ELEIÇÕES AMERICANAS: PONTOS DE CONVERGÊNCIA E DE DISPARIDADE COM O BRASIL

10 de novembro de 2018 às 12:18

Dudu Godoy
Tive a oportunidade de acompanhar em Boston, na Harvard University, a vota&ccedil;&atilde;o legislativa americana, na &uacute;ltima ter&ccedil;a-feira (06/11) e depois estive na The George Washington University, para debater os resultados das elei&ccedil;&otilde;es - seus efeitos e consequ&ecirc;ncias na vida dos republicanos e democratas, e principalmente de Trump, durante o semin&aacute;rio &ldquo;Elecciones legislativas em EE.UU. Fin o consolidaci&oacute;n del paradigma Trump?&rdquo;. E um dos fatos que me chamou a aten&ccedil;&atilde;o, j&aacute; no in&iacute;cio da semana das elei&ccedil;&otilde;es, foi o de que o Facebook bloqueou milhares de contas suspeitas de serem perfis falsos ou serem operadas por rob&ocirc;s, a fim de evitar o risco de que essas contas disparassem fake news e fizessem outras formas tentativas de influenciar o eleitorado americano.<br /> <br /> Embora n&atilde;o houvesse prova concreta ou den&uacute;ncia sobre os perfis falsos ou algo parecido, o Facebook antecipou-se a uma poss&iacute;vel crise, na qual poderia tornar-se alvo dos usu&aacute;rios e do Poder Judici&aacute;rio devido ao uso da plataforma para veicular fake news com fins pol&iacute;ticos-eleitoreiros. Isto ocorreu porque, nos Estados Unidos, o processo &eacute; sempre dirigido a quem veicula a not&iacute;cia falsa, enquanto no Brasil o Facebook &eacute; considerado uma m&iacute;dia como outra qualquer. Infelizmente, em nosso Pa&iacute;s, as redes sociais s&atilde;o percebidas como &quot;sociais&quot;, ou seja, pertencem &agrave;s pessoas. E assim, considera-se que s&atilde;o as pessoas que veiculam fakes news, e n&atilde;o os &ldquo;ve&iacute;culos&rdquo;. Est&aacute; na hora, contudo, e urgentemente, de considerarmos as redes sociais como m&iacute;dia - Facebook, Instagram, Google, Snapchat e outros. Todas as empresas que aceitam publicidade, ou vendem acesso aos seus usu&aacute;rios, devem ter a responsabilidade primeira de serem respons&aacute;veis pelo seu conte&uacute;do. <br /> <br /> Os meios de comunica&ccedil;&atilde;o &ndash; que, em minha opini&atilde;o s&atilde;o todos, incluindo as redes sociais -, como em toda elei&ccedil;&atilde;o, trabalharam a todo vapor. Debates, publicidade (nos EUA todas s&atilde;o pagas) e opini&otilde;es nas redes sociais ocuparam a pauta intensamente a partir do fim de semana antes das elei&ccedil;&otilde;es. Sim, tudo foi muito parecido com o Brasil - as elei&ccedil;&otilde;es foram tomando conta das pautas e das conversas das pessoas praticamente nas &uacute;ltimas duas semanas, quando a elei&ccedil;&atilde;o entrou na fase da publicidade pelas redes sociais ou pela TV - o que me levou a acreditar que a consci&ecirc;ncia pol&iacute;tica da popula&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; maior ou menor porque elas discutem mais ou menos pol&iacute;tica, ou porque decidem na hora do voto. Devemos entender que a pol&iacute;tica &eacute; um ato de sentir e viver no dia a dia os efeitos que as atitudes dos pol&iacute;ticos exercem sobre todos n&oacute;s. Como os pol&iacute;ticos agem em favor de poucos e privilegiados, a pol&iacute;tica sempre fica para ser discutida no final, principalmente porque, para as pessoas, n&atilde;o vale a pena discutir, todos os dias, aquilo que faz mal. Assim como uma doen&ccedil;a na fam&iacute;lia: voc&ecirc; n&atilde;o fica discutindo e falando todo o tempo da doen&ccedil;a com seus familiares. Infelizmente.