Distopia: o dia em que o STF, com 21 ministros, fechou o Congresso

12 de julho de 2018 às 17:16

Lenio Luiz Streck
<b>Resumo:</b> 13 novos ministros assumem no Novo STF, entre eles Camarotti, eleito novo presidente da corte, Datena, Janaina, Cabo Antoninho, um professor de cursinho e dois comentaristas da ConJur.<br /> <br /> Aquilo que o conceito de utopia representa deve ser o maior exemplo articul&aacute;vel de algo alheio &agrave; nossa realidade como tal. Basta ver que chamar uma ideia, um argumento, um ponto de vista de ut&oacute;pico &eacute; basicamente o mesmo que classific&aacute;-lo como imposs&iacute;vel de ser realizado (realizado, isto &eacute;, concretizado, trazido &agrave; esfera do real).<br /> <br /> At&eacute; nisso difere-se sua ant&iacute;tese. Para quem ainda n&atilde;o conhece o conceito de distopia, pense justamente no contr&aacute;rio de uma utopia. Exemplos culturais n&atilde;o faltam: desde o c&eacute;lebre 1984, de Orwell, &agrave; contempor&acirc;nea s&eacute;rie The Handmaid&rsquo;s Tale (fundamentalistas assumem o poder nos EUA), todos expressam, em alguma medida, uma esp&eacute;cie de utopia negativa. S&oacute; que, antiteticamente ao conceito de utopia, as distopias, por vezes, t&ecirc;m uma rela&ccedil;&atilde;o muito pr&oacute;xima - assustadoramente pr&oacute;xima - com a realidade que vivenciamos.<br /> <br /> Explico: muitas vezes, as distopias s&atilde;o utilizadas como um recurso pelo qual aquele que o concebe transmite uma esp&eacute;cie de aviso aos seus interlocutores. Se, com a utopia, algu&eacute;m diz aquilo que desejaria que fosse, com a distopia, a partir daquilo que &eacute;, diz-se o que se pode vir a ser. Com 1984, Orwell n&atilde;o est&aacute; apenas escrevendo sobre uma sociedade totalit&aacute;ria; est&aacute; alertando sobre os rumos que o mundo parecia tomar &agrave; &eacute;poca. Se ele acertou? Deixo que o leitor interprete e diga.<br /> <br /> Por que falo tudo isso? Porque, como Orwell, quero apresentar a voc&ecirc;s minha distopia. Se o cen&aacute;rio que imagino parece fidedigno diante de nosso cen&aacute;rio atual? Deixo que o leitor interprete e diga.<br /> <br /> Vamos l&aacute;. Vamos &agrave; minha fic&ccedil;&atilde;o.<br /> <div style="text-align: center;">***</div> Imagine, leitor, que, nesta manh&atilde; de quinta-feira, voc&ecirc; percebe que alguma coisa fez com que voc&ecirc; dormisse por muito mais tempo que o normal. Na medida em que o dia vai passando, voc&ecirc; vai percebendo que muita coisa mudou desde o dia anterior.<br /> <br /> Com os demais candidatos batendo cabe&ccedil;a e Lula preso - Moro, cognominado no novo regime de Grundmoro (algo como a norma fundamental, a Grundnorm), proibira sua liberta&ccedil;&atilde;o em despacho proferido em f&eacute;rias do interior de Portugal -, Bolsonaro foi eleito j&aacute; no primeiro turno. Ganhou com 33%, porque os votos dados a Lula foram anulados. Festa na avenida Paulista. A GloboNews instalou um gabinete especial &agrave;s margens do Parano&aacute; para acompanhar a forma&ccedil;&atilde;o do novo governo. Claro, junto estavam aqueles professores de Direito do RJ que servem de escada a Camarotti e Cia. Que coisa incr&iacute;vel: as opini&otilde;es deles sempre coincidem com as dos jornalistas da GloboNews.