Os municípios na berlinda

13 de outubro de 2018 às 10:49

Luiz Pladevall
A Constitui&ccedil;&atilde;o de 1988 trouxe importantes avan&ccedil;os para o cidad&atilde;o brasileiro, mas permitiu a r&aacute;pida expans&atilde;o do n&uacute;mero de munic&iacute;pios brasileiros. Para barrar a farra, foi preciso uma emenda &agrave; Constitui&ccedil;&atilde;o, em 1996, para limitar a cria&ccedil;&atilde;o de novas cidades. Al&eacute;m disso, a Nova Carta Magna imp&ocirc;s novas responsabilidades &agrave; municipalidade, mas n&atilde;o indicou as fontes de recursos e n&atilde;o estruturou o apoio t&eacute;cnico necess&aacute;rio para o cumprimento destas obriga&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Entre os novos deveres, as cidades devem elaborar o Plano Urban&iacute;stico, o Plano de Saneamento, o Plano de Res&iacute;duos S&oacute;lidos. Mas, ap&oacute;s 30 anos da promulga&ccedil;&atilde;o da Constitui&ccedil;&atilde;o, um levantamento da Firjan (Federa&ccedil;&atilde;o das Ind&uacute;strias do Estado do Rio de Janeiro) aponta que 1.872 munic&iacute;pios ainda dependem das transfer&ecirc;ncias de Estados e da Uni&atilde;o para garantir o funcionamento da m&aacute;quina p&uacute;blica.<br /> <br /> A expans&atilde;o do n&uacute;mero de novos munic&iacute;pios avan&ccedil;ou nas &uacute;ltimas tr&ecirc;s d&eacute;cadas. S&atilde;o 1.578 novas cidades e a maioria sequer consegue gerar receita suficiente para pagar o sal&aacute;rio de prefeito, vereadores e secret&aacute;rios. Apesar da emenda limitadora, est&aacute; em tramita&ccedil;&atilde;o no Congresso um projeto de lei que poder&aacute; permitir a cria&ccedil;&atilde;o de 400 novos munic&iacute;pios.<br /> <br /> Por isso, precisamos repensar o papel dos munic&iacute;pios e as condi&ccedil;&otilde;es m&iacute;nimas para sua cria&ccedil;&atilde;o. Devemos, inclusive, reavaliar as atuais condi&ccedil;&otilde;es atuais dessas localidades. Caso necess&aacute;rio, defendemos a possibilidade de fus&otilde;es para reduzir custos e melhorar as finan&ccedil;as. Assim, haver&aacute; possibilidade de novos investimentos na melhoria da infraestrutura e amplia&ccedil;&atilde;o de servi&ccedil;os &agrave; popula&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Outro ponto importante &eacute; a cria&ccedil;&atilde;o de par&acirc;metros t&eacute;cnicos para a cria&ccedil;&atilde;o de novos munic&iacute;pios, com indicadores m&iacute;nimos que n&atilde;o dependam apenas da vontade pol&iacute;tica. Caso contr&aacute;rio, continuaremos a conviver com as prec&aacute;rias condi&ccedil;&otilde;es atuais. Para se ter uma ideia, em 2016, 2.091 munic&iacute;pios descumpriram v&aacute;rias obriga&ccedil;&otilde;es legais simplesmente por registrar restos a pagar superiores aos recursos em caixa, ultrapassando o limite de 60% das receitas com despesas de pessoas.<br /> <br /> A pen&uacute;ria das cidades precisa ainda de uma atua&ccedil;&atilde;o urgente de Estados e da Uni&atilde;o, n&atilde;o apenas na oferta de recursos financeiros. A maioria dos munic&iacute;pios padece da falta de m&atilde;o de obra qualificada capaz de produzir planos e tamb&eacute;m elaborar documentos para a solicita&ccedil;&atilde;o de verbas federais. &nbsp;<br /> <br /> O resultado nesses 30 anos de Constitui&ccedil;&atilde;o mostra que uma boa parcela dessas cidades continua enfrentando as mesmas condi&ccedil;&otilde;es de precariedade. Avan&ccedil;ar &eacute; rever e propor mudan&ccedil;as.<br /> <br /> <b><i>Luiz Pladevall</i></b> &eacute; presidente da Apecs (Associa&ccedil;&atilde;o Paulista de Empresas de Consultoria e Servi&ccedil;os em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira de Engenharia Sanit&aacute;ria e Ambiental).