A polarização social e a ética nas eleições

06 de outubro de 2018 às 10:18

Antonio Carlos Hencsey
A sociedade, cada vez mais, tem trazido a &eacute;tica como fator relevante e decis&oacute;rio para a escolha dos candidatos nas Elei&ccedil;&otilde;es de 2018. Mas, ser&aacute; que, de fato, esse tema t&atilde;o importante e presente nos dias de hoje vai impactar realmente na escolha dos nossos pr&oacute;ximos l&iacute;deres? Infelizmente, no caminho em que as discuss&otilde;es e comportamentos coletivos ocorrem atualmente, a tend&ecirc;ncia &eacute; n&atilde;o.<br /> <br /> A polariza&ccedil;&atilde;o fortemente presente no momento pol&iacute;tico contempor&acirc;neo impacta diretamente a possibilidade de se pensar de maneira &eacute;tica. Fazendo um paralelo com o fil&oacute;sofo Karl Theodor Jaspers, que em 1946 analisou o comportamento da sociedade alem&atilde; durante a ascens&atilde;o e queda do nazismo, podemos concluir que a compreens&atilde;o e a busca de solu&ccedil;&otilde;es para sofrimentos e necessidades individuais, ou de grupos espec&iacute;ficos, levam a um distanciamento moral, segregando as pessoas ao inv&eacute;s de aproxim&aacute;-las.<br /> <br /> Isso significa que quando h&aacute; uma cis&atilde;o dos interesses coletivos e, ao mesmo tempo, grupos passam a olhar e defender de forma polarizada e intensa os pr&oacute;prios interesses, caminhamos em dire&ccedil;&atilde;o oposta &agrave; &eacute;tica, nos aproximando cada vez mais da exclus&atilde;o, do &oacute;dio e de conflitos. Essa polariza&ccedil;&atilde;o pol&iacute;tica, portanto, turva os valores morais individuais levando ao &oacute;dio ou &agrave; repulsa por opositores, descartando assim a possibilidade do entendimento das diferen&ccedil;as e a tentativa de se encontrar denominadores comuns que favore&ccedil;am o pa&iacute;s como um todo.<br /> <br /> O que se v&ecirc; hoje &eacute; tr&aacute;gico. Discuss&otilde;es vazias em redes sociais, simplesmente, pelo fato de haver vis&otilde;es diferentes para o mesmo problema. Ocorre algo similar ao avaliarmos as toler&acirc;ncias, ou intoler&acirc;ncias, a comportamentos il&iacute;citos praticados por figuras p&uacute;blicas de maior ou menor simpatia do eleitor.<br /> <br /> O mais preocupante em nosso cen&aacute;rio atual &eacute; que esse conflito, muitas vezes, acontece de forma cega a quem o vive. Sob a bandeira da moral, ambos lados s&atilde;o manipulados, tornando-os submissos a uma press&atilde;o coletiva. Se o brasileiro realmente deseja uma sociedade mais justa e prospera deve romper com esse funcionamento e buscar um caminho pautado no altru&iacute;smo, no correto como um valor em si, e na compreens&atilde;o da necessidade do outro. A busca do bem-estar deve ser coletiva, baseada em prioridades e avaliada e estudada de forma que atenda a um plano de Estado e n&atilde;o de governo.<br /> <br /> Al&eacute;m disso, &eacute; preciso cobrar de pol&iacute;ticos o entendimento das necessidades gerais e prioriz&aacute;-las em busca de uma constru&ccedil;&atilde;o s&oacute;lida. Deve-se ter a consci&ecirc;ncia de que para a constru&ccedil;&atilde;o de uma sociedade realmente &eacute;tica as a&ccedil;&otilde;es executivas e legislativas nem sempre trar&atilde;o ganhos para o pr&oacute;prio eleitor, mas, no futuro, impactar&aacute; positivamente a todos.<br /> <br /> E, por fim, para que essas elei&ccedil;&otilde;es sejam de fato um divisor de &aacute;guas na velha cultura do jeitinho e da toler&acirc;ncia &agrave; ilicitude &eacute; preciso expurgar a aceita&ccedil;&atilde;o aos atos corruptos de quem quer que seja, n&atilde;o importando se h&aacute; ou n&atilde;o afinidade pol&iacute;tico partid&aacute;ria. O funcionalismo p&uacute;blico nacional deve entender que o errado ser&aacute; sempre errado, e que o povo, em un&iacute;ssono, n&atilde;o aceitar&aacute; comportamentos anti&eacute;ticos de quem quer que seja.<br /> <br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_antonio-carlos-hencsey_socio-pratica-etica-compliance-protiviti.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Antonio Carlos Hencsey</i></b> &eacute; s&oacute;cio da pr&aacute;tica de &Eacute;tica &amp; Compliance da Protiviti, consultoria global especializada em finan&ccedil;as, tecnologia, opera&ccedil;&otilde;es, governan&ccedil;a, risco e auditoria interna.