O oitavo Mandamento para evitar as “fake news”

26 de julho de 2018 às 17:00

Pedro Teixeira
Quando Mois&eacute;s desceu da montanha com a t&aacute;bua dos 10 mandamentos trazia um ensinamento que serviria de alerta contra as fake news: &ldquo;n&atilde;o levantar&aacute;s falso testemunho&rdquo;. Mesmo que na &eacute;poca a velocidade da comunica&ccedil;&atilde;o fosse incomparavelmente inferior &agrave; dos tempos atuais, a atitude por l&aacute; parecia inc&ocirc;moda. A mentira, bem contada, com certas doses de verdade, pode convencer.<br /> <br /> Se eu enxergasse a realidade sob a mesma &oacute;tica de minha m&atilde;e, certamente nem vivo estaria. Ela, 74 anos, vi&uacute;va, companheira da solid&atilde;o dos dias e da televis&atilde;o, se acostumou a ver o mundo atrav&eacute;s de telejornal. Em sua mente ronda o pavor das cidades grandes, cheias de roubos, assassinatos, desastres etc. Que sorte tem minha m&atilde;e: ela n&atilde;o acessa a internet.<br /> <br /> At&eacute; 2025, de acordo com dados do IBGE, 31,8 milh&otilde;es de pessoas com mais de 60 anos dever&atilde;o ter acesso &agrave; rede. Por enquanto, minha m&atilde;e sequer tomou conhecimento do grupo dos 130 milh&otilde;es de usu&aacute;rios de whatsapp e do outro de 130 milh&otilde;es, no Facebook.<br /> <br /> A internet, al&eacute;m de instrumento de divers&atilde;o, com o tempo ganhou o potencial de colocar em risco a vida das pessoas. Foi assim com Fabiane Maria de Jesus, que morreu em 2014 espancada, ap&oacute;s ser confundida, atrav&eacute;s do Facebook, com uma sequestradora de crian&ccedil;as. &nbsp;<br /> <br /> H&aacute; pouco tempo circulava pela rede o cancelamento da b&iacute;blia pelo Papa Francisco. A fake news sugeria a repagina&ccedil;&atilde;o de outra: &ldquo;Papa Francisco surpreendeu o mundo hoje ao anunciar que a B&iacute;blia est&aacute; totalmente desatualizada e precisa de uma mudan&ccedil;a radical, por isso a B&iacute;blia &eacute; oficialmente cancelada e &eacute; anunciada uma reuni&atilde;o entre as personalidades mais altas da igreja onde (sic) ser&aacute;&nbsp; decidido o livro que a substituir&aacute;&rdquo;.<br /> <br /> E deram at&eacute; sugest&atilde;o de nome: &ldquo;B&iacute;blia 2000&rdquo;. O texto trazia o argumento de que a mudan&ccedil;a vinha da exig&ecirc;ncia dos novos tempos: substituir a formalidade da escrita e a constante perda de seguidores da Igreja. Ao final, conclu&iacute;a que a &ldquo;not&iacute;cia&rdquo; havia ca&iacute;do &ldquo;como uma bomba entre os mais conservadores&rdquo;. O convencimento de fake news, em geral, faz uso da ideia de abalar psicologicamente o receptor ao gerar p&acirc;nico, medo, raiva, entre outros sentimentos. &nbsp;<br /> <br /> Na ainda recente greve dos caminhoneiros, se p&ocirc;de observar muitos deles.&nbsp; A f&uacute;ria da paralisa&ccedil;&atilde;o organizada via Whatsapp deixou governo, motoristas e popula&ccedil;&atilde;o em completo alvoro&ccedil;o. N&atilde;o se sabia em quem confiar.<br /> <br /> No tr&aacute;fego cotidiano de not&iacute;cias, as fake news sa&iacute;ram do acostamento e trafegaram livremente por vias mentirosas: interven&ccedil;&atilde;o militar baseada em pronunciamento de supostos militares graduados, deslocamento de tropas, destrui&ccedil;&atilde;o de ve&iacute;culos etc. Pelo Youtube, um indiv&iacute;duo anunciava at&eacute; congelamento de contas banc&aacute;rias pelo governo. A implanta&ccedil;&atilde;o do caos nas entrelinhas revelava interesses (ocultos) pelo poder.<br /> <br /> Se por um lado a interatividade do meio liberta do cativeiro opini&otilde;es criativas, por outro, evidencia a for&ccedil;a da m&iacute;dia na constru&ccedil;&atilde;o do estere&oacute;tipo de uma vida baseada em ideias tolas. O mundo da falsa informa&ccedil;&atilde;o &eacute; constru&iacute;do de fantasias, como que aparentemente imaginadas em mesa de botequim: profecias apocal&iacute;pticas, golpes de estado, pena de morte etc. Os principais criadores de fake news investem na ingenuidade, na fraca forma&ccedil;&atilde;o cultural, na falta de conhecimento.<br /> <br /> A velocidade da internet acelera o coro dos &ldquo;especialistas&rdquo; de qualquer assunto. No ano passado, o Facebook tomou a iniciativa de alterar o algoritmo a fim de checar o envio autom&aacute;tico de publica&ccedil;&otilde;es suspeitas. A empresa criou at&eacute; bot&atilde;o de contexto junto &agrave;s postagens, assim, o usu&aacute;rio saber&aacute; da reputa&ccedil;&atilde;o do ve&iacute;culo noticioso.<br /> <br /> A evolu&ccedil;&atilde;o dos tempos trar&aacute; novas ferramentas de comunica&ccedil;&atilde;o e interatividade, mas dificilmente impedir&aacute; a pr&aacute;tica imoral tanto de quem cria a falsa not&iacute;cia quanto de quem a compartilha. Ao passar adiante uma falsa informa&ccedil;&atilde;o, o divulgador, mesmo sem a inten&ccedil;&atilde;o de prejudicar, exp&otilde;e sua personalidade a quem l&ecirc;.<br /> <br /> No tempo de Jesus circulou a not&iacute;cia de que Ele n&atilde;o havia ressuscitado. Tentou-se fazer correr &agrave; boca pequena a not&iacute;cia de que os disc&iacute;pulos haviam roubado o corpo do messias. E a prociss&atilde;o dos fazedores de not&iacute;cia falsa em procura de autossatisfa&ccedil;&atilde;o prossegue. &nbsp;<br /> <br /> Ao longo de mais de dois mil anos, pouco se percebe de evolu&ccedil;&atilde;o na personalidade humana no que se refere ao oitavo mandamento, agora, ali&aacute;s, em vers&atilde;o digital. Para evit&aacute;-lo,&nbsp; basta recorrer ao sil&ecirc;ncio. J&aacute; disse Jesus: &ldquo;o que contamina a pessoa n&atilde;o &eacute; o que entra na sua boca, mas o que sai por ela&rdquo; (Mt 15,11).<br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_pedro-teixeira_reporter-telejornal-cancao-nova-noticias.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Pedro Teixeira </b></i>&eacute; rep&oacute;rter do telejornal Can&ccedil;&atilde;o Nova Not&iacute;cias.