A SAÚDE DA NAÇÃO

15 de janeiro de 2019 às 11:30

Gaudêncio Torquato
Comecemos com uma analogia: os munic&iacute;pios formam a massa corporal da Federa&ccedil;&atilde;o, os Estados ocupam o lugar do cora&ccedil;&atilde;o e o c&eacute;rebro &eacute; a Uni&atilde;o. Se a massa corporal padece de mazelas ou se o cora&ccedil;&atilde;o sofre graves dist&uacute;rbios, o c&eacute;rebro n&atilde;o ter&aacute; condi&ccedil;&otilde;es de resistir. Fenece. Pois bem, por melhores que sejam expectativas em torno do governo Bolsonaro, as partes do corpo nacional carecem de intenso tratamento. Essa &eacute; a condi&ccedil;&atilde;o para termos um pa&iacute;s com boa sa&uacute;de financeira e capaz de suportar os abalos que costumam levar nossa economia para a UTI.<br /> <br /> Em outros termos: a vitalidade de um pa&iacute;s exige que todas as partes que o comp&otilde;em sejam devidamente cuidados. A sa&uacute;de da Federa&ccedil;&atilde;o h&aacute; de contemplar uma receita sist&ecirc;mica, global, sem o que aparecer&atilde;o descompassos, comprometendo sua sanidade. Donde se extrai esta infer&ecirc;ncia: os entes federativos precisam passar por r&iacute;gido programa de controle de sa&uacute;de fiscal-financeira, melhorar &iacute;ndices de produtividade e, dessa forma, garantir condi&ccedil;&otilde;es para seu desenvolvimento.<br /> <br /> O diagn&oacute;stico &eacute; p&eacute;ssimo. A d&iacute;vida bruta de Estados e munic&iacute;pios com a Uni&atilde;o chegou a R$ 908 bilh&otilde;es. Centenas de prefeituras do pa&iacute;s (entre as 5.568) e mais da metade dos Estados deixam de cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, estourando o limite de gastos com pessoal e ingressando no inferno da insolv&ecirc;ncia. As administra&ccedil;&otilde;es n&atilde;o podem destinar mais de 60% da receita corrente l&iacute;quida &agrave; folha de pessoal. Em alguns Estados, o comprometimento ultrapassa 75%, chegando-se ao estouro da boiada, como &eacute; o caso do Rio Grande do Norte, onde este &iacute;ndice &eacute; de 86%.<br /> <br /> A crise fiscal de munic&iacute;pios e Estados se agrava h&aacute; tempos. De 2010 a 2016, as receitas prim&aacute;rias de Estados mantiveram-se est&aacute;veis, mas o or&ccedil;amento com pessoal ativo e inativo cresceu 6,5 pontos que, somados ao custeio, aumentou a despesas em 9,9 pontos percentuais. Em outros n&uacute;meros, a m&eacute;dia do crescimento real com gasto de ativos e inativos aumentou em 57%. Em 5 Estados, esse gasto ultrapassou 80%. O PIB real cresceu apenas 52,61% no mesmo per&iacute;odo. Estados poderosos no passado, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul afundam no po&ccedil;o do desequil&iacute;brio fiscal-financeiro. Outros, como o RN, est&atilde;o na UTI dos doentes terminais.<br /> <br /> Explica-se assim a precariedade dos servi&ccedil;os p&uacute;blicos. Cada vez mais h&aacute; menos recursos para a execu&ccedil;&atilde;o de pol&iacute;ticas p&uacute;blicas, abrindo imensas crateras no bojo social, com danos vis&iacute;veis nas frentes de sa&uacute;de e seguran&ccedil;a p&uacute;blica. Uma est&eacute;tica de mis&eacute;ria emoldura os corredores de hospitais, superlotados de doentes, enquanto nas vias p&uacute;blicas a popula&ccedil;&atilde;o assiste &agrave; depreda&ccedil;&atilde;o de patrim&ocirc;nios. Uma calamidade.<br /> <br /> O maestro Paulo Guedes atua na esfera cerebral da Na&ccedil;&atilde;o, devendo arrumar propostas para a recupera&ccedil;&atilde;o de Estados e Munic&iacute;pios,com realce para a&ccedil;&otilde;es na &aacute;rea da tributa&ccedil;&atilde;o, incentivos aos segmentos de m&atilde;o de obra intensiva, e corte de bra&ccedil;os de estatais, com sua passagem para a iniciativa privada. Um Estado menor constitui alavanca do empreendedorismo. O pa&iacute;s carece de investimentos para animar o ambiente de neg&oacute;cios. E de outras iniciativas como melhoria do regulamento ambiental, revis&atilde;o da lei de fal&ecirc;ncias etc.<br /> <br /> Prioridade n&ordm; 1: aprovar a Reforma da Previd&ecirc;ncia, decisiva para viabilizar a administra&ccedil;&atilde;o federal.<br /> <br /> Em suma, a sa&uacute;de da Na&ccedil;&atilde;o exige que todas as partes do corpo recebam rem&eacute;dios adequados.<br /> &nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp; &nbsp;<br /> <img src="/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" hspace="3" align="left" alt="" /><br /> <br /> <b><i>Gaud&ecirc;ncio Torquato</i></b>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato