A ciência, a religião e a ministra

15 de janeiro de 2019 às 11:42

Luiz Gaziri
Um grupo de cientistas da University of California realizou um experimento numa empresa de bebidas onde alguns funcion&aacute;rios foram incentivados a praticar pequenos atos de bondade para um grupo de colegas, mas n&atilde;o para outros. Os cientistas descobriram que ap&oacute;s serem agraciados com pequenos atos de bondade, os funcion&aacute;rios passaram a ajudar seus colegas 278% a mais, comparados com o grupo de pessoas que n&atilde;o recebeu atos de bondade. Posteriormente, estes funcion&aacute;rios tamb&eacute;m reportaram estar significativamente mais felizes do que seus colegas que n&atilde;o receberam tais atos. Mas a grande revela&ccedil;&atilde;o deste estudo ainda estava por vir: os cientistas descobriram que as pessoas que tiveram os aumentos mais significativos em sua felicidade foram as que praticaram os atos de bondade, n&atilde;o as que receberam.<br /> <br /> Num outro estudo, cientistas da Harvard, Simon Fraser e University of Toronto presentearam pessoas na rua com um envelope que continha $ 5,00 dentro e posteriormente, mediram a felicidade de cada participante. Algumas pessoas foram instru&iacute;das a gastar o dinheiro comprando algo para si mesmas, enquanto outras deveriam gastar o dinheiro comprando algo para outra pessoa. No final do dia, os cientistas mediram a felicidade de todos os participantes novamente e descobriram que aqueles que gastaram o seu dinheiro com os outros reportavam estar significativamente mais felizes do que os que gastaram o dinheiro consigo mesmos. Parece que o ser humano foi feito para ajudar uns aos outros.<br /> <br /> O renomado pesquisador da University of Pennsylvania, Martin Seligman, realizou um experimento onde as pessoas deveriam praticar seis atividades diferentes com o intuito de aumentar a felicidade das mesmas. Dentre as seis atividades, a que aumentou a felicidade dos participantes de forma mais marcante foi a de escrever uma carta de gratid&atilde;o para uma pessoa que a ajudou durante a vida e entrega-la pessoalmente. Outras interven&ccedil;&otilde;es cient&iacute;ficas j&aacute; descobriram inclusive, que o ato de apenas escrever uma carta de gratid&atilde;o j&aacute; apresenta efeitos de longo prazo na felicidade das pessoas.<br /> <br /> Os cientistas Christopher Oveis e Dacher Keltner descobriram num estudo que ao presenciarmos uma pessoa sofrendo, existe uma ativa&ccedil;&atilde;o no nervo vago, que &eacute; o maior nervo do nosso corpo e apresenta ramifica&ccedil;&otilde;es para o c&eacute;rebro, cora&ccedil;&atilde;o, pulm&atilde;o, intestino, f&iacute;gado e outros &oacute;rg&atilde;os. Quando ativado, o nervo vago diminui os batimentos card&iacute;acos, aumentando a probabilidade das pessoas tratarem as outras de forma gentil. O sistema vagal tamb&eacute;m possui in&uacute;meros receptores de ocitocina, um horm&ocirc;nio respons&aacute;vel pelos sentimentos de amor, colabora&ccedil;&atilde;o, confian&ccedil;a. Sarina Saturn, uma pesquisadora da Oregon State University, descobriu que ao presenciarmos o sofrimento de algu&eacute;m, inicialmente o nosso sistema nervoso simp&aacute;tico entra em a&ccedil;&atilde;o e posteriormente, o sistema nervoso parassimp&aacute;tico &eacute; acionado. Estes cientistas descobriram algo fant&aacute;stico: o sofrimento de outras pessoas faz com que o nosso corpo fabrique estresse, fazendo com que nos coloquemos no lugar daquelas pessoas, e posteriormente nos acalma aumentando a nossa probabilidade em ajudar aquela pessoa a se livrar do sofrimento. Parte deste mecanismo &eacute; explicado por uma das descobertas mais importantes da medicina, realizada por cientistas da Universit&agrave; Di Parma. Um grupo de pesquisadores liderados por Giacomo Rizzolatti, descobriu um conjunto de neur&ocirc;nios chamados de neur&ocirc;nios espelho, que fazem com que o ser humano tenha uma tend&ecirc;ncia em copiar os movimentos corporais, express&otilde;es faciais e a&ccedil;&otilde;es uns dos outros. No momento em que vemos algu&eacute;m sofrendo, automaticamente nossos neur&ocirc;nios espelho nos fazem copiar a express&atilde;o facial daquela pessoa e assim, passamos a sentir a mesma coisa que ela, algo nomeado pelos cientistas como a Teoria do Feedback Facial. O ser humano tem uma capacidade natural de se colocar no lugar dos outros, de sentir o que os outros est&atilde;o sentindo &ndash; nossas emo&ccedil;&otilde;es se espalham.<br /> <br /> Ao analisar o n&iacute;vel de materialismo de algumas pessoas, ou seja, o quanto elas valorizavam o sucesso financeiro e acreditavam que ser ricas e possuir bens era o principal sinal de sucesso, os cientistas Tim Kasser e Richard Ryan descobriram que as pessoas com estes valores s&atilde;o aquelas que mais reportam sofrer com depress&atilde;o, ansiedade, estresse e de viver uma vida guiada pelo que os outros esperam delas.<br /> <br /> Ao ter um conv&iacute;vio intenso com as ci&ecirc;ncias da felicidade e da motiva&ccedil;&atilde;o nos &uacute;ltimos quinze anos, estes s&atilde;o apenas alguns dos estudos dos quais eu me lembro que mostram uma profunda liga&ccedil;&atilde;o entre os princ&iacute;pios presentes em v&aacute;rias religi&otilde;es e as descobertas cient&iacute;ficas. Dar &eacute; receber, amar ao pr&oacute;ximo como a ti mesmo, amai-vos uns aos outros, o amor do dinheiro &eacute; a raiz de todos os males, quem oferece a gratid&atilde;o recebe a salva&ccedil;&atilde;o, a do&ccedil;ura no falar aumenta o saber, n&atilde;o cobi&ccedil;ar as coisas alheias. Como um estudioso da ci&ecirc;ncia, ofere&ccedil;o &agrave; Ministra Damaris o conforto da informa&ccedil;&atilde;o de que a ci&ecirc;ncia comprova que o ser humano &eacute; verdadeiramente fant&aacute;stico e a tranquilidade para que ela saiba que quanto mais a ci&ecirc;ncia evolui, mas passamos a acreditar em Deus.<br /> <br /> <i><b><img src="/uploads/image/artigos_luiz-gaziri_consultor-e-professor-fae-business-school.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Luiz Gaziri</b></i>, consultor e professor na FAE Business School e na PUC-PR<br />