OS TRÊS TIPOS DE CAMPANHA

27 de agosto de 2018 às 16:46

Gaudêncio Torquato
A partir de 31 de agosto, estaremos submetidos, durante 35 dias, a uma bateria de mensagens de cunho eleitoral, que se desdobrar&atilde;o em tr&ecirc;s v&eacute;rtices: a) a glorifica&ccedil;&atilde;o de candidatos, com &ecirc;nfase no potencial do &ldquo;EU&rdquo; e slogans de arremate: eu fiz, eu fa&ccedil;o, eu farei; b) a demoniza&ccedil;&atilde;o do ELE, que tentar&aacute; desconstruir advers&aacute;rios, tendo como linha de argumenta&ccedil;&atilde;o o despreparo, a amea&ccedil;a ideol&oacute;gica/retrocesso que ele representa; c) a administra&ccedil;&atilde;o de altas taxas de rejei&ccedil;&atilde;o, quando se ver&aacute; o esfor&ccedil;o quase desesperado de candidatos para reverter posi&ccedil;&atilde;o aferida por pesquisas e garantida pela assertiva: neste fulano n&atilde;o voto de jeito nenhum.<br /> <br /> Ao lado da programa&ccedil;&atilde;o eleitoral, que ir&aacute; ao ar &agrave;s 13 horas e &agrave;s 20:30, os eleitores ser&atilde;o submetidos, ao longo do dia, a uma grade de spots publicit&aacute;rios, filmetes r&aacute;pidos que pegam o eleitor desprevenido, bastando que esteja ouvindo r&aacute;dio ou defronte a um aparelho de TV. De pronto, a observa&ccedil;&atilde;o: estas breves mensagens, embrulhadas em criatividade e com o celofane da empatia, t&ecirc;m o cond&atilde;o de &ldquo;la&ccedil;ar&rdquo; o eleitor e gerar predisposi&ccedil;&atilde;o positiva em rela&ccedil;&atilde;o ao candidato. Isso em tempos normais. Mas o ambiente de paisagem devastada nos campos da pol&iacute;tica &eacute; o ant&iacute;doto contra qualquer tentativa de melhorar a imagem dos protagonistas.<br /> <br /> Analisemos as tr&ecirc;s correntes. A primeira, a de autoglorifica&ccedil;&atilde;o, integra o cen&aacute;rio do Estado-Espet&aacute;culo, tendo atingido o auge sob o bast&atilde;o de Duda Mendon&ccedil;a, cujas campanhas pelo pa&iacute;s e at&eacute; no exterior (Argentina) entoavam o recorrente refr&atilde;o: fulano fez, fulano faz, fulano far&aacute;. Prometia a&ccedil;&atilde;o, n&atilde;o discurso, mexendo com o sistema cognitivo de um eleitor saturado de bl&aacute;-bl&aacute;-bl&aacute;s. Hoje, teria esse arremedo algum efeito? Ante o fogo que se alastra nas ro&ccedil;as da pol&iacute;tica, com altas fogueiras consumindo os &uacute;ltimos resqu&iacute;cios da boa imagem de governantes, &eacute; um tiro no p&eacute; insistir com esse bord&atilde;o.<br /> <br /> O desafio &eacute; encontrar fontes cr&iacute;veis que se disponham a atestar qualidades de candidatos.<br /> <br /> O segundo eixo da programa&ccedil;&atilde;o &eacute; o do ataque a advers&aacute;rios. A ideia &eacute; desconstruir o perfil, inserindo-o no rol de amea&ccedil;as. Trata-se de um estilo criado na revolu&ccedil;&atilde;o francesa de 1789, quando os jacobinos insuflados por Robespierre produziram um manual de combate pol&iacute;tico, recheado de inj&uacute;rias, cal&uacute;nias, gracejos e pilh&eacute;rias que acendiam instintos primitivos das multid&otilde;es. Os EUA det&ecirc;m a refer&ecirc;ncia maior da propaganda agressiva, mola da campanha negativa.<br /> <br /> Lyndon Johnson, candidato democrata a presidente em 1964, foi o primeiro a pagar an&uacute;ncios para desmoralizar o rival Barry Goldwater. Uma menina no campo desfolhava p&eacute;talas de uma margarida, enquanto as contava uma a uma, at&eacute; que, chegando ao dez, uma voz masculina come&ccedil;ava a rever&not;ter a contagem. Na hora do zero, sob um ru&iacute;do ensurdecedor, via-se na tela uma nuvem de cogumelo, simbolizando a bomba at&ocirc;mica, e a voz de Johnson: &ldquo;Isto &eacute; o que est&aacute; em jogo - construir um mundo em que todas as crian&ccedil;as de Deus possam viver ou, ent&atilde;o, mergulhar nas trevas. Cabe a n&oacute;s amar uns aos outros ou perecer.&rdquo; O arremate: &ldquo;Vote em Lyn&not;don Johnson. O que est&aacute; em jogo &eacute; demais para que voc&ecirc; se possa per&not;mitir ficar em casa.&rdquo; Em nenhum momento se mencionava Goldwater. O an&uacute;ncio saiu apenas uma vez, mas as TVs o repetiram. O falc&atilde;o republicano foi massacrado.<br /> <br /> A terceira vertente tem como foco a rejei&ccedil;&atilde;o. Rejei&ccedil;&atilde;o a candidato &eacute; coisa s&eacute;ria. N&atilde;o se apaga um &iacute;ndice de re&not;jei&ccedil;&atilde;o da noite para o dia. Quando um candidato registra um &iacute;ndice de rejei&ccedil;&atilde;o maior que a taxa de inten&ccedil;&atilde;o de voto, urge&nbsp; providenciar a ambul&acirc;ncia para entrar na UTI eleitoral. Caso contr&aacute;&not;rio, morrer&aacute; logo nas primeiras semanas do segundo turno.<br /> <br /> A rejei&ccedil;&atilde;o pode ser diminu&iacute;da, quando o candidato vai fundo nas causas profundas que maltratam a candidatura. Deve enfrentar o problema sem firulas. N&atilde;o persistir nos velhos h&aacute;bitos. Mudar na medida do equil&iacute;brio. Sem riscos. Todo cuidado com mudan&ccedil;as cons&not;tantes e bruscas, de acordo com a sabedoria da velha li&ccedil;&atilde;o: n&atilde;o ganha for&ccedil;a a planta frequentemente transplantada.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" hspace="3" align="left" alt="" /><br /> <br /> Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato