VICE-PRESIDENTISMO

03 de agosto de 2018 às 14:38

Rodrigo Augusto Prando
O t&iacute;tulo, deste escrito, &eacute; hom&ocirc;nimo do artigo de Jos&eacute; de Souza Martins, renomado cientista social, publicado em 2011. L&aacute;, Martins destacou, especialmente, o papel do vice-presidente de Lula, Jos&eacute; de Alencar, que, durante os oitos anos de mandato, governou o pa&iacute;s por 447 dias, nas aus&ecirc;ncias de Lula. E, hoje, ao tratarmos da composi&ccedil;&atilde;o das chapas para as elei&ccedil;&otilde;es vindouras, abundam- no cen&aacute;rio atual - as indefini&ccedil;&otilde;es, especialmente, dos vice-presidentes.<br /> <br /> Tratando de Jos&eacute; de Alencar, afirmou Martins: &quot;Jos&eacute; de Alencar n&atilde;o se deixou tentar pela possibilidade de tramar contra o presidente e de assumir o governo [...] Sua lealdade fortaleceu a institui&ccedil;&atilde;o da vice-presid&ecirc;ncia. Do mesmo modo, sua candidatura, ao representar o aval do grande capital e do empresariado &agrave; candidatura do ex-oper&aacute;rio Lula, representou tamb&eacute;m um passo decisivo na viabilidade de uma pol&iacute;tica de alian&ccedil;a de classes em favor do primado da pluralidade social e ideol&oacute;gica como fundamento da democracia brasileira&quot;. A escolha de um vice-presidente n&atilde;o &eacute; quest&atilde;o simples, visto que s&atilde;o muitas as vari&aacute;veis a serem consideradas, numa ampla gama de quest&otilde;es pessoais, partid&aacute;rias e institucionais. Muitas vezes, o vice pode ser escolhido por conta da indica&ccedil;&atilde;o da alian&ccedil;a que formou uma coliga&ccedil;&atilde;o partid&aacute;ria; noutras, o escolhido tem uma dimens&atilde;o regional, permitindo palanques e a entrada em regi&otilde;es que o cabe&ccedil;a da chapa &ndash; o candidato a presidente &ndash; n&atilde;o tem boas perspectivas; &agrave;s vezes, o recorte &eacute; geracional, escolhendo um jovem e, at&eacute;, uma escolha alicer&ccedil;ada no g&ecirc;nero, como, por exemplo, uma mulher que poderia atrair votos femininos.<br /> <br /> O quadro em tela indica dificuldades para todos os candidatos. Alckmin construiu uma ampla coliga&ccedil;&atilde;o, com tempo de TV e recursos do fundo eleitoral, mas se n&atilde;o empolgar o eleitorado ap&oacute;s uns 10 ou 15 dias de campanha na TV pode ver, novamente, seus planos frustrados. Bolsonaro, por sua vez, tem, virtualmente, uma inten&ccedil;&atilde;o de votos que o credenciam rumar ao segundo turno, mesmo que com pouco apoio de outros partidos, quase sem tempo de propaganda eleitoral e de escassez de recursos; com idas e vindas entre muitos nomes, at&eacute; o momento ningu&eacute;m se associou &agrave; sua candidatura. J&aacute; Marina Silva tem recall e seu capital pol&iacute;tico de certa forma n&atilde;o foi contaminado por den&uacute;ncias de corrup&ccedil;&atilde;o, mas, tamb&eacute;m, ainda negocia com o PV para ter Eduardo Jorge como vice. Ciro Gomes, coitado, acendeu velas &agrave; direita e &agrave; esquerda e tomou um fenomenal drible de Lula que, mesmo preso, conseguiu isolar Ciro e o PDT, que queria o PSB ao seu lado. Henrique Meirelles, do MDB, at&eacute; o momento sonda Marta Suplicy para vice e tem &iacute;ndices p&iacute;fios nas pesquisas de inten&ccedil;&atilde;o de voto. O PT, enfim, sabendo da impossibilidade de Lula concorrer, levar&aacute; at&eacute; o &uacute;ltimo momento essa decis&atilde;o, pois indicar o vice ser&aacute; indicar seu &quot;plano B&quot;.<br /> <br /> &Agrave; guisa de conclus&atilde;o, voltando &agrave;s palavras de Martins: &quot;O novo vice-presidente, Michel Temer, quer tirar a vice-presid&ecirc;ncia dessa hiberna&ccedil;&atilde;o. A movimenta&ccedil;&atilde;o em seu gabinete e as exig&ecirc;ncias de poder ao governo sugerem que seu ocupante parece pretender cogovernar a Rep&uacute;blica: assim como com Lula surgiu o lulismo, com Michel Temer est&aacute; surgindo o vice-presidentismo&quot;. Intelig&ecirc;ncia aguda, Jos&eacute; de Souza Martins, viu, em 2011, sinais do que se consolidaria em 2016 com o impeachment &ndash; dentro das regras constitucionais - de Dilma. Se, em tempos normais, n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil escolher um vice para chamar de seu, imaginemos, nos dias que correm, o efeito &quot;Temer&quot;. Temer chegou &agrave; presid&ecirc;ncia, alcan&ccedil;ou o poder, de direito, mas n&atilde;o o exerceu de fato.<br /> <br /> <b>Rodrigo Augusto Prando</b> &eacute; Cientista Pol&iacute;tico e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. &Eacute; bacharel e licenciado em Ci&ecirc;ncias Sociais, Mestre e Doutor em Sociologia, pela Unesp/FCLAr.