O FIM DE UM CICLO

05 de novembro de 2018 às 11:59

Celso Luiz Tracco
A elei&ccedil;&atilde;o presidencial de 2018 foi hist&oacute;rica em muitos aspectos e talvez seu resultado possa mudar o rumo da, ainda jovem, democracia brasileira.<br /> <br /> O primeiro aspecto que devemos observar &eacute; que o Partido dos Trabalhadores (PT) participou de todas as elei&ccedil;&otilde;es diretas para presidente desde 1989. Sempre foi uma participa&ccedil;&atilde;o de protagonista, ficando em 2&ordm; lugar em 1989, 1994, 1998 e 2018 e vencendo em 2002, 2006, 2010 e 2014. Isto n&atilde;o &eacute; de se desprezar, afinal o partido foi fundado em 1980 e sua estrutura surgiu de uma inusitada uni&atilde;o entre intelectuais acad&ecirc;micos de esquerda e uma forte base sindical. Operacionalmente, para alcan&ccedil;ar uma r&aacute;pida capilaridade, usou, entre outras estrat&eacute;gias, a rede das Comunidades Eclesiais de Base da Igreja Cat&oacute;lica (CEB's). Com isso, tomou conta das periferias, sempre muito carentes, das grandes cidades. Na d&eacute;cada de (19)80 o pa&iacute;s j&aacute; dava muitos sinais de cansa&ccedil;o e esgotamento do regime militar, instaurado em 1964. Al&eacute;m disso, na economia, a d&eacute;cada de 80 foi conhecida como a d&eacute;cada perdida, com baix&iacute;ssimo crescimento. H&aacute; de se reconhecer, politicamente falando, que ningu&eacute;m soube aproveitar melhor essas condi&ccedil;&otilde;es que o PT. Sendo oposi&ccedil;&atilde;o e perdendo, nas elei&ccedil;&otilde;es de 1989, 1994 e 1998, chegou ao poder em 2003 permanecendo at&eacute; o final de 2015, quando se iniciou o processo de impeachment da ent&atilde;o presidente, Dilma Rousseff. Em 2018, o PT chegou mais uma vez ao segundo turno, mesmo em condi&ccedil;&otilde;es muito adversas, pois seu principal dirigente pol&iacute;tico est&aacute; preso desde abril.<br /> <br /> O segundo aspecto &eacute; que tivemos o improv&aacute;vel surgimento da candidatura de um ex-capit&atilde;o do Ex&eacute;rcito que se tornou deputado federal em 1990 e sempre foi, em sua vida p&uacute;blica, um opositor ferrenho do PT. Destacou-se mais pelo seu tipo de comunica&ccedil;&atilde;o, severo e autorit&aacute;rio, do que pelos seus feitos parlamentares. Na verdade, Jair Bolsonaro nunca usou uma estrutura partid&aacute;ria. Em sua vida parlamentar, j&aacute; passou por oito partidos, o que prova que o sistema pol&iacute;tico brasileiro est&aacute; desgastado, &eacute; anacr&ocirc;nico e n&atilde;o representativo. Com seu discurso de extrema-direita, de ordem e progresso e de liberalismo econ&ocirc;mico, um parlamentar sem dinheiro, sem apoio partid&aacute;rio, sem tempo de televis&atilde;o, sem apoio da m&iacute;dia, baseando sua comunica&ccedil;&atilde;o com os eleitores via m&iacute;dias sociais, derrotou os maiores partidos brasileiros de forma inapel&aacute;vel. PSDB e PT, que protagonizaram as elei&ccedil;&otilde;es por vinte anos, enlameados por muitos esc&acirc;ndalos de corrup&ccedil;&atilde;o e desgoverno, foram democraticamente rejeitados nas urnas.<br /> <br /> A altern&acirc;ncia de poder &eacute; saud&aacute;vel, mas infelizmente o poder corrompe. O PT, em certo sentido, foi v&iacute;tima de seu pr&oacute;prio veneno. Encastelado no poder, esqueceu-se de suas origens, das periferias. N&atilde;o promoveu nenhuma das reformas necess&aacute;rias e seu populismo de esquerda levou o pa&iacute;s &agrave; maior recess&atilde;o de sua hist&oacute;ria. Paradoxalmente, o Partido dos Trabalhadores promoveu altas taxas de desemprego, um d&eacute;ficit fiscal gigantesco e a paralisia da economia. Parece que n&atilde;o queremos aprender com a hist&oacute;ria. As mesmas condi&ccedil;&otilde;es que levaram o PT do nada ao centro do poder, o derrubaram pela sua gan&acirc;ncia, corrup&ccedil;&atilde;o e distanciamento de suas origens. A hist&oacute;ria se repete. Esperemos, para o bem do pa&iacute;s, que o fim seja diferente.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_celso-luiz-tracco_economista.JPG" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> *<b><i>Celso Tracco</i></b> &eacute; economista e autor do livro &Agrave;s Margens do Ipiranga - a esperan&ccedil;a em sobreviver numa sociedade desigual.