<br /> <br /> A primeira emenda constitucional (PEC) bolsonariana aumentou o n&uacute;mero de ministros do STF para 21 membros. Bolsonaro (de ora em diante, PB) seguiu o que fora feito na Pol&ocirc;nia e Venezuela. Afinal, havia prometido na campanha que aumentaria o STF de 11 para 21 ministros, conforme constou na revista Veja e na Folha (<a href="https://www1.folha.uol.com.br/poder/2018/07/bolsonaro-quer-aumentar-numero-de-ministros-do-supremo.shtml" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>ler aqui</u></i></span></a>). PB, na campanha, criticou fortemente o STF (<a href="https://oglobo.globo.com/brasil/bolsonaro-critica-stf-promete-colocar-generais-nos-ministerios-22851179" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>aqui</u></i></span></a>). Com tr&ecirc;s aposentadorias ocorridas em 2018, aumentou para 13 o n&uacute;mero de vagas para nomea&ccedil;&atilde;o a partir de 1&ordm; de janeiro de 2019. Formaram-se cotas (sem problemas com essas). Professores: Jana&iacute;na e um professor de cursinho; ju&iacute;zes: uma desembargadora do RJ, conhecida por seus tweets, um juiz famoso que usa a B&iacute;blia na audi&ecirc;ncia, um procurador que faz jejum; dois comentaristas da ConJur, sendo que um escolhido entre os que mais destilaram &oacute;dio contra a coluna &quot;Senso Incomum&quot; e o outro escolhido entre seus pares, que poderiam atuar inclusive com seus nicknames. Cota pessoal do PB: Gerson Camarotti, Datena e Wiliam Waack. N&atilde;o, Merval Pereira n&atilde;o foi para o STF, e sim para o Minist&eacute;rio da Verdade. Os outros tr&ecirc;s: Cabo Antoninho, indicado pela base aliada do novo regime, Kim Katiguri (ou algo parecido com isso), preenchendo a cota de asi&aacute;ticos e um ministro rotativo (nova categoria criada por sugest&atilde;o do ministro Camarotti), representando a bancada da bala, dos agrot&oacute;xicos (agro &eacute; pop) e dos banqueiros. N&atilde;o, Moro tamb&eacute;m n&atilde;o foi, pois preferiu ser o Mentor Geral da Rep&uacute;blica (MEGER), cargo acima do Minist&eacute;rio da Justi&ccedil;a. Os demais minist&eacute;rios foram ocupados por generais, como era a <a href="https://www.metropoles.com/brasil/eleicoes-2018/caso-seja-eleito-bolsonaro-quer-militares-no-comando-de-ministerios" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>promessa</i></u></span></a> de PB.<br /> <br /> O primeiro fato marcante no Novo STF - assim passou a se chamar (NSTF)<a href="https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/senso-incomum-distopia-dia-stf-21-ministros-fechou-congresso#_ftn1"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><b>[1]</b></span></a> - foi a retirada do ministro Toffoli da Presid&ecirc;ncia da corte. A partir do princ&iacute;pio da colegialidade futura (PCF), caberia &agrave; nova maioria nomear o presidente. O eleito foi o pr&oacute;prio ministro Camarotti, para mandato de 20 anos (na Presid&ecirc;ncia do NSTF).<br /> <br /> Depois da &uacute;ltima greve dos caminhoneiros em setembro de 2018 - na qual o lema era &ldquo;interven&ccedil;&atilde;o militar j&aacute;&rdquo; -, j&aacute; havia quase tudo sido vendido-privatizado, dos hospitais p&uacute;blicos, Embraer, Braskem, Detrans &agrave; Petrobras, passando pela Eletrobras e todas as estradas federais e vicinais (venderam at&eacute; o laguinho do Planalto, os pr&eacute;dios da Explanada dos Minist&eacute;rios e o Pal&aacute;cio do governo, que passaram a pagar aluguel para uma imobili&aacute;ria chamada MBL), PB teve pouco trabalho no que restava para privatizar. Liberou-se tamb&eacute;m a explora&ccedil;&atilde;o da Amaz&ocirc;nia (afinal, pouco &iacute;ndio e muita terra). O ministro das Privatiza&ccedil;&otilde;es, da cota das Lojas Riachuelo, era incans&aacute;vel. Foi f&aacute;cil vender o sistema prisional para um cons&oacute;rcio americano-tailand&ecirc;s (o pre&ccedil;o teve des&aacute;gio de 60% por causa da superlota&ccedil;&atilde;o). A base aliada do PB, comandada pelo deputado Cabo Russo, passou um rolo compressor na pequena oposi&ccedil;&atilde;o no parlamento.