Bananeira não dá pera

27 de janeiro de 2019 às 13:19

Acedriana Vicente Vogel
In&uacute;meros s&atilde;o os ditos populares que explicam os percal&ccedil;os da vida, carregados de sabedoria, professados pelas pessoas que nos antecederam e que n&atilde;o perderam o valor pedag&oacute;gico, ao longo do tempo. H&aacute; pessoas que passam pela vida &lsquo;plantando vento&rsquo; e se surpreendem quando acabam por &lsquo;colher tempestades&rsquo;. N&atilde;o &eacute; raro se atribuir &agrave; sorte as conquistas das pessoas. Que uma parte da conquista &eacute; gra&ccedil;a, n&atilde;o h&aacute; d&uacute;vidas, mas a outra &eacute; esfor&ccedil;o, trabalho, dedica&ccedil;&atilde;o e muita persist&ecirc;ncia diante das adversidades.<br /> <br /> Em Santa Catarina, lugar de onde eu venho, ditos populares nos economizam uma s&eacute;rie de explica&ccedil;&otilde;es sobre o que acontece nos relacionamentos humanos, pois comunicam e ensinam, de forma espont&acirc;nea, direta e bem-humorada. Capturo, com isso, portanto, o valor da simplicidade em nossos relacionamentos. E, mais ainda, o quanto &eacute; complexo ser simples. <br /> <br /> O in&iacute;cio de um ano &eacute;, para mim, como um caderno novo, que nos impele a organizar e caprichar somente pelo fato de ser novo. In&uacute;meros s&atilde;o os prop&oacute;sitos que temos e que, de tantos, acabam no esquecimento. Portanto, fa&ccedil;o um convite para avaliar esse 'check list', a fim de encontrar um tempo na agenda deste ano para exercitar a simplicidade, t&atilde;o presente na inf&acirc;ncia e, por vezes, esquecida na vida adulta.<br /> <br /> Steve Jobs, fundador da Apple, dizia que a simplicidade era o seu mantra, tanto quanto o foco. &quot;O simples pode ser mais dif&iacute;cil que o complexo: &eacute; preciso trabalhar duro para limpar seus pensamentos de forma a torn&aacute;-los simples&quot;, afirmou certa vez. &Eacute; a simplicidade que emoldura a mem&oacute;ria emocional, que nos constitui como gente e, para reativ&aacute;-la ao n&iacute;vel da consci&ecirc;ncia, &eacute; necess&aacute;rio nos perguntar: pelo que o nosso cora&ccedil;&atilde;o 'suspira'?<br /> <br /> Particularmente, encontro um &lsquo;cardiosuspiro&rsquo; no tempo em que pass&aacute;vamos na estufa do meu av&ocirc;, varando noites para secar o fumo, comendo balas de puxa-puxa feitas pela minha av&oacute;, que puxava o melado quente, de uma m&atilde;o para a outra, at&eacute; ficar ao ponto de bala. Essa conviv&ecirc;ncia era regada por muitas hist&oacute;rias sobre a vida, que me ajudaram a ser quem eu sou e despertam em mim um orgulho que pulsa, ou seja, ativa um suspiro que me enobrece ao recordar (pensamento que passa pelo cora&ccedil;&atilde;o).<br /> <br /> Curiosamente s&atilde;o as coisas mais simples e singelas que nos marcam positivamente. N&atilde;o &eacute; incomum, particularmente, me emocionar com o cheiro do fog&atilde;o &agrave; lenha. Ele me remete a um tempo onde a vida era menos complexa e mais intensa de sentido, emerge do exerc&iacute;cio dessa mem&oacute;ria que nos &ldquo;gentifica&rdquo;, ou melhor, que resgata os contornos que nos fazem mais gente, mais respons&aacute;veis por aquilo que nos tornamos, sem a falsa expectativa de poder colher pera de uma bananeira.<br /> <b><i>&nbsp;<br /> </i></b><b><i><img src="/uploads/image/artigos_acedriana-vicente-vogel_diretora-pedagogica-editora-positivo.jpg" alt="" width="60" hspace="3" height="80" align="left" /><br /> <br /> <br /> Acedriana Vicente Vogel</i></b> &eacute; diretora pedag&oacute;gica da Editora Positivo