O EXERCÍCIO DA OBSTINAÇÃO

20 de dezembro de 2018 às 16:35

Marcelo Alecrim
A sobreviv&ecirc;ncia de um empreendimento hoje no Brasil &eacute; um exerc&iacute;cio de coragem, obstina&ccedil;&atilde;o e esperan&ccedil;a. Coragem para enfrentar os dissabores, muitos advindos das restri&ccedil;&otilde;es impostas pelo Estado ao campo dos neg&oacute;cios privados, obstina&ccedil;&atilde;o para n&atilde;o desistir diante das imposi&ccedil;&otilde;es e dificuldades que se apresentam e, sobretudo, esperan&ccedil;a nos imensos potenciais de nosso territ&oacute;rio. <br /> <br /> Abro essa observa&ccedil;&atilde;o nos meus 53 anos de vida, 33 dos quais dedicados &agrave; vida empresarial, iniciada aos 19 anos, quando comecei a ajudar meu corajoso pai como frentista em seu posto de gasolina na cidade de Canguaretama(RN). Daqueles tempos aos dias de hoje, ultrapassamos barreiras, abrimos fronteiras, expandimos o nosso empreendimento. Foram anos a fio de muito labor, mas sempre sob a convic&ccedil;&atilde;o de que a recompensa sempre aparece quando as coisas s&atilde;o realizadas com seriedade, zelo e compromisso com a comunidade. <br /> <br /> Confesso, por&eacute;m, que os &uacute;ltimos tempos t&ecirc;m sido os mais dif&iacute;ceis para os neg&oacute;cios em nosso pa&iacute;s. Pior que os improvisados tempos do Plano Collor e dos experimentos com a moeda sob o governo Sarney, contratempos ainda muito presentes na mem&oacute;ria.<br /> <br /> A maior recess&atilde;o econ&ocirc;mica da hist&oacute;ria nacional, a par do des&acirc;nimo que abateu o esp&iacute;rito de empreendedores, mostra sua face perversa nos cerca de 13 milh&otilde;es de desempregados e no desest&iacute;mulo aos investimentos.<br /> <br /> Somente os obstinados, com sua inesgot&aacute;vel paci&ecirc;ncia, puderam resistir &agrave; maior crise econ&ocirc;mica que j&aacute; presenciei em minha trajet&oacute;ria empresarial. Para resistir &agrave;s intemp&eacute;ries, ancoramo-nos na cren&ccedil;a de que o Brasil foi, &eacute; e ser&aacute; sempre maior de que qualquer crise. Foi assim que conseguimos conduzir o nosso neg&oacute;cio ao porto seguro, sob a solidariedade de amigos e a unidade familiar.<br /> <br /> Felizmente, as nuvens pesadas no horizonte de nossa economia come&ccedil;am a se dissipar, sinalizando que o nosso amanh&atilde; ser&aacute; mais promissor aos&nbsp; empreendimentos. N&atilde;o teremos, como se sabe, um crescimento extraordin&aacute;rio, mas o &iacute;ndice de 1,5% do PIB em 2019 poder&aacute; ser a luz no fim do t&uacute;nel. Importa, doravante, contarmos com uma pol&iacute;tica econ&ocirc;mica que possa alavancar os neg&oacute;cios e resgatar a confian&ccedil;a dos investidores. <br /> <br /> Nesse sentido, j&aacute; podemos expressar regozijo ao constatar que a equipe montada pelo futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, prima pela qualidade t&eacute;cnica. Trata-se de um grupo de renomados profissionais, quase todos com alta gradua&ccedil;&atilde;o em escolas de economia, principalmente a da matriz do liberalismo, a Universidade de Chicago, onde o professor Milton Friedman instalou um dos maiores templos mundiais de estudos de economia.<br /> <br /> &Eacute; saud&aacute;vel para o nosso pa&iacute;s ouvir dos integrantes da futura equipe econ&ocirc;mica que o Estado se livrar&aacute; de bra&ccedil;os que atrapalham o funcionamento de seu corpo, como extens&otilde;es que n&atilde;o fazem parte do core business das empresas estatais. Deixar o Estado do tamanho&nbsp; mais condizente com as tarefas que a nossa Constitui&ccedil;&atilde;o assegura &ndash; educa&ccedil;&atilde;o, sa&uacute;de, habita&ccedil;&atilde;o, saneamento b&aacute;sico, seguran&ccedil;a p&uacute;blica &ndash; liberando outras &aacute;reas aos campos da iniciativa privada &ndash; esse deve ser o norte a ser seguido.<br /> <br /> Queremos ver um pa&iacute;s livre das amarras burocr&aacute;ticas, que tanto impedem o fluxo e o ritmo das opera&ccedil;&otilde;es; uma carga tribut&aacute;ria calibrada pelos crit&eacute;rios de justi&ccedil;a e igualdade entre os entes federativos, e sem amea&ccedil;as de gera&ccedil;&atilde;o de novos tributos; seguran&ccedil;a jur&iacute;dica que garanta &agrave;s corpora&ccedil;&otilde;es internacionais tranquilidade para investir; seguran&ccedil;a p&uacute;blica, capaz de propiciar aos cidad&atilde;os livre locomo&ccedil;&atilde;o, sem receio de serem assaltados; um sistema educacional que n&atilde;o deixe nenhuma crian&ccedil;a fora da Escola; enfim, programas sociais voltados para atenuar as necessidades das margens carentes. <br /> <br /> A quadra que atravessa o pa&iacute;s &eacute; um convite ao otimismo. O eleitorado brasileiro cumpriu o direito c&iacute;vico de escolher os seus representantes e o seu mandat&aacute;rio-mor. Nossa democracia est&aacute; mostrando a solidez das institui&ccedil;&otilde;es, n&atilde;o havendo motivo para receio de retrocesso. Urge confiar na nova moldura pol&iacute;tico/governativa que se esbo&ccedil;a.<br /> <br /> Sou um otimista.<br /> &nbsp;<br /> <i><b>Marcelo Alecrim</b></i> &eacute; presidente Executivo do Conselho de Administra&ccedil;&atilde;o da ALE Combust&iacute;veis <br />