<br /> <br /> S&oacute; deu problema na hora de vender o SUS: racha na base aliada. Metade queria vender para os EUA; a outra metade, para os chineses. A GloboNews enviou rep&oacute;rteres &agrave; China e aos EUA e, de l&aacute;, mostravam as maravilhas dos sistemas de sa&uacute;de desses dois pa&iacute;ses (professores de Direito do RJ comentaram o epis&oacute;dio, concordando com a GloboNews). A quest&atilde;o se arrastava e a oposi&ccedil;&atilde;o entrou em obstru&ccedil;&atilde;o. Nada mais se votava. Congresso parou. Merval, agora falando em rede nacional, chamava o povo para as ruas. Camarotti articulava com PB uma solu&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> PB, ent&atilde;o, consultou a NAGU (Nova AGU), que tomou uma medida dr&aacute;stica: construiu cuidadosamente, uma ADI com pedido de interpreta&ccedil;&atilde;o conforme &agrave; Constitui&ccedil;&atilde;o para fechar o Congresso, passando ao NSTF a fun&ccedil;&atilde;o de legislar. A argumenta&ccedil;&atilde;o, douta e magn&iacute;fica - para se ter uma ideia, na peti&ccedil;&atilde;o da ADI constou o nome charmoso de verfassungskonforme Auslegung zum Abschluss des Parlaments - , passou logo a ser elogiada nos cursinhos, palestras e workshops. E, como fundamento principal, PB invocou o princ&iacute;pio do presidencialismo invertido (Zasada odwr&oacute;conego prezydenckiego - &ldquo;princ&iacute;pio&rdquo; que fora invocado pelo presidente polon&ecirc;s para aposentar compulsoriamente 27 ministros da Suprema Corte - <a href="https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,presidente-da-suprema-corte-da-polonia-desafia-governo-conservador-ignora-aposentadoria-imposta-e-v,70002386231" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>aqui</u></i></span></a>), pelo qual o governo &eacute; dissolvido caso negue apoio ao presidente. O racioc&iacute;nio &eacute; simples (e &oacute;bvio): se PB foi eleito, &eacute; porque o povo queria que governasse; o parlamento, se n&atilde;o lhe der apoio, impede o avan&ccedil;o iluminista do pa&iacute;s; logo, em vez de inviabilizar o governo, inviabilize-se o parlamento (aqui, para del&iacute;rio dos pamprincipiologistas de Pindorama, foi invocado o novo Princ&iacute;pio da Proibi&ccedil;&atilde;o de Inviabiliza&ccedil;&atilde;o do Governo &ndash; PPIG). Bingu&iacute;ssimo.<br /> <br /> Aliado a isso, a ADI se baseava no princ&iacute;pio da voz das ruas (Prinzip des Sprachanrufs der Leute - tese elogiad&iacute;ssima na GloboNews), que havia sido invocado no ancien r&eacute;gime por um conhecido ministro do VSTF e agora, como feiti&ccedil;o, voltava-se contra o feiticeiro. A vota&ccedil;&atilde;o pelo fechamento do Parlamento foi 13x8. Justi&ccedil;a seja feita, todos os 8 ministros do ancien STF votaram contra, inclusive a ministra adepta da colegialidade.<br /> <br /> Parte dos 8 ministros do VSTF achou absurdo que os ministros do NSTF achassem que a voz das ruas e as opini&otilde;es pessoais dos ministros e de PB pudessem valer mais que o texto da CF. O ministro-procurador invocou a convic&ccedil;&atilde;o e a f&eacute; no novo! Antes, jejuou. &ldquo;Longa vida ao Direito 4.0&rdquo;, disse! J&aacute; o ministro da B&iacute;blia invocou o artigo 142 da CF sobre as For&ccedil;as Armadas (ele havia j&aacute; postado um tweet sobre isso), dizendo que ou o NSTF decretaria a medida, ou poderia ser acionada a &ldquo;clausula moderadora&rdquo; do artigo 142. A ministra do RJ que-posta-muito-no-face postou o longo voto de quatro linhas no Twitter.<br /> <br /> J&aacute; a ministra Janaina deu o voto em p&eacute;, invocando a tese da acelera&ccedil;&atilde;o da hist&oacute;ria e a teoria da graxa, fazendo men&ccedil;&atilde;o a precedentes do VSTF, especialmente daqueles ministros que sustentavam, no anci&eacute;n regime, que, entre a realidade social e a realidade normativa, tinha-se que optar pela realidade social, a voz das ruas (claro que ela disse isso de outro modo, mas um int&eacute;rprete conseguiu sacar isso, mediante a linguagem de sinais). Um dos &ldquo;precedentes&rdquo; citados por Janaina foi o do caso do indulto, em que o relator do VSTF dissera que o Executivo n&atilde;o soubera entender o sentimento popular. Ou seja, a voz do povo vale mais que a CF. J&aacute; os dois ministros-comentaristas da ConJur votaram nesta linha: &ldquo;Direito &eacute; quest&atilde;o de pr&aacute;tica. N&atilde;o venham com essas coisas complicadas tipo Lenio Streck&rdquo;.<br /> <br /> Os demais votos vencedores apenas repetiram os chav&otilde;es: &ldquo;O Direito &eacute; aquilo que o NSTF diz que &eacute;&rdquo;. Por vezes, Camarotti os ajudava. Citaram, v&aacute;rias vezes, doutrina e precedentes de um ministro do VSTF, que se sentiu extremamente desconfort&aacute;vel, aparteando os novos colegas - com veem&ecirc;ncia. Houve forte discuss&atilde;o. Mas era tarde. In&ecirc;s jazia morta no meio do sal&atilde;o do Pret&oacute;rio Excelso. Claro, citaram tamb&eacute;m outros juristas (realistas, voluntaristas e quejandos) que sempre sustentaram, em livros e teses de doutorado, que o Direito-&eacute;-aquilo-que-o-Judici&aacute;rio-diz-que-&eacute;. Outros fechavam os votos espumando: &ldquo;H&aacute; que ser pr&aacute;tico. Pragm&aacute;tico. N&atilde;o me venham com esse neg&oacute;cio de teoria&rdquo;. Enfim, a estandardiza&ccedil;&atilde;o do Direito vencera.<br /> <br /> &Eacute;. Assim se formou o novo Brasil - que, esqueci de dizer, era agora com z. Brazil. Ah: com o Congresso fechado, o SUS foi vendido para um cons&oacute;rcio EUA-China, com participa&ccedil;&atilde;o coreana-chinesa. Finalmente, nada mais era p&uacute;blico. Enfim, o Estado ficou m&iacute;nimo. As a&ccedil;&otilde;es do novo Brazil foram lan&ccedil;adas no Manhattan Connection. T&atilde;o m&iacute;nimo era o novo-estado que nem gastava mais com o parlamento, exatamente como queriam radialistas, jornalistas, jornaleiros e taxistas (e juristas - estudantes e carreiras jur&iacute;dicas). A Justi&ccedil;a do Trabalho foi extinta, como <a href="https://www.conjur.com.br/2017-ago-17/senso-incomum-grande-ideia-extinguir-justica-trabalho" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>queriam Pazzianoto e o empres&aacute;rio Walter Schalka</i></u></span></a> e parcela majorit&aacute;ria do empresariado. A CLT foi revogada por um assento do NSTF. Aposentadoria agora toda era privada (um fundo indiano-paquistan&ecirc;s comprou a carteira), conforme a reforma da Previd&ecirc;ncia baixada tamb&eacute;m por um decreto referendado por um assento do NSTF. As ruas das cidades tamb&eacute;m foram vendidas e em cada uma o comprador pode colocar ped&aacute;gio (para pessoas, carros, motos e bicicletas). N&atilde;o mais se exige licen&ccedil;a ambiental, porque isso atrasava o desenvolvimento. As universidades foram vendidas, &eacute; claro. Muitas, fechadas (algumas j&aacute; estavam). Foi liberado o uso de armas (at&eacute; 5 por brazileiro), com base em experi&ecirc;ncia emp&iacute;rica de alguns ministros e pesquisa do pool das universidades Matocagao I, Schei&szlig;wald III e Unifundo do Brasil, que mostra a corre&ccedil;&atilde;o da tese &ldquo;mais armas, mais paz, menos viol&ecirc;ncia&rdquo;. O Minist&eacute;rio da Paz passou a cuidar das armas. Camarotti aprovou.