QUEM É O VICE?

02 de agosto de 2018 às 10:19

Gaudêncio Torquato,
Quem &eacute; o vice? Eis a pergunta central da semana. Quando&nbsp; Alckmin e o Centr&atilde;o davam como certo o nome do Josu&eacute; Gomes, filho do falecido ex-vice-presidente da Rep&uacute;blica, Jos&eacute; Alencar, para compor sua chapa, o mineiro dono da Coteminas sinaliza desist&ecirc;ncia. Josu&eacute; animaria o 2&ordm; maior col&eacute;gio eleitoral do pa&iacute;s, o de MG, com 16 milh&otilde;es de eleitores. O Centr&atilde;o corre atr&aacute;s de outro nome. J&aacute; o vice-l&iacute;der das pesquisas de inten&ccedil;&atilde;o de voto, logo abaixo de Lula, o capit&atilde;o Bolsonaro teve vetado pelo PRP o nome do general Augusto Heleno, enquanto a advogada Jana&iacute;na Paschoal sinaliza n&atilde;o ter muito interesse em figurar como vice.<br /> <br /> Por qu&ecirc; a dificuldade dos candidatos para compor a chapa que disputar&aacute; a elei&ccedil;&atilde;o presidencial? Vejamos. O vice-presidente &eacute; o segundo cargo mais importante do pa&iacute;s. Substitui o presidente em seus impedimentos. E no Brasil, tendo em vista a presen&ccedil;a&nbsp; constante do Senhor Imponder&aacute;vel dos Anjos, que aprecia nos fazer visitas inesperadas, a condi&ccedil;&atilde;o de vice assume maior import&acirc;ncia. Nos &uacute;ltimos tempos, basta lembrar Jos&eacute; Sarney, assumindo no lugar de Tancredo Neves, Itamar Franco, que se sentou na cadeira de Fernando Collor, e Michel Temer, ocupando o lugar de Dilma Roussef.<br /> <br /> O arranjo para se encontrar um bom nome n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil. Exige poder de agrega&ccedil;&atilde;o. Respeitabilidade, capacidade de articula&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, densidade (conhecimento sobre a realidade do pa&iacute;s), tr&acirc;nsito f&aacute;cil no meio congressual e, ainda, experi&ecirc;ncia, qualidade n&atilde;o necessariamente ligada &agrave; pol&iacute;tica. Um perfil vitorioso do setor produtivo cai bem, como seria o caso de Josu&eacute;. A composi&ccedil;&atilde;o da chapa presidencial deve tamb&eacute;m observar a equa&ccedil;&atilde;o regional, pela qual ter&atilde;o prioridade regi&otilde;es de alta densidade eleitoral. Combina&ccedil;&atilde;o que junte o Sudeste, com mais de 40% dos votos, com o Nordeste, com seus 26% dos votos, &eacute; bastante recomendada. &Eacute; evidente que a pessoa a compor a chapa h&aacute; de ter influ&ecirc;ncia e visibilidade em sua regi&atilde;o.<br /> <br /> Sob esses condicionamentos, a escolha de nomes-fantasia (figuras que circulam apenas em seu meio ou celebridades) pode ser um tiro n&rsquo;&aacute;gua. O nome do coronel Marcos Pontes, que fez um v&ocirc;o espacial em uma nave russa Soyuz, ap&oacute;s Luis In&aacute;cio ter pago US$ 10 milh&otilde;es pela carona, &eacute; uma brincadeira de mau gosto. J&aacute; imaginaram o astronauta comandando o pa&iacute;s no impedimento do titular? O mesmo se pode dizer do pr&iacute;ncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragan&ccedil;a, da Casa Imperial Brasileira. Significaria um defensor da monarquia na linha de frente da pol&iacute;tica. Os dois s&atilde;o refer&ecirc;ncias para a composi&ccedil;&atilde;o da chapa de Bolsonaro.<br /> <br /> O fato &eacute; que os entraves para a escolha de vices mostram as incertezas que pairam sobre os candidatos &agrave; Presid&ecirc;ncia. Nomes mais fortes demonstram preferir um p&aacute;ssaro na m&atilde;o do que dois voando. Parece ter sido esse o motivo que balizou a decis&atilde;o do senador Magno Malta (PR) em n&atilde;o aceitar ser vice de Bolsonaro. D&uacute;vidas cobrem tamb&eacute;m chapas para governos de Estados. Os escolhidos precisam ser respeitados.<br /> <br /> Urge ter cuidado com a escolha de vices. Na campanha de 1996 para a Prefeitura de Boa Vista (RR), Ottomar Pinto, ex-governador e candidato a prefeito, escolheu o vice Clodezir Filgueiras, de apelido Mimi, pessoa n&atilde;o muito conhecida pelo pov&atilde;o. A oposi&ccedil;&atilde;o contratou um gago querido na cidade. Que aparecia no programa do opositor gozando: &ldquo;quem &eacute; o vice, quem &eacute; o vice?&rdquo;Embutia a subliminar: Ottomar, depois de 2 anos, deixaria o vice na prefeitura para se candidatar ao governo.Uma trai&ccedil;&atilde;o ao povo.<br /> <br /> A inten&ccedil;&atilde;o de voto de Ottomar desabou. Mas o gaguinho foi &ldquo;cooptado&rdquo; com promessas. Virou a casaca. No mesmo lugar em que gravou sua goza&ccedil;&atilde;o, l&aacute; estava ele: &ldquo;quem &eacute; o vice, quem &eacute; o vice? Completava: &ldquo;&eacute; meu amigo Mimi&rdquo;. A cena agora mostrava os dois abra&ccedil;ados. Estrat&eacute;gia que reverteu a situa&ccedil;&atilde;o. Clodezir foi feito her&oacute;i. Ottomar ganhou. Depois de grande susto.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato