A Consciência Negra e as Cores da Desigualdade

23 de novembro de 2018 às 17:00

Idalina Miranda dos Santos
O Dia da Consci&ecirc;ncia Negra faz refer&ecirc;ncia ao dia da morte de Zumbi, l&iacute;der do Quilombo de Palmares, que lutou para preservar a cultura dos africanos que conseguiam fugir dos seus senhores. Mas essa &eacute; uma guerra travada, na qual ainda temos v&aacute;rios embates.<br /> <br /> A batalha contra o racismo vai al&eacute;m de &ldquo;mimimis&rdquo;, assim taxados e expostos nas redes sociais, por aqueles que acreditam que seja mero vitimismo. Trata-se de um racismo estrutural e velado, sutil, que passa de forma sorrateira, mas n&atilde;o para quem sofre todos os dias.<br /> <br /> &ldquo;Eu preciso ser melhor o tempo todo, e provar diariamente, a cada minuto que eu sou capaz&rdquo;. &ldquo;N&atilde;o &eacute; justo que me julguem por eu ser quem eu sou, sem nem me conhecer&rdquo;. &ldquo;Me senti rejeitado e exclu&iacute;do, &eacute; muito dif&iacute;cil&rdquo;. Essas s&atilde;o frases de jovens negros que em algum momento da vida sentiram na pele o peso de ter uma maior concentra&ccedil;&atilde;o de melanina.<br /> <br /> A escravid&atilde;o durou tr&ecirc;s s&eacute;culos, anos de muita injusti&ccedil;a e, atualmente, ainda &eacute; poss&iacute;vel sentir seus reflexos. Segundo um levantamento feito em 2017, pelo Programa do Fundo de Popula&ccedil;&atilde;o da ONU, todos os anos s&atilde;o assassinadas, no Brasil, 30 mil pessoas e, desse total, 23 mil s&atilde;o jovens negros.<br /> <br /> A popula&ccedil;&atilde;o negra &eacute; a mais violentada e sofrida, os n&uacute;meros apontam e n&atilde;o nos deixam mentir. As cores da desigualdade sangram, assim como sangravam os ancestrais no passado, quando eram castigados por meio de chicotadas, vira-mundo e a gargalheira, objetos usados para castigar os escravos &ldquo;rebeldes&rdquo;.<br /> <br /> O escritor e antrop&oacute;logo Darcy Ribeiro disse que o &ldquo;Brasil, &uacute;ltimo pa&iacute;s a acabar com a escravid&atilde;o, tem uma perversidade intr&iacute;nseca na sua heran&ccedil;a, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso&rdquo;.<br /> <br /> Diante das afli&ccedil;&otilde;es, &eacute; necess&aacute;rio se &ldquo;prender&rdquo; e agradecer ao legado deixado pelos negros africanos, que nos deixaram palavras para nosso vocabul&aacute;rio, pratos para nossa culin&aacute;ria, festas populares e instrumentos musicais. N&atilde;o podemos pensar a nossa cultura sem entender a heran&ccedil;a africana.<br /> <br /> No dicion&aacute;rio, a palavra consci&ecirc;ncia significa &ldquo;sentimento ou conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender aspectos ou a totalidade de seu mundo interior&rdquo;. O meu desejo &eacute; que a cada dia aumente nossa empatia e consigamos nos colocar no lugar do outro, independente da cor. Eu quero que sejamos capazes de entender e sentir do outro a sua dor.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/img_artigos_idalina-miranda-dos-santos_reporter-telejornal-cancao-nova-noticias.JPG" width="60" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> <b><i>Idalina Miranda dos Santos</i></b> &eacute; rep&oacute;rter do telejornal Can&ccedil;&atilde;o Nova Not&iacute;cias, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, &agrave;s 18h45, pela TV Can&ccedil;&atilde;o Nova.