Precisamos restaurar o orgulho de nossos professores

24 de agosto de 2018 às 17:39

David Marcelo P. Berto
<b>Professor:</b> profiss&atilde;o das mais nobres, cujo exerc&iacute;cio no passado era motivo de extremo orgulho, respeito e apre&ccedil;o. Pois bem; pelo que temos visto, n&atilde;o &eacute; mais assim. Hoje a profiss&atilde;o passa longe dos sonhos da maioria de nossos jovens. Por que tamanho desd&eacute;m pela arte respons&aacute;vel por transmitir o saber que nos possibilita abrir a janela para o mundo? Podemos enumerar diversas raz&otilde;es, mas a que mais me chama aten&ccedil;&atilde;o &ndash; e do Censo Escolar tamb&eacute;m &ndash; &eacute; a desvaloriza&ccedil;&atilde;o profissional em todos os aspectos. E n&atilde;o estou falando apenas do aspecto financeiro. <br /> <br /> A pesquisa &ldquo;<b>Profiss&atilde;o Docente</b>&rdquo;, realizada pelo Ibope Intelig&ecirc;ncia e divulgada recentemente, comprova o que estou dizendo. Dos 2160 professores de educa&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica ouvidos, 33% afirmaram estar totalmente insatisfeitos com a profiss&atilde;o. O motivo mais citado? A desvaloriza&ccedil;&atilde;o profissional. Ela &eacute; tanta que quase metade desses docentes n&atilde;o recomenda a pr&oacute;pria atividade para um jovem. Os outros motivos tamb&eacute;m n&atilde;o s&atilde;o novidade: excesso de trabalho, falta de reconhecimento e baixa remunera&ccedil;&atilde;o. Infelizmente, esses fatores s&oacute; reiteram a qu&atilde;o menosprezada vem sendo a arte de educar em nosso pa&iacute;s.<br /> <br /> Os professores s&atilde;o fundamentais na nossa forma&ccedil;&atilde;o enquanto cidad&atilde;os pensantes e essa deprecia&ccedil;&atilde;o tem efeitos no desenvolvimento do Brasil. A falta de uma pol&iacute;tica de investimentos na &aacute;rea pode estagnar ou atrasar um pa&iacute;s, uma vez que uma na&ccedil;&atilde;o n&atilde;o pode ser considerada social e economicamente desenvolvida sem ter um padr&atilde;o educacional decente. O educador precisa ser o elemento central de um plano de gest&atilde;o que valorize a educa&ccedil;&atilde;o. Ele precisa ser ouvido, pois &eacute; quem faz o dia a dia, conhece seu p&uacute;blico e todas as peculiaridades das &aacute;reas em que atua. Ele precisa ser tratado com dignidade, pois &eacute; o principal agente transformador, motivador e pass&iacute;vel de refer&ecirc;ncia para seus alunos. &Eacute; preciso valorizar essa atividade, uma vez que ainda temos pessoas apaixonadas pela arte de ensinar. A pesquisa citada acima comprova nossa percep&ccedil;&atilde;o quando aponta que a maioria daqueles que decidiram continuar na carreira o fizeram pelo prazer de transmitir conhecimento. <br /> <br /> Disseminar essa paix&atilde;o, por&eacute;m, tem sido dif&iacute;cil, admito. O problema come&ccedil;a ainda nos anos de forma&ccedil;&atilde;o b&aacute;sica do futuro docente que, uma vez aluno de uma escola p&uacute;blica, como 80% dos estudantes brasileiros hoje, sofre com a falta de professores especializados. Quantas hist&oacute;rias ouvimos de alunos que nunca tiveram aula de geografia, f&iacute;sica ou qu&iacute;mica. Mesmo nestas condi&ccedil;&otilde;es prec&aacute;rias este aluno se torna professor movido somente pela vontade de fazer diferente, de levar aos alunos algo que ele n&atilde;o teve. Ele geralmente inicia sua carreira tamb&eacute;m em escolas p&uacute;blicas e se depara com uma vasta dimens&atilde;o de desafios inerentes ao outro lado da carteira. A baixa remunera&ccedil;&atilde;o, que faz com que ele tenha que complementar sua renda; a falta ou atraso no repasse de recursos; estruturas de trabalho sucateadas, que n&atilde;o oferecem espa&ccedil;os e materiais adequados para desenvolver as atividades que tanto ansiou em tirar dos livros que passou anos estudando. Ao longo dos anos, a motiva&ccedil;&atilde;o vai por &aacute;gua abaixo; o dia a dia estressante finda com o sonho e ele acaba por procurar emprego em outras &aacute;reas ou fora do pa&iacute;s. <br /> <br /> Sobreviver no magist&eacute;rio &eacute; dif&iacute;cil no Brasil, mas tem solu&ccedil;&atilde;o. N&atilde;o se sobrevive por m&aacute;gica, mas a receita &eacute; simples. A meu ver, programas de educa&ccedil;&atilde;o continuada alinhados &agrave; realidade escolar e ao cen&aacute;rio tecnol&oacute;gico que vivemos s&atilde;o os pontos-chave. Em todo o pa&iacute;s, e n&atilde;o s&oacute; nas zonas mais carentes como se pensa, h&aacute; profissionais com d&eacute;ficit de conte&uacute;do e eles t&ecirc;m consci&ecirc;ncia disso. Tanto que 76% dos participantes da pesquisa acreditam que &eacute; necess&aacute;rio, sim, passarem por atualiza&ccedil;&otilde;es frequentes. A implanta&ccedil;&atilde;o da nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que vem como a grande promessa para uma nova era na educa&ccedil;&atilde;o brasileira, j&aacute; bate &agrave; nossa porta e o que tem sido feito para qualificar os docentes? <br /> <br /> A educa&ccedil;&atilde;o mudou, os meios mudaram e o conte&uacute;do a ser transmitido precisa acompanhar tudo isso. O Brasil tem quase 50 milh&otilde;es de alunos matriculados em pouco mais de 180 mil escolas particulares e p&uacute;blicas e &eacute; o professor quem vai preparar esses jovens para mudar a sociedade. A qualidade da educa&ccedil;&atilde;o s&oacute; vai melhorar quando se investir na melhoria da qualidade dos professores.<br /> &nbsp;<br /> <b><i>David Marcelo P. Berto</i></b> &eacute; graduado em Letras pela Faculdade Anhanguera de Taubat&eacute;/SP, tradutor-int&eacute;rprete de Libras pela IMOESC &ndash; Ca&ccedil;apava/SP, professor de l&iacute;ngua inglesa, formador internacional do m&eacute;todo Kagan Cooperative Learning (San Diego University - California/USA), palestrante da plataforma YouTube Edu sobre habilidades socioemocionais na educa&ccedil;&atilde;o, al&eacute;m de especialista em constru&ccedil;&atilde;o de identidade da sala de aula, identidade do grupo e aprendizagem baseada no c&eacute;rebro. &Eacute; coordenador do Programa L&iacute;nguas Estrangeiras do Planneta Educa&ccedil;&atilde;o, uma empresa do grupo Vitae Brasil.