O bilinguismo no século XXI

10 de novembro de 2018 às 12:24

Luiz Fernando Schibelbain
Dominar uma segunda l&iacute;ngua - no caso o ingl&ecirc;s, atualmente utilizado entre falantes de outros idiomas para se comunicarem no mundo - traz amplos benef&iacute;cios, especialmente ligados ao c&eacute;rebro e a habilidades essenciais do s&eacute;culo XXI: pensamento cr&iacute;tico, compet&ecirc;ncias comunicativas, colaborativas, criativas e diversidade cognitiva. Sa&iacute;mos do modelo do canto em un&iacute;ssono (uniformidade) e entramos para a pr&aacute;tica do canto em harmonia (diversidade).<br /> <br /> Transitar por duas l&iacute;nguas, al&eacute;m de dispensar int&eacute;rpretes, tem efeito profundo no modo como pensamos e agimos. O aprimoramento cognitivo &eacute; apenas o primeiro passo. Mem&oacute;rias, valores e at&eacute; a personalidade podem se modificar dependendo da l&iacute;ngua que usamos, como se o c&eacute;rebro bil&iacute;ngue abrigasse duas mentes aut&ocirc;nomas. Apesar de tamanha import&acirc;ncia, isso foi ignorado por muito tempo e s&oacute; recentemente recebeu a relev&acirc;ncia merecida. Muitos pesquisadores exp&otilde;em as vantagens de um bil&iacute;ngue em compara&ccedil;&atilde;o a um monol&iacute;ngue, como o adiamento de futuras dem&ecirc;ncias, maior compreens&atilde;o de culturas diversas e a oportunidade de expor ideias de outras formas. A experi&ecirc;ncia intelectual da pessoa com dois sistemas lingu&iacute;sticos amplia sua flexibilidade mental e produz um leque superior na forma&ccedil;&atilde;o e express&atilde;o de conceitos, pois o c&eacute;rebro bil&iacute;ngue est&aacute; sempre ativo nas duas l&iacute;nguas e o exerc&iacute;cio de eleger uma e n&atilde;o a outra fortalece a mente.<br /> <br /> Aprender uma l&iacute;ngua adicional, contudo, exige concentra&ccedil;&atilde;o e dedica&ccedil;&atilde;o para quem n&atilde;o teve a oportunidade de vivenci&aacute;-la naturalmente, como nos casos de bilinguismo precoce, em que a fam&iacute;lia herda essa outra l&iacute;ngua e a utiliza cotidianamente ou desde muito cedo. No bilinguismo tardio, quando o contato com essa segunda l&iacute;ngua acontece depois de a primeira estar estabelecida, h&aacute; um caminho mais &aacute;rduo a ser trilhado, pois &eacute; a&iacute; que teremos de estudar essa l&iacute;ngua e n&atilde;o apenas adquiri-la natural e espontaneamente. E n&atilde;o &eacute; f&aacute;cil ter de recodificar novamente tudo o que j&aacute; sabemos na l&iacute;ngua 1, pois temos de erguer um novo edif&iacute;cio em que suas estruturas s&atilde;o a nova gram&aacute;tica, suas janelas o novo vocabul&aacute;rio e seus acessos a pron&uacute;ncia diversa de sons que muitas vezes desconhecemos. Quando uma crian&ccedil;a inicia essa constru&ccedil;&atilde;o precoce, o pr&eacute;dio 1 (l&iacute;ngua materna) e o pr&eacute;dio 2 (l&iacute;ngua adicional) s&atilde;o parte de um mesmo condom&iacute;nio e esse processo &eacute; mais harm&ocirc;nico, natural. Por isso a educa&ccedil;&atilde;o bil&iacute;ngue, a que acontece em col&eacute;gios, funciona muito bem quando iniciada desde os anos iniciais e de forma correta.<br /> <br /> Mas aten&ccedil;&atilde;o! Bilinguismo n&atilde;o significa um par de aulas semanais a mais de ingl&ecirc;s no curr&iacute;culo. Al&eacute;m de encontros adicionais de ingl&ecirc;s, h&aacute; que se ofertar outras atividades e disciplinas em ingl&ecirc;s, com profissionais fluentes e capacitados para promover e ampliar esse aprendizado. Como consequ&ecirc;ncia natural, o estudante come&ccedil;a a apresentar um n&iacute;vel maior de concentra&ccedil;&atilde;o como forma de se adaptar rapidamente a contextos desconhecidos e passa, ent&atilde;o, a avaliar e tomar decis&otilde;es mais assertivas, como o que vai falar em seguida, como reagir, interpretar e assim por diante. O c&eacute;rebro processar&aacute; esses est&iacute;mulos com mais agilidade, escolhendo o sistema lingu&iacute;stico mais adequado &agrave;s suas necessidades naquele momento. E &eacute; a&iacute; que entra em a&ccedil;&atilde;o o lobo frontal, que &eacute; o centro das fun&ccedil;&otilde;es executivas do c&eacute;rebro, habilidades que nos ajudam a focar concomitantemente em m&uacute;ltiplos fluxos de informa&ccedil;&atilde;o, monitorar erros, tomar decis&otilde;es com base nas informa&ccedil;&otilde;es dispon&iacute;veis, rever planos e resistir &agrave; tenta&ccedil;&atilde;o de deixar a frustra&ccedil;&atilde;o nos conduzir a a&ccedil;&otilde;es precipitadas.<br /> <br /> Outra vantagem competitiva, e talvez a mais &oacute;bvia, de ser bil&iacute;ngue, atualmente, s&atilde;o as oportunidades que temos ao dominar um outro idioma. Afinal, em mercados de trabalho cada vez mais concorridos, &eacute; imprescind&iacute;vel ter um excelente dom&iacute;nio dessa l&iacute;ngua adicional para se destacar da concorr&ecirc;ncia. E a avalia&ccedil;&atilde;o dessa habilidade pode ser feita por meio de certificados de profici&ecirc;ncia, an&aacute;lise de hist&oacute;rico escolar com mais horas de aulas de/em ingl&ecirc;s ou por testes e entrevistas pr&aacute;ticas para atestar se o dom&iacute;nio de fato existe.<br /> <br /> Outro aspecto que se desenvolve especialmente em alunos bil&iacute;ngues &eacute; a habilidade de compreens&atilde;o. Cada l&iacute;ngua tem suas express&otilde;es, formas de constru&ccedil;&atilde;o gramatical e at&eacute; mesmo linhas de racioc&iacute;nio diferentes. Por isso, os discursos oral e escrito acabam sendo elaborados de outra forma, com caracter&iacute;sticas distintas: em ingl&ecirc;s, as ideias costumam ser mais objetivas e concisas, fazendo com que, pela s&iacute;ntese, possamos expressar mais sucintamente o que queremos. Perceber as particularidades de cada l&iacute;ngua, para compreender com exatid&atilde;o a mensagem que se quer passar, as inten&ccedil;&otilde;es subliminares, caracter&iacute;sticas intr&iacute;nsecas e linha de racioc&iacute;nio, faz parte desse lindo processo.<br /> <br /> Ser bil&iacute;ngue significa tamb&eacute;m expandir as formas de se conectar com o mundo porque nos comunicamos para interagir com outras pessoas nessa era totalmente interconectada, com mais oportunidades de viagem, trabalho e estudo. E para garantir essa comunica&ccedil;&atilde;o efetiva, aspectos culturais tamb&eacute;m devem ser levados em considera&ccedil;&atilde;o, j&aacute; que a l&iacute;ngua reflete particularidades sociais de seus falantes. Nesses contextos, o falante bil&iacute;ngue se relacionar&aacute; melhor com as pessoas de culturas diversas compreendendo o que est&aacute; inerte &agrave; sua fala e inten&ccedil;&atilde;o, tornando a comunica&ccedil;&atilde;o mais ampla e pr&oacute;xima. Uma coisa &eacute; certa: dominar uma outra l&iacute;ngua em conjunto com habilidades essenciais para agir no s&eacute;culo XXI &eacute; a chave para o que o futuro nos apresenta, ampliando as escolhas pessoais e profissionais.<br /> &nbsp;<br /> <b><i>Luiz Fernando Schibelbain</i></b> &eacute; diretor da Positivo English Solution School (PES) e gestor de Idiomas PES / Sistema Positivo de Ensino.