<br /> <br /> Voltou o ensino obrigat&oacute;rio de Moral e C&iacute;vica. Os aut&ecirc;nticos valores retornaram. Foi criado o Minist&eacute;rio dos Bons Costumes, regulamentando as rela&ccedil;&otilde;es sexuais. E o ensino religioso se tornou obrigat&oacute;rio inclusive nos cursos jur&iacute;dicos, onde o Direito Penal foi substitu&iacute;do por &Ecirc;xodo 22:6; 21:12; 21:16: 24:7 e Deuteron&ocirc;mio 22:25. Voltou tamb&eacute;m EPB - Estudo dos Problemas Brasileiros. Refundaram o Mobral (neste caso, houve muitos protestos - a multid&atilde;o queria fazer, direto, sem atalhos, o curso de Direito...).<br /> <br /> Como ficou a advocacia no Novo Brazil? Bem, complicou &quot;um pouco&quot; (vejam o futuro dos advogados no <a href="https://www.facebook.com/100003209113304/posts/1689927161124238/" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>filminho</u></i></span></a>). Foi extinto o Exame de Ordem, a presun&ccedil;&atilde;o da inoc&ecirc;ncia (j&aacute; estava extinta desde 2016) e o devido processo legal. O CPP foi transformado em Regimento Interno. O CPC? Bem, tudo passou a depender dos novos assentos (AIAS).<br /> <br /> Afinal, a advocacia vai servir para que no novo regime? De todo modo, conto: a primeira s&uacute;mula - agora chamada de AIA<a href="https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/senso-incomum-distopia-dia-stf-21-ministros-fechou-congresso#_ftn2"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><b>[2]</b></span></a> - assento da interpreta&ccedil;&atilde;o aut&ecirc;ntica do NSTF - diz: &ldquo;Todos julgamentos s&atilde;o feitos a partir do princ&iacute;pio in dubio pro societate&rdquo;; AIA 2: Se a prova il&iacute;cita for obtida visando o bem da sociedade, vale; AIA 3: Se, de antem&atilde;o, o r&eacute;u assume a culpa, ou havendo provas conclusivas a crit&eacute;rio do delegado, este poder&aacute; aplicar a pena, segundo tabela do NCNJ; AIA 4: Fica vedado o uso de RESP e RE para rediscutir pris&atilde;o de segundo grau; AIA 5: Direitos humanos s&atilde;o s&oacute; para humanos direitos<a href="https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/senso-incomum-distopia-dia-stf-21-ministros-fechou-congresso#_ftn3"><b><span style="color: rgb(0, 0, 255);">[3]</span></b></a>; AIA 6: O n&atilde;o pagamento de carn&ecirc;s de lojas e d&iacute;vidas banc&aacute;rias acarreta recolhimento da CNH, passaporte e identidade, nos termos do artigo 139, IV, do CPC; AIA 7: Entre a moral e o Direito, deve-se optar pela Moral; AIA 8. Nenhuma pris&atilde;o preventiva pode ultrapassar o prazo de 5 anos; AIA 9: Juiz no gozo de f&eacute;rias, mesmo estando no exterior, pode alterar ou recusar - por oportuna precau&ccedil;&atilde;o - o cumprimento de decis&atilde;o de ministros e desembargadores, se com ela n&atilde;o concordar; AIA 10: &quot;lava jato&quot; <a href="https://www.conjur.com.br/2016-set-23/lava-jato-nao-seguir-regras-casos-comuns-trf" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>n&atilde;o precisa seguir regras</u></i></span></a> de casos comuns.