Política Ambiental: O Brasil necessita de maturidade

01 de fevereiro de 2019 às 18:44

Armando Luiz Rovai/Bruno Luis
Ap&oacute;s quase tr&ecirc;s anos do rompimento da barragem de Fund&atilde;o, em Minas Gerais, o Brasil, novamente, encara outro desastre ambiental de enormes propor&ccedil;&otilde;es. A barragem de Brumadinho, constru&iacute;da em 1976, localizada na Bacia do Rio S&atilde;o Francisco, em um afluente do rio Paraopeba, tamb&eacute;m em Minas Gerais, rompeu-se nessa sexta-feira, 25 de janeiro de 2019. Diante do acontecimento, a empresa respons&aacute;vel pelo gerenciamento da barragem, a Vale, Sociedade de Economia Mista, e o Poder P&uacute;blico poder&atilde;o ser responsabilizados por dano ambiental, se comprovado, nos termos da lei.<br /> <br /> A extra&ccedil;&atilde;o e utiliza&ccedil;&atilde;o dos recursos naturais somado ao baixo &iacute;ndice de fiscaliza&ccedil;&atilde;o por parte dos &oacute;rg&atilde;os ambientais com &agrave;queles que os utilizam, a longo prazo, podem representar severos problemas no desenvolvimento do pa&iacute;s, em especial se persistir a tend&ecirc;ncia do atual governo brasileiro em flexibilizar a prote&ccedil;&atilde;o do meio ambiente a pretexto de progredir economicamente.<br /> <br /> O meio ambiente &eacute; um bem difuso, pertencente &agrave; coletividade, em que o ser humano obt&eacute;m os recursos necess&aacute;rios para o desenvolvimento e perman&ecirc;ncia da vida. A preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente n&atilde;o compete apenas ao Estado, mas aos organismos que comp&otilde;em a sociedade em geral. Todos devem cooperar para a preserva&ccedil;&atilde;o, para o desenvolvimento econ&ocirc;mico sadio e compat&iacute;vel com o tempo regenerativo do meio ambiente.<br /> <br /> Em um breve lapso temporal, dois desastres ambientais grav&iacute;ssimos ocorreram no Brasil. O rompimento da barragem de Brumadinho deve servir como mais um aviso ao Poder P&uacute;blico de como formular pol&iacute;ticas p&uacute;blicas para a preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente, em especial a necessidade do exerc&iacute;cio efetivo e eficiente do poder fiscalizat&oacute;rio do Poder P&uacute;blico frente as empresas e programas de incentivos &agrave; preserva&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> O patrim&ocirc;nio ambiental brasileiro n&atilde;o tem sido devidamente tutelado pelo Poder P&uacute;blico e o pa&iacute;s tem sido v&iacute;tima constante de abusos por empresas com pouco comprometimento em quest&otilde;es ambientais e seus impactos perante a sociedade. Sendo assim, percebe-se a incessante transfer&ecirc;ncia e esgotamento do patrim&ocirc;nio coletivo para satisfazer interesses privados, o que constitui confisco ambiental coletivo.<br /> <br /> No Brasil, desvalorizar o meio ambiente ou consider&aacute;-lo obst&aacute;culo para o desenvolvimento, definitivamente, n&atilde;o &eacute; o caminho. Para melhor elucidar, o atual governo tem demonstrado enorme ceticismo quanto &agrave; preserva&ccedil;&atilde;o ambiental, o que poder&aacute; representar um enorme risco para a seguran&ccedil;a do Brasil nas pr&oacute;ximas d&eacute;cadas em diversos setores, em especial nos setores de energia, de recursos h&iacute;dricos e aliment&iacute;cio. Em diversos momentos, pautas como a desregulamenta&ccedil;&atilde;o para a explora&ccedil;&atilde;o do meio ambiente t&ecirc;m sido discutidas sob o argumento de que &quot;existe uma ind&uacute;stria da multa&quot; e que a retomada do crescimento econ&ocirc;mico n&atilde;o pode esperar.<br /> <br /> N&atilde;o se pode estimular, como tem sido feito pelo atual governo, inverdades e elucubra&ccedil;&otilde;es no inconsciente coletivo. Valer-se da condi&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mico-financeira do pa&iacute;s para apequenar o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado em prol de poucos grupos econ&ocirc;micos que obt&ecirc;m vantagens &eacute; um vilip&ecirc;ndio &agrave; Constitui&ccedil;&atilde;o e ao futuro da na&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> Nessa perspectiva, h&aacute; de se ressaltar que atribuir exclusivamente ao atual governo a responsabilidade pelo rompimento da barragem em Brumadinho &eacute; equivocado. