Proclamação: um ato contínuo

04 de janeiro de 2019 às 18:28

Christian Moreira de Souza
A cada ano, no dia 15 de novembro, rememoramos em nosso calend&aacute;rio civil, a proclama&ccedil;&atilde;o da Rep&uacute;blica no Brasil, que encerrou o tempo dos reis e nobres, e inaugurou o tempo dos pol&iacute;ticos e de suas articula&ccedil;&otilde;es. A monarquia era, &agrave; &eacute;poca, responsabilizada por todas as crises que o pa&iacute;s atravessava e a rep&uacute;blica seria vinculada ao progresso, &agrave; prosperidade, ao futuro que todos almejavam. Mas, o que seria essa tal Rep&uacute;blica?<br /> <br /> Para entendermos a Rep&uacute;blica, partirmos do significado etimol&oacute;gico. Rep&uacute;blica vem do latim: res publica. &ldquo;coisa p&uacute;blica&rdquo; &ldquo;que pertence ao povo&rdquo;. Portanto, no regime republicano, o aspecto central &eacute; o interesse da comunidade, comum a todos, em detrimento dos interesses individuais e dos neg&oacute;cios particulares. Sendo assim, n&atilde;o se afina &agrave; monarquia (interesse de um), n&atilde;o se alinha &agrave; aristocracia (interesse de alguns), nem mesmo &agrave; democracia (interesse do povo). A rep&uacute;blica volta-se para a finalidade do governo, que &eacute; o bem comum.<br /> <br /> No Brasil, a Rep&uacute;blica foi implantada sem a participa&ccedil;&atilde;o, o engajamento ou mesmo a ci&ecirc;ncia do povo, se evidenciando como uma a&ccedil;&atilde;o conjugada entre setores do ex&eacute;rcito e de uma elite em forma&ccedil;&atilde;o, vinculada a setores cafeicultores do Oeste Paulista. Este aspecto presente no alicerce republicano nacional, nos faz compreender por que em tantas vezes da hist&oacute;ria de nossa na&ccedil;&atilde;o, sobretudo ap&oacute;s a proclama&ccedil;&atilde;o, o povo e suas necessidades passaram ao largo de alguns governos.<br /> <br /> A ressignifica&ccedil;&atilde;o da import&acirc;ncia e participa&ccedil;&atilde;o de cada um, e portanto de todos, &eacute; fundamental para a plena realiza&ccedil;&atilde;o do esp&iacute;rito republicano. Mas, de que forma se constr&oacute;i uma rep&uacute;blica efetivamente destinada ao governo do bem comum, e, neste sentido, na perspectiva mais plena do conceito de povo? Gostaria de indicar algumas proclama&ccedil;&otilde;es necess&aacute;rias e urgentes aos nossos dias, onde proclamar &eacute; &ldquo;fazer uma declara&ccedil;&atilde;o p&uacute;blica e solene&rdquo;. &nbsp;<br /> <br /> Precisamos proclamar o Brasil como um pa&iacute;s em processo de desintoxica&ccedil;&atilde;o das pr&aacute;ticas corruptas e corruptoras. Como dizia a can&ccedil;&atilde;o: &ldquo;A come&ccedil;ar em mim...&rdquo; N&atilde;o adianta estendermos o dedo em riste para Bras&iacute;lia e continuarmos com as corrup&ccedil;&otilde;es nossas de cada dia. O projeto anticorrup&ccedil;&atilde;o come&ccedil;a na educa&ccedil;&atilde;o dada em casa, aos filhos, fundamentando-se n&atilde;o no discurso, mas na pr&aacute;tica.<br /> <br /> Precisamos proclamar um tempo de paz. Evidentemente que a viol&ecirc;ncia crescente em nosso pa&iacute;s tem muitas origens. No entanto, ficar terceirizando responsabilidades e se manter no imobilismo nada muda. Podemos gerar, incentivar e promover uma cultura de paz. Independentemente do que se tem oferecido, cultura de paz &eacute; decidir o que eu vou oferecer ao mundo. N&atilde;o podemos mudar o mundo todo de uma vez, pois n&atilde;o temos governabilidade, mas podemos sim, ser o&aacute;sis de paz, onde estivermos, com nossas escolhas, a&ccedil;&otilde;es e rea&ccedil;&otilde;es.<br /> <br /> Precisamos proclamar um tempo de esperan&ccedil;a. Os &uacute;ltimos dias de nosso pa&iacute;s, por ocasi&atilde;o do pleito eleitoral, deixaram muitas sequelas. A interposi&ccedil;&atilde;o de ideias &eacute; um ponto forte da democracia. A animosidade entre as pessoas &eacute; sua deforma&ccedil;&atilde;o. Precisamos ter uma esperan&ccedil;a proativa. E o que fazer para contribuir para o bem comum? A primeira coisa &eacute; exatamente essa: tenhamos esperan&ccedil;a.<br /> <br /> A crueza do mundo real, tem, por vezes, subtra&iacute;do de muitos a capacidade de sonhar, de esperar e de se deixar surpreender pelo devir. Proclamemos uma frase dita pelo pastor Martin Luther King, em seu hist&oacute;rico discurso, em Washington, em 1963: &ldquo;Eu tenho um sonho&rdquo;. A luta de constru&ccedil;&atilde;o de uma realidade mais humanizada, menos excludente, mais inclusiva, deve ser de todos. <br /> <br /> &Eacute; esta proclama&ccedil;&atilde;o que precisamos celebrar de forma continuada em nossa na&ccedil;&atilde;o. Feita sim pelos que assumem fun&ccedil;&otilde;es de governo, mas, principalmente, por todos que constroem de forma silenciosa a realidade que vivenciamos como na&ccedil;&atilde;o. Uma condi&ccedil;&atilde;o n&atilde;o &eacute; excludente a outra. Acompanhemos, cobremos, fiscalizemos os representantes ora eleitos e que tomar&atilde;o posse no ano vindouro. Que nossa rep&uacute;blica se destine ao bem comum, ao bem de todos, como deve ser.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_christian-moreira-de-souza_historiador-mestre-em-ciencias-da-educacao.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Christian Moreira de Souza</i></b> &eacute; Historiador, Mestre em Ci&ecirc;ncias da Educa&ccedil;&atilde;o e membro da Comunidade Can&ccedil;&atilde;o Nova