<br /> <br /> A joia da coroa &eacute; o AIA 11: &ldquo;Todos os atos decorrentes destes AIAs s&atilde;o insuscet&iacute;veis de aprecia&ccedil;&atilde;o judicial; ju&iacute;zes e tribunais, sob pena de demiss&atilde;o ou fechamento do tribunal, est&atilde;o proibidos de interpretar os AIAs, que s&atilde;o os novos e &uacute;nicos precedentes do &ldquo;sistema de precedentes&rdquo;, que s&atilde;o produtos de um ato de vontade do NSTF&rdquo; (parece que alguns dos defensores das teses do &ldquo;sistema de precedentes&rdquo; emplacaram a tese de que os precedentes s&atilde;o produto de um ato de vontade. Venceram! Eis o novo!).<br /> <br /> Ah, PB tinha receio de ter o poder usurpado pelo vice, do MDB, depois que este divulgou uma carta aberta, na qual dizia &ldquo;sentir-se deixado de lado pelo presidente&rdquo;. PB, assim, mandou projeto de AIA ao NSTF que, de pronto, lan&ccedil;ou o AIA 12: &ldquo;Com base no princ&iacute;pio da precau&ccedil;&atilde;o e do princ&iacute;pio carac&iacute;deo hoplias malabaricus, o vice-presidente fica suspenso at&eacute; segunda ordem&rdquo;.<br /> <br /> Em meio a isso... Epa, hora de parar de escrever. Acaba de ser lan&ccedil;ado, por iniciativa dos Minist&eacute;rios da Verdade, da Nova Intelig&ecirc;ncia, dos Bons Costumes e da Mentoria Geral da Rep&uacute;blica, uma Medida Provis&oacute;ria-Permanente - MPP (n&atilde;o h&aacute; mais parlamento) com o seguinte teor: &ldquo;Fica proibido o uso de livros que n&atilde;o sejam resumidos ou facilitados, abrangendo esta proibi&ccedil;&atilde;o o ato de escrever colunas ou artigos em revistas&rdquo;.<br /> <br /> <div style="text-align: center;">***</div> Essa, leitor, &eacute; minha distopia, na qual a inscri&ccedil;&atilde;o na bandeira do Brazil - que, no lugar de estrelas, agora tinha balas - agora era &ldquo;Guerra &eacute; paz. Liberdade &eacute; escravid&atilde;o. Ignor&acirc;ncia &eacute; for&ccedil;a&rdquo;.<br /> <br /> Bom, isso &eacute; uma fic&ccedil;&atilde;o. Tor&ccedil;o contra minha distopia. Com veem&ecirc;ncia!<br /> <br /> <a href="http://file:///C:/Users/andressa.taffarel/Downloads/Coluna%20-%20Distopia%20final.docx#_ftnref1"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><b>[1]</b></span></a> O que aconteceu com os demais tribunais, com exce&ccedil;&atilde;o do TST - que foi extinto junto com a Justi&ccedil;a do Trabalho &mdash;, fica para outra coluna. N&atilde;o h&aacute; espa&ccedil;o na de hoje.<br /> <br /> <a href="http://file:///C:/Users/andressa.taffarel/Downloads/Coluna%20-%20Distopia%20final.docx#_ftnref2"><b><span style="color: rgb(0, 0, 255);">[2]</span></b> </a>&Eacute; mera coincid&ecirc;ncia a sigla AIA, nada tendo a ver com a tradu&ccedil;&atilde;o portuguesa da distopia The Handmaid&rsquo;s Tales &mdash; O Conto da Aia, de Margaret Atwood.<br /> <br /> <a href="http://file:///C:/Users/andressa.taffarel/Downloads/Coluna%20-%20Distopia%20final.docx#_ftnref3"><b><span style="color: rgb(0, 0, 255);">[3]</span></b></a> Observa&ccedil;&atilde;o: por justi&ccedil;a, informo que todas as s&uacute;mulas foram aprovadas por 13 ministros, vencidos os 8 integrantes do VSTF.<br /> <br /> <b><img src="/uploads/image/artigos_lenio-luiz-streck_jurista-professor-de-direito-constitucional_caricatura.png" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> </b><br /> <br /> Por <a href="https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/senso-incomum-distopia-dia-stf-21-ministros-fechou-congresso#author" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><b><i>Lenio Luiz Streck</i></b></span></a><br /> Fonte: <a href="https://www.conjur.com.br/2018-jul-12/senso-incomum-distopia-dia-stf-21-ministros-fechou-congresso" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><i><u>https://www.conjur.com.br/</u></i></span></a>