A Esperança

30 de dezembro de 2018 às 14:03

Lino Rampazzo
A esperan&ccedil;a &eacute; uma virtude e todas as pessoas, crist&atilde;s e n&atilde;o crist&atilde;s, s&atilde;o chamadas a ser virtuosas. &Eacute; o compromisso com a &eacute;tica. At&eacute; os antigos fil&oacute;sofos pag&atilde;os, como Plat&atilde;o e Arist&oacute;teles (no IV s&eacute;culo a. C.) refletiram sobre essas virtudes humanas, tais como a sabedoria, a fortaleza, a justi&ccedil;a e a temperan&ccedil;a.<br /> <br /> Mas n&oacute;s crist&atilde;os recebemos de Deus, como dom da sua Gra&ccedil;a, as virtudes teologais: a f&eacute;, a esperan&ccedil;a e a caridade. N&oacute;s as recebemos como &ldquo;presente especial de Deus&rdquo;, por isso s&atilde;o chamadas de &ldquo;teologais&rdquo;, do grego &ldquo;the&oacute;s&rdquo;, que significa &ldquo;Deus&rdquo;.<br /> <br /> Assim como a vinda de Jesus foi &ldquo;esperada&rdquo; no Antigo Testamento, n&oacute;s, que estamos no &ldquo;Novo Testamento&rdquo;, esperamos a vinda gloriosa de Jesus no fim da hist&oacute;ria humana. Sim, esperamos, porque temos a virtude teologal da esperan&ccedil;a. Como no texto que S&atilde;o Paulo escreve a Tito, no qual diz que Deus nos salvou &ldquo;por sua miseric&oacute;rdia&hellip; por meio de nosso Salvador Jesus Cristo, para que, justificados por sua gra&ccedil;a, nos torn&aacute;ssemos, na esperan&ccedil;a, herdeiros da vida eterna&rdquo; (Tt 3,5-7). <br /> <br /> Vale lembrar que o papa Bento XVI, no ano de 2007, publicou uma enc&iacute;clica sobre a Esperan&ccedil;a, com o seguinte t&iacute;tulo: SPE SALVI facti sumus &raquo; &ndash; &eacute; na esperan&ccedil;a que fomos salvos. Estas palavras do t&iacute;tulo s&atilde;o a cita&ccedil;&atilde;o de um texto do S&atilde;o Paulo (Rm 8,24). <br /> &nbsp;<br /> Nessa mesma enc&iacute;clica, no n&ordm; 3, o papa Bento XVI apresenta o exemplo de uma santa da nossa &eacute;poca: Santa Josefina Bakhita, uma africana canonizada pelo Papa Jo&atilde;o Paulo II. Nascera por volta de 1869 no Sud&atilde;o. Aos nove anos de idade foi raptada pelos traficantes de escravos, espancada barbaramente e vendida cinco vezes nos mercados do Sud&atilde;o. Finalmente, em 1882, foi comprada por um comerciante italiano para o c&ocirc;nsul Callisto Legnani, que voltou para a It&aacute;lia. Aqui, depois de &ldquo;patr&otilde;es&rdquo; t&atilde;o terr&iacute;veis que a tiveram como sua propriedade at&eacute; agora, Bakhita acabou por conhecer um &ldquo;patr&atilde;o&rdquo; totalmente diferente: o Deus vivo, o Deus de Jesus Cristo. Soube que este Senhor tamb&eacute;m a conhecia, tinha-a criado; mais ainda, amava-a. Ela era conhecida, amada e esperada; mais ainda, este Patr&atilde;o tinha enfrentado pessoalmente o destino de ser flagelado e agora estava &agrave; espera dela &ldquo;&agrave; direita de Deus Pai&rdquo;. Agora ela tinha &ldquo;esperan&ccedil;a&rdquo;; j&aacute; n&atilde;o aquela pequena esperan&ccedil;a de achar patr&otilde;es menos cru&eacute;is, mas a grande esperan&ccedil;a: eu sou definitivamente amada e aconte&ccedil;a o que acontecer, eu sou esperada por este Amor. Assim a minha vida &eacute; boa. Mediante o conhecimento desta esperan&ccedil;a, ela estava &ldquo;redimida&rdquo;, j&aacute; n&atilde;o se sentia escrava, mas uma livre filha de Deus. Esta ex-escrava foi batizada e quis tornar-se religiosa, na Congrega&ccedil;&atilde;o das irm&atilde;s Canossianas. A esperan&ccedil;a, que nascera para ela e a &ldquo;redimira&rdquo;, n&atilde;o podia guard&aacute;-la para si; esta esperan&ccedil;a devia chegar a muitos, chegar a todos.<br /> <br /> S&atilde;o Paulo, pouco antes de morrer, escreve a Tim&oacute;teo: &ldquo;Combati o bom combate&hellip; guardei a f&eacute;. Agora s&oacute; me resta a coroa da justi&ccedil;a que o Senhor, justo juiz, me dar&aacute; naquele dia; e n&atilde;o somente a mim, mas tamb&eacute;m a todos os que aguardam com amor sua manifesta&ccedil;&atilde;o&rdquo; (2 T 4,7-8).<br /> <br /> Esta &eacute; a nossa esperan&ccedil;a!<br /> <br /> <i><img src="/uploads/image/img_lino-rampazzo_professor-doutor-teologia.JPG" width="60" hspace="3" align="left" alt="" /></i><b><i><br /> <br /> <br /> Lino Rampazzo</i></b> &eacute; doutor em Teologia e Coordenador do Curso de Teologia da Faculdade Can&ccedil;&atilde;o Nova