O futuro depende de que?

04 de dezembro de 2018 às 11:59

Clemente Ganz Lúcio
&quot;<i><b>Sopram ventos malignos no planeta azul.</b></i>&quot; Manuel Castells, in &quot;<b><i>Ruptura</i></b>&quot;<br /> &nbsp;<br /> O que se conhece como emprego, ocupa&ccedil;&atilde;o, direitos sociais e trabalhistas e Estado est&aacute; mudando e se transformar&aacute; radicalmente nos pr&oacute;ximos anos. O que vir&aacute; &eacute; completamente desconhecido. Organizada a partir do mundo do trabalho, a luta por direitos, pela liberdade, democracia, igualdade e justi&ccedil;a ter&aacute; que ser reinventada.<br /> <br /> Crian&ccedil;as e jovens de hoje ser&atilde;o os construtores do novo mundo, por meio do trabalho. Somente eles, que participar&atilde;o desta constru&ccedil;&atilde;o, poder&atilde;o achar as respostas para problemas, desafios, conflitos e contradi&ccedil;&otilde;es que surgir&atilde;o, e ser&atilde;o in&eacute;ditos. Para esse mundo que romper&aacute; com as atuais refer&ecirc;ncias, ser&aacute; necess&aacute;rio criar adequadas formas de organiza&ccedil;&atilde;o, de mobiliza&ccedil;&atilde;o e de luta. A luta social e sindical ter&aacute; que ser profundamente modificada.<br /> <br /> E quais ser&atilde;o essas mudan&ccedil;as todas? A organiza&ccedil;&atilde;o do sistema produtivo capitalista, oriundo das tr&ecirc;s revolu&ccedil;&otilde;es industriais, est&aacute; ficando para o passado. H&aacute; novos paradigmas produtivos irrompendo no cotidiano no mundo da produ&ccedil;&atilde;o e do consumo, alterando todas as dimens&otilde;es do mundo do trabalho. A riqueza financeira, reunida em fundos de investimento e articulada pelos bancos, est&aacute; comprando as empresas nacionais e multinacionais e a riqueza natural. O objetivo &eacute; gerar o m&aacute;ximo lucro para distribuir resultados trimestrais para os acionistas. As estrat&eacute;gias e fun&ccedil;&otilde;es econ&ocirc;micas e sociais dessas organiza&ccedil;&otilde;es s&atilde;o outras.<br /> <br /> Verdadeiros tsunamis de inova&ccedil;&atilde;o tecnol&oacute;gica visam incrementar a produtividade e passam a substituir intensivamente o trabalho humano na ind&uacute;stria, na agricultura, no com&eacute;rcio e nos servi&ccedil;os. As mais variadas m&aacute;quinas tomam o lugar do homem na for&ccedil;a de trabalho e, de maneira acelerada, ampliam as possibilidades de substituir a intelig&ecirc;ncia humana em amplas &aacute;reas de conhecimento e profiss&otilde;es. Os efeitos disruptivos sobre as ocupa&ccedil;&otilde;es, os empregos e as profiss&otilde;es j&aacute; s&atilde;o, e ser&atilde;o cada vez mais surpreendentes, e, muitas vezes, devastadores.<br /> <br /> S&atilde;o transforma&ccedil;&otilde;es por dentro do sistema capitalista de produ&ccedil;&atilde;o, de consumo e de distribui&ccedil;&atilde;o, que agora se defrontam com as potencialidades e o poder das m&aacute;quinas; com o desemprego estrutural de massas exclu&iacute;das; com o aumento da desigualdade, sem precedentes; com os problemas ambientais (as mais diversas formas de polui&ccedil;&atilde;o, a mudan&ccedil;a clim&aacute;tica e o aquecimento global); com as m&uacute;ltiplas formas de guerra, inclusive a nuclear; com a escalada da viol&ecirc;ncia, das drogas, do tr&aacute;fico. Ou seja, a quantidade (quase incont&aacute;vel), a complexidade e a escala dos problemas afetar&atilde;o de maneira radical diversas dimens&otilde;es do mundo do trabalho.<br /> <br /> Essas transforma&ccedil;&otilde;es promover&atilde;o rupturas em todo o sistema produtivo. Os agentes econ&ocirc;micos j&aacute; viabilizam a m&aacute;xima flexibilidade para promover, atuar e reagir a essa transforma&ccedil;&atilde;o, sem resist&ecirc;ncia e com seguran&ccedil;a. As mudan&ccedil;as institucionais (reforma trabalhista, por exemplo) preparam e entregam esse ambiente. As reformas dos Estados, privatiza&ccedil;&otilde;es e venda de recursos naturais oferecem ao mercado ampliadas oportunidades de neg&oacute;cio. Est&aacute; claro para a elite que as democracias devem ser controladas, para n&atilde;o gerar inseguran&ccedil;a (a chamada confian&ccedil;a do investidor), e orientadas para aguentar as mudan&ccedil;as. Onde n&atilde;o for poss&iacute;vel ou houver resist&ecirc;ncia, as democracias podem ser sacrificadas!<br /> <br /> O Brasil, com as riquezas e o sistema produtivo, &eacute; um dos maiores jogadores nesse mundo e faz parte desse tsunami transformador.<br /> <br /> O sindicalismo tem o desafio de mergulhar na reflex&atilde;o sobre o futuro, prospectar os desafios, articular a compreens&atilde;o da complexidade e enunciar lutas inovadoras para essa nova etapa hist&oacute;rica. O sindicalismo tem, mais uma vez, a tarefa de trazer para o jogo social o trabalhador como sujeito coletivo, como classe, como ator pol&iacute;tico que constr&oacute;i a hist&oacute;ria de todos, das na&ccedil;&otilde;es, dos pa&iacute;ses e, hoje, do planeta.<br /> <br /> &Eacute; preciso pensar 10, 20, 30 anos para a frente. Por isso, os principais protagonistas desse movimento s&atilde;o os jovens trabalhadores. Ser&atilde;o eles que estar&atilde;o produzindo, revelando as contradi&ccedil;&otilde;es da nova produ&ccedil;&atilde;o e distribui&ccedil;&atilde;o desse outro sistema capitalista. &Eacute; esse mundo, que ser&aacute; nosso tamb&eacute;m, mas produzido pelos jovens, que deve instruir o debate. Ser&atilde;o os jovens de hoje que ter&atilde;o que imaginar e criar outras formas de luta a partir do mundo do trabalho. S&atilde;o eles que ter&atilde;o que se colocar em movimento. N&oacute;s seremos seus companheiros de luta e estaremos juntos, para o que der e vier, enquanto estivermos vivos!<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_clemente-ganz-lucio_sociologo-diretor-tecnico-dieese.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Clemente Ganz L&uacute;cio</i></b> &eacute;&nbsp; Soci&oacute;logo, diretor t&eacute;cnico do DIEESE, membro do CDES &ndash; Conselho de Desenvolvimento Econ&ocirc;mico e Social e do Grupo Reindustrializa&ccedil;&atilde;o <br />