legalidade, nem aceitam que o povo eleja livremente o pr&oacute;ximo presidente da Rep&uacute;blica.<br /> <br /> Esta &eacute; a conclus&atilde;o te&oacute;rica a que est&aacute; chegando a maior parte da esquerda brasileira.<br /> <br /> Mesmo assim, e por isto mesmo, e corretamente, temos aproveitado toda e qualquer brecha que nos permita fazer prevalecer a legalidade e as liberdades democr&aacute;ticas. A s&iacute;ntese disto &eacute; Lula livre, Lula candidato e Lula presidente.<br /> <br /> Mas caso a classe dominante mantenha Lula preso e impugne sua candidatura, qual ser&aacute; a conclus&atilde;o pr&aacute;tica que vamos tirar disto?<br /> <br /> Especificamente no caso das elei&ccedil;&otilde;es presidenciais, que t&aacute;tica vamos adotar?<br /> <br /> Dizem que esta decis&atilde;o deve ser tomada depois de 15 de agosto, caso sejamos derrotados. Isto &eacute; verdade.<br /> <br /> Outros dizem que antecipar a discuss&atilde;o sobre esta possibilidade pode prejudicar nosso posicionamento futuro. Isto j&aacute; n&atilde;o &eacute; t&atilde;o verdade.<br /> <br /> Pois embora a t&aacute;tica frente a uma fraude n&atilde;o seja uma quest&atilde;o de princ&iacute;pio, &eacute; uma quest&atilde;o de princ&iacute;pio falar a verdade para a classe trabalhadora e para o povo brasileiro.<br /> <br /> E a verdade &eacute; que elei&ccedil;&atilde;o sem Lula &eacute; fraude.<br /> <br /> E, c&aacute; entre n&oacute;s, se ordem judicial a favor pode ser desrespeitada, a rec&iacute;proca &eacute; verdadeira. S&oacute; assim caem algumas bastilhas.<br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/img_valter-pomar_historiador-e-integrante-direcao-nacional-pt.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Valter Pomar</b></i> &eacute; historiador e integrante da Dire&ccedil;&atilde;o Nacional do PT<br /> Fonte: <a href="https://www.brasil247.com/pt/colunistas/valterpomar/361321/A-hora-da-bastilha.htm" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>https://www.brasil247.com/</i></u></span></a>