<br /> <br /> Em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; import&acirc;ncia das verbas de campanha utilizadas em publicidade eleitoral, pelo menos no pleito para a C&acirc;mara dos deputados americana, a for&ccedil;a arrecadat&oacute;ria dos democratas parece ter ajudado. Eles angariaram mais do que os republicanos: foram US$ 923 milh&otilde;es obtidos pelos 1.507 candidatos democratas &agrave; C&acirc;mara, em compara&ccedil;&atilde;o a US$ 621 milh&otilde;es dos 1.217 candidatos republicanos. Na campanha ao Senado, contudo, a tradi&ccedil;&atilde;o prevaleceu, e os republicanos obtiveram a maioria, mesmo tendo arrecadado bem menos do que o montante dos US$ 396 milh&otilde;es dos democratas.<br /> <br /> No Senado, seria surpreendente a vit&oacute;ria democrata, ou melhor, seria uma grande derrota para Trump. O Senado sempre foi mais conservador, e desde 2010 os republicanos dominam e s&atilde;o maioria. Na C&acirc;mara, a situa&ccedil;&atilde;o &eacute; diferente. Os democratas s&atilde;o tradicionalmente maioria, e nas elei&ccedil;&otilde;es intermedi&aacute;rias (no meio do mandato presidencial) eles conseguem expor mais as fragilidades do governo - e o de Trump tem muitos pontos negativos: imigra&ccedil;&atilde;o, persegui&ccedil;&atilde;o aos imigrantes, sa&uacute;de prec&aacute;ria, etc. Do lado dos republicanos, eles se apoiaram na economia, que vem se recuperando com muita for&ccedil;a - e a gera&ccedil;&atilde;o de empregos foi o ponto mais forte da campanha. O agroneg&oacute;cio retomou sua for&ccedil;a, e assim o interior dos Estados Unidos se uniu em apoio aos republicanos. <br /> <br /> A vota&ccedil;&atilde;o dos democratas poderia ter sido ainda maior se n&atilde;o fosse a aus&ecirc;ncia, nas urnas, dos latinos americanos que vivem no pa&iacute;s, e que, mesmo estando com os documentos em ordem, n&atilde;o votaram, para n&atilde;o serem descobertos ou &quot;chamar aten&ccedil;&atilde;o&rdquo;, porque eles t&ecirc;m medo de perder os seus direitos. O Trump causa esse efeito do medo nas pessoas, e esta atitude dele &eacute; muito bem pensada. Como ele sabe que o eleitorado latino &eacute; mais democrata, usou esse medo a seu favor, principalmente nessas elei&ccedil;&otilde;es intermedi&aacute;rias, onde o face a face &eacute; mais constante e os boatos alimentaram a imagina&ccedil;&atilde;o dos mais simples.<br /> <br /> Em resumo, os EUA s&atilde;o um pa&iacute;s muito dividido e com alguma semelhan&ccedil;a com o Brasil, embora menos sobre o tema corrup&ccedil;&atilde;o, que &eacute; tratado na Justi&ccedil;a, e n&atilde;o nas elei&ccedil;&otilde;es, e tamb&eacute;m diferente no que toca ao tratamento dado &agrave; veicula&ccedil;&atilde;o de fake news, que, mesmo ap&oacute;s as elei&ccedil;&otilde;es brasileiras, continuam sendo disseminadas pelas redes sociais e aplicativos. <br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_dudu-godoy_vp-de-midia-agencia-nbs_presidente-sinapro.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Dudu Godoy</b></i> &eacute; VP de m&iacute;dia da ag&ecirc;ncia NBS e presidente do SINAPRO - Sindicato das Ag&ecirc;ncias de Propaganda do Estado de S&atilde;o Paulo