Abertura!

04 de janeiro de 2019 às 18:36

João Marchesan
A necessidade de novidades, por parte de nossa sociedade, n&atilde;o se restringe ao campo da moda ou do consumo, mas alcan&ccedil;a at&eacute; &aacute;reas insuspeitas, como a economia. Nos &uacute;ltimos anos, por exemplo, a solu&ccedil;&atilde;o para o crescimento econ&ocirc;mico passou por v&aacute;rias ideias que foram consumidas rapidamente e substitu&iacute;das sempre pela novidade mais recente. <br /> &nbsp;<br /> A moda atual, neste campo, n&atilde;o &eacute; propriamente nova, e elege a abertura comercial, de prefer&ecirc;ncia ampla e unilateral, como o rem&eacute;dio infal&iacute;vel para aumentar a produtividade e a competitividade dos produtos brasileiros tanto de bens quanto de servi&ccedil;os, via maior concorr&ecirc;ncia com os produtores externos, o que traria como consequ&ecirc;ncia a retomada do crescimento.&nbsp; &nbsp;<br /> &nbsp;<br /> A ferramenta para tanto &eacute; uma forte redu&ccedil;&atilde;o das atuais al&iacute;quotas do imposto de importa&ccedil;&atilde;o, eventualmente at&eacute; zer&aacute;-las. Ora, se isto resolve nossos problemas, porqu&ecirc; temos e mantemos o imposto de importa&ccedil;&atilde;o? Antes que algu&eacute;m pense que se trata de mais uma jabuticaba, &eacute; bom esclarecer que todos os pa&iacute;ses do mundo taxam, em maior ou menor grau, os produtos e servi&ccedil;os que eles importam.<br /> &nbsp;<br /> &Eacute; bom deixar claro que as tarifas alfandeg&aacute;rias n&atilde;o foram criadas para os governos arrecadarem mais, ainda que, eventualmente, seu efeito n&atilde;o seja desprez&iacute;vel. A raz&atilde;o para sua exist&ecirc;ncia &eacute; a de cumprir outra fun&ccedil;&atilde;o, ou seja, equalizar a diferen&ccedil;a de custos de produ&ccedil;&atilde;o internos e externos ou em casos mais espec&iacute;ficos proteger a ind&uacute;stria local da concorr&ecirc;ncia externa.<br /> &nbsp;<br /> No caso brasileiro houve alguns per&iacute;odos nos quais as tarifas alfandeg&aacute;rias foram utilizadas para proteger setores nascentes como no caso da ind&uacute;stria da inform&aacute;tica ou, mais antigamente, os governos usaram e abusaram deste recurso para restringir importa&ccedil;&otilde;es, em fun&ccedil;&atilde;o das hist&oacute;ricas dificuldades do pa&iacute;s em conseguir d&oacute;lares suficientes para pagar nossas importa&ccedil;&otilde;es.<br /> &nbsp;<br /> Nas &uacute;ltimas d&eacute;cadas, entretanto, o imposto de importa&ccedil;&atilde;o, em maior ou menor grau, tem cumprido seu papel de compensar as eventuais diferen&ccedil;as de custos internos face aos externos, quando devidas a fatores sist&ecirc;micos e n&atilde;o especificamente &agrave;s defici&ecirc;ncias da ind&uacute;stria brasileira. Assim, antes de afirmar que nossas tarifas s&atilde;o altas, &eacute; necess&aacute;rio verificar se elas cumprem o papel para o qual foram criadas, ou seja, se elas compensam o custo Brasil.<br /> &nbsp;<br /> Os custos adicionais, em rela&ccedil;&atilde;o aos principais concorrentes externos, que o Brasil imp&otilde;e a quem aqui produz, ou seja, o custo Brasil &eacute; atualmente da ordem de trinta pontos percentuais o que significa que a tarifa m&eacute;dia brasileira deveria ser de 21% apenas para compensar o fato de que produzir aqui &eacute; mais caro do que l&aacute; fora. A consequ&ecirc;ncia &eacute; que a produ&ccedil;&atilde;o brasileira, com uma tarifa nominal m&eacute;dia ao redor de 14%, n&atilde;o est&aacute; sendo protegida. <br /> &nbsp;<br /> Nossas tarifas alfandeg&aacute;rias tem muitos defeitos come&ccedil;ando com o fato das al&iacute;quotas de mat&eacute;rias primas serem, &agrave;s vezes, assemelhadas &agrave;s de produtos finais mas, as acusa&ccedil;&otilde;es de que s&atilde;o muito altas levam em conta apenas o valor nominal do imposto, quando, na realidade, face ao elevado custo Brasil, s&atilde;o um verdadeiro subs&iacute;dio &agrave;s importa&ccedil;&otilde;es, fato comprovado pelos enormes deficits na balan&ccedil;a comercial dos manufaturados, em per&iacute;odos de crescimento do pa&iacute;s.<br /> &nbsp;<br /> Assim, por uma quest&atilde;o de bom senso, a prioridade a ser enfrentada pelo pr&oacute;ximo governo, dentro de uma agenda de competitividade, &eacute; a redu&ccedil;&atilde;o sistem&aacute;tica do custo Brasil promovendo uma reforma tribut&aacute;ria que simplifique o sistema e redistribua impostos entre os diversos setores e uma redu&ccedil;&atilde;o dos juros reais de mercado ao n&iacute;vel de nossos concorrentes, apenas para ficar com os dois principais fatores. Depois disto poderemos voltar a falar de abertura, sempre negociada.<br /> &nbsp;<br /> <b><i><img src="/uploads/image/artigos_joao-carlos-marchesan_administrador_membro-abimaq.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> Jo&atilde;o Marchesan</i></b> &eacute; empres&aacute;rio e presidente do Conselho de Administra&ccedil;&atilde;o da ABIMAQ &ndash; Associa&ccedil;&atilde;o Brasileira da Ind&uacute;stria de M&aacute;quinas