O Trabalho no Futuro

11 de dezembro de 2018 às 12:31

Daniel Medeiros
Vivemos na era das incertezas. Essa express&atilde;o tornou-se comum n&atilde;o porque as incertezas tenham passado a existir s&oacute; agora, mas porque se multiplicaram exponencialmente nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas. Como sabemos, nunca tivemos certeza de nada, exceto da morte. Agora, nem isso. J&aacute; se fala em escaneamento da consci&ecirc;ncia, uma esp&eacute;cie de pendrive que seria conectado a um andr&oacute;ide e permitiria que viv&ecirc;ssemos e viv&ecirc;ssemos long time. Fic&ccedil;&atilde;o Cient&iacute;fica? N&atilde;o. A fic&ccedil;&atilde;o tornou-se o nome do que ainda n&atilde;o foi realizado e n&atilde;o mais do fantasioso e do mirabolante. E todas as mudan&ccedil;as mudar&atilde;o as pessoas e as coisas em volta delas. Como entender e participar desse mundo? <br /> <br /> &Eacute; fato que h&aacute; 30, 40 anos, quando pens&aacute;vamos no futuro, apareciam na tela de nossa imagina&ccedil;&atilde;o n&atilde;o mais do que umas seis ou sete possibilidades de trabalho: m&eacute;dico, engenheiro, advogado, militar, funcion&aacute;rio do Banco do Brasil ou de algum cart&oacute;rio, motorista de &ocirc;nibus ou ajudar o pai na loja (lembrando que astronauta e arque&oacute;logo eram profiss&otilde;es desejadas em um tempo ainda mais remoto). Agora, o problema &eacute; que, diante da mesma pergunta, s&atilde;o dezenas as profiss&otilde;es poss&iacute;veis, muitas das quais ainda nem t&ecirc;m nome, outras conhecemos de ouvir falar mas n&atilde;o sabemos exatamente quais habilidades seriam necess&aacute;rias para exerc&ecirc;-las: energias renov&aacute;veis, intelig&ecirc;ncia artificial, manipula&ccedil;&atilde;o gen&eacute;tica, rob&oacute;tica, internet das coisas, etc. e tal. Jovens miram perplexos o horizonte dos pr&oacute;ximos anos e se perguntam: vai ter lugar para mim?<br /> <br /> Tudo vai sendo virado de cabe&ccedil;a para baixo e as tradi&ccedil;&otilde;es que ancoraram tantas pr&aacute;ticas sociais, conceitos e valores do mundo do trabalho, rapidamente v&atilde;o se tornando obsoletas. Isso gera um desconforto, quando n&atilde;o um sentimento de revolta. Mas a sa&iacute;da continua a ser uma s&oacute;: buscar entender as mudan&ccedil;as em vez de maldiz&ecirc;-las. Quanto maior a compreens&atilde;o do que est&aacute; acontecendo, maiores as chances de assumir um protagonismo nesses novos tempos. E ent&atilde;o, o que est&aacute; acontecendo? Como um jovem de hoje pode ter chance de uma boa coloca&ccedil;&atilde;o profissional no mundo de amanh&atilde;? <br /> <br /> Em primeiro lugar, compreendendo que precisa aprender o tempo todo e precisa se comunicar com todo mundo. Ou seja: a ideia de &ldquo;estar formado&rdquo; em algo, de &ldquo;ter feito seus estudos&rdquo; em tal lugar, de &ldquo;ter terminado a escola&rdquo; em tal ano, n&atilde;o tem mais nenhum futuro. Viver &eacute; aprender permanentemente e da maneira mais heur&iacute;stica poss&iacute;vel. Heur&iacute;stica? &Eacute;, trata-se do aprendizado que leva ao aprendizado, do questionamento constante e do uso intensivo da imagina&ccedil;&atilde;o, da criatividade, do pensamento disruptivo. Disruptivo? Sim, refere-se ao pensamento que rompe com o padr&atilde;o da normalidade, que rastreia novos paradigmas, que est&aacute; sempre atento para outras maneiras de associa&ccedil;&atilde;o, composi&ccedil;&atilde;o, reorganiza&ccedil;&atilde;o dos fatos e dos saberes.<br /> <br /> Al&eacute;m de aprender o tempo todo, &eacute; preciso tamb&eacute;m poder se comunicar com todo mundo. Da&iacute; a import&acirc;ncia de dominar as linguagens: l&iacute;nguas estrangeiras, linguagem da programa&ccedil;&atilde;o, mas tamb&eacute;m a linguagem social do network, a linguagem emocional das negocia&ccedil;&otilde;es, a linguagem afetiva das parcerias. Em resumo: conectividade e capacidade de tradu&ccedil;&atilde;o, esses s&atilde;o os dois pilares do trabalho no futuro.<br /> <br /> A escola, em algum momento, vai precisar contribuir para essa reconstitui&ccedil;&atilde;o de saberes, rompendo com a ideia de que h&aacute; coisas que precisam ser aprendidas porque s&atilde;o coisas importantes. N&atilde;o &eacute; assim que funciona. Tudo o que precisa ser aprendido n&atilde;o &eacute; importante por si, mas porque tem um papel no processo de transforma&ccedil;&atilde;o constante do mundo. A linguagem matem&aacute;tica &eacute; fundamental, assim como a compreens&atilde;o hist&oacute;rica ou o conhecimento dos seres vivos, mas apenas na medida em que est&atilde;o inseridos no contexto da descoberta, que &eacute; o lugar da problematiza&ccedil;&atilde;o; da justifica&ccedil;&atilde;o, que &eacute; onde se analisam os dados e apresentam-se as conclus&otilde;es; e da aplica&ccedil;&atilde;o, quando esses conhecimentos agem como ferramentas de transforma&ccedil;&atilde;o da realidade. <br /> <br /> Assim, pensar uma escola a partir de cases, de questionamentos, de problematiza&ccedil;&otilde;es, associando diversas disciplinas com diferentes mentes de diversas idades, estimulando a formula&ccedil;&atilde;o de hip&oacute;teses, sendo rigoroso na apresenta&ccedil;&atilde;o e verifica&ccedil;&atilde;o dos dados, premiando o esfor&ccedil;o, a criatividade e o esp&iacute;rito de equipe - s&atilde;o os passos para colocar a escola no lugar de relev&acirc;ncia para as exig&ecirc;ncias desse tempo que &eacute; o de olhar o horizonte e n&atilde;o enxergar o que h&aacute;, mas imaginar o que haver&aacute; l&aacute;. Um tempo cujo futuro ser&aacute; uma inven&ccedil;&atilde;o do presente. <br /> <br /> <b><img src="/uploads/image/artigos_daniel-medeiros_doutor-em-educacao-historica-ufpr_sb.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Daniel Medeiros</b> &eacute; Mestre e doutor em Educa&ccedil;&atilde;o Hist&oacute;rica pela UFPR. &Eacute; professor no Curso Positivo.