A perfeita lei da liberdade

13 de outubro de 2018 às 10:41

Padre Antônio Xavier Bat
A Lei Perfeita da Liberdade &eacute; a lei interior, n&atilde;o exigida por um preceito, mas pelo pr&oacute;prio cora&ccedil;&atilde;o do homem. Esta &eacute; a lei do amor deixada por Nosso Senhor Jesus Cristo. A carta de S&atilde;o Tiago &eacute; composta por muitas exorta&ccedil;&otilde;es sobre a f&eacute; que, quando acolhida e praticada, produz a santidade, envolvendo aqueles que est&atilde;o em torno. O texto (Tg 1,19-27) come&ccedil;a com uma tr&iacute;plice exorta&ccedil;&atilde;o: prontid&atilde;o no escutar, lentid&atilde;o no falar e frear a ira.<br /> <br /> A prontid&atilde;o em escutar a palavra se refere ao relacionamento com Deus. Por meio da escuta se conhece a Sua vontade, que pode ser manifestada a qualquer momento. Por isso, exige-se prontid&atilde;o, disponibilidade interior em escutar, dedica&ccedil;&atilde;o &agrave; palavra para poder conhec&ecirc;-la bem.<br /> <br /> A lentid&atilde;o, quanto ao falar e ao irar-se, se refere ao trato comunit&aacute;rio, consequ&ecirc;ncia da escuta da palavra. Somos conduzidos a n&atilde;o apenas ouvir, mas realizar a palavra, ou seja, cumprir a justi&ccedil;a de Deus, aquilo que &eacute; de Sua vontade. <br /> <br /> O falar demais ou muito r&aacute;pido antes de escutar a voz interior e a ira impedem que fa&ccedil;amos aquilo que agrada a Deus, que &eacute; justo e santo aos olhos d&rsquo;Ele e, por isso, impedem a palavra de germinar e produzir frutos no cora&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Esta exorta&ccedil;&atilde;o vem ao encontro de muitas realidades do nosso tempo: as pessoas sentem mais necessidade de falar do que de ouvir e, por isso, mesmo nas fam&iacute;lias, o di&aacute;logo fica prejudicado. Parece que ouvir a Deus ou ao outro &eacute; sentido como perda de tempo, como se o outro n&atilde;o fosse capaz de acrescentar nada em nossa vida.<br /> <br /> A acolhida da palavra &eacute; apenas o primeiro passo. Depois &eacute; preciso coloc&aacute;-la em pr&aacute;tica (Tg 1,22). Quem apenas escuta passivamente&nbsp; &eacute; comparado a quem contempla o pr&oacute;prio rosto e depois se esquece do que viu porque fez apenas a experi&ecirc;ncia consigo mesmo, n&atilde;o a sentiu como palavra de Deus. <br /> <br /> A simples escuta e aceita&ccedil;&atilde;o n&atilde;o produzem santidade. &Eacute; como algu&eacute;m que gosta de ouvir m&uacute;sica instrumental, apenas dedicar-se a ouvir n&atilde;o o torna capaz de retirar aqueles belos sons do instrumento ao t&ecirc;-lo nas m&atilde;os. O amor, &agrave; medida que &eacute; praticado, vai dando &agrave; pessoa a verdadeira capacidade de amar e produzir frutos.<br /> <br /> O convite &eacute; a debru&ccedil;ar-se sobre a palavra para nela descobrir a Lei Perfeita da Liberdade e, praticando-a, ser bem-aventurado em tudo que faz. Um imperativo que surge em nosso cora&ccedil;&atilde;o e inspira nossa forma de agir. <br /> <br /> Por ser aquilo de mais espont&acirc;neo no ser humano, o amor n&atilde;o pode ser entendido como uma regra &agrave; qual algu&eacute;m possa ser submetido. &Eacute; um dom de Deus que provoca o homem porque reside em seu cora&ccedil;&atilde;o e em sua consci&ecirc;ncia, express&atilde;o da Sua vontade presente no Evangelho. Observar essa lei torna o homem livre do pecado, simbolizado pela ira, e do exagerado apego a si mesmo, simbolizado pelo falar apressadamente. <br /> <br /> A Lei Perfeita da Liberdade, capaz de gerar a verdadeira felicidade, &eacute; o amor de Deus implantado no cora&ccedil;&atilde;o do homem. Porque onde est&aacute; o Esp&iacute;rito do Senhor a&iacute; est&aacute; a liberdade (2Cor 3,17) e aos poucos vamos sendo transfigurados naquele que contemplamos (2Cor 3,18). Tudo parte do ouvir com docilidade acolhendo a palavra, seguido pelo praticar. <br /> <br /> O perfeito cumprimento da vontade de Deus se d&aacute; no exerc&iacute;cio das obras de miseric&oacute;rdia que a palavra nos inspira a realizar. Tudo &eacute; feito com liberdade para n&atilde;o ser cumprimento de regra, j&aacute; que &eacute; o amor de Deus que nos impele (2Cor 2,15). Assim, nosso cora&ccedil;&atilde;o vai se tornando manso e humilde, semelhante ao Sagrado Cora&ccedil;&atilde;o de Jesus (Mt 11,29).<br /> <br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_padre-antonio-xavier-batista_membro-da-comunidade-cancao-nova.jpg" hspace="3" align="left" alt="" /><br /> <br /> Padre Ant&ocirc;nio Xavier Batista</i></b> &eacute; membro da Comunidade Can&ccedil;&atilde;o Nova e Assessor da Comiss&atilde;o Episcopal Pastoral para Comunica&ccedil;&atilde;o da Confer&ecirc;ncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O sacerdote &eacute; Mestre em Ci&ecirc;ncias B&iacute;blicas e Arqueologia. <br />