Por que a pobreza aumentou?

09 de setembro de 2018 às 10:11

José Pio Martins
Segundo dados do IBGE, o n&uacute;mero de brasileiros abaixo da linha da pobreza (os que vivem com at&eacute; US$ 5,50 por dia, ou R$ 387,07 por m&ecirc;s) aumentou 9,1 milh&otilde;es e passou de 43,1 milh&otilde;es em 2014 para 52,2 milh&otilde;es em 2017. Na categoria de pobreza extrema (os que vivem com US$ 1,90 por dia, ou R$ 133,72 por m&ecirc;s) estavam 13,3 milh&otilde;es em 2016, contra 8 milh&otilde;es em 2014. O quadro da pobreza havia melhorado de 2004 a 2013, mas a recess&atilde;o e o desemprego dos &uacute;ltimos tr&ecirc;s anos demoliram a renda das camadas mais pobres e, segundo a Organiza&ccedil;&atilde;o das Na&ccedil;&otilde;es Unidas para a Alimenta&ccedil;&atilde;o e a Agricultura (FAO), h&aacute; 7 milh&otilde;es de pobres sem nenhum tipo de assist&ecirc;ncia social.<br /> <br /> Um relat&oacute;rio do F&oacute;rum Econ&ocirc;mico Mundial circulou em 2004, assinado por dois economistas norte-americanos, e afirmava que a estagna&ccedil;&atilde;o da &Aacute;frica era a maior trag&eacute;dia econ&ocirc;mica do s&eacute;culo 20. Segundo dados oficiais, a &Aacute;frica abrigava 10% dos pobres do mundo em 1970 e essa taxa era de quase 50% em 2000. Os autores afirmam que as causas do fracasso africano s&atilde;o: conflitos militares, corrup&ccedil;&atilde;o, desprezo pela lei, pol&iacute;ticas fiscais indisciplinadas, infraestrutura prec&aacute;ria e baixo investimento em capital f&iacute;sico.<br /> <br /> Alguns analistas de esquerda disseram que aquelas causas eram elementos do capitalismo, em que o modo de produ&ccedil;&atilde;o est&aacute; assentado no direito de propriedade, organiza&ccedil;&atilde;o empresarial da produ&ccedil;&atilde;o, trabalho assalariado e austeridade financeira na gest&atilde;o das contas p&uacute;blicas. Na &eacute;poca, lembrei-me da cidade de Nogales, cortada ao meio por uma cerca, tendo, do lado norte, Nogales no estado do Arizona (Estados Unidos) e, do lado sul, Nogales na prov&iacute;ncia de Sonora (M&eacute;xico). Em &ldquo;Nogales do norte&rdquo;, a renda por habitante &eacute; de US$ 30 mil/ano, enquanto na Nogales mexicana &eacute; um ter&ccedil;o disso. Quanto &agrave;s condi&ccedil;&otilde;es de sa&uacute;de, escolaridade, seguran&ccedil;a e moradia, a situa&ccedil;&atilde;o da Nogales norte-americana &eacute; de longe superior &agrave; Nogales mexicana.<br /> <br /> &Eacute; intrigante como as duas metades da mesma cidade, mesmo povo, mesmo solo, mesmo clima, s&atilde;o t&atilde;o diferentes. Uma conclus&atilde;o &eacute; &oacute;bvia: Nogales no Arizona desfruta das institui&ccedil;&otilde;es norte-americanas, de alta qualidade, prop&iacute;cias ao desenvolvimento econ&ocirc;mico e social, enquanto Nogales em Sonora sofre com as institui&ccedil;&otilde;es mexicanas &ndash; que s&atilde;o de baixa qualidade, ineficientes e corruptas &ndash;, maus governos e estrutura pol&iacute;tica apodrecida.<br /> <br /> Em alguns pa&iacute;ses, entre eles o Brasil, diante da pobreza causada por maus h&aacute;bitos culturais e pol&iacute;ticos, maus governos e institui&ccedil;&otilde;es ruins e corruptas, muitos pedem mais Estado e mais governo, ou seja, doses maiores do veneno que os mata. Os pa&iacute;ses desenvolvidos s&atilde;o os que t&ecirc;m um forte setor produtivo privado, ambiente favor&aacute;vel aos investimentos, leis boas e est&aacute;veis, governo razoavelmente eficiente, respeito ao direito de propriedade e liberdades individuais. O exemplo das duas cidades de Nogales &ndash; que, apesar de t&atilde;o iguais, s&atilde;o t&atilde;o diferentes &ndash; &eacute; uma boa mostra do que funciona e do que n&atilde;o funciona.<br /> <br /> O Brasil, t&atilde;o rico de recursos, insiste em ser pobre e, nos &uacute;ltimos anos, viu a pobreza aumentar de forma intensa. Ressalte-se que a presidente Dilma n&atilde;o teve a mesma sorte de Lula. De 2002 a 2010, a economia mundial cresceu, as exporta&ccedil;&otilde;es brasileiras aumentaram, os pre&ccedil;os das commodities subiram e a situa&ccedil;&atilde;o internacional favoreceu o per&iacute;odo Lula. Logo no primeiro ano de Dilma, a situa&ccedil;&atilde;o se inverteu e ajudou a criar a crise brasileira, que teve por base os erros do per&iacute;odo Dilma.<br /> <br /> As mesmas mazelas do continente africano citadas no relat&oacute;rio do F&oacute;rum Econ&ocirc;mico Mundial em 2004 est&atilde;o presentes no Brasil, agravadas por baixa qualidade das institui&ccedil;&otilde;es, falta de confian&ccedil;a nelas e maus governos. Assim, n&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil entender por que o Brasil continua pobre, corrupto e violento.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_jose-pio-martins_ economista-reitor-up_.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Jos&eacute; Pio Martins</i></b>, economista e reitor da Universidade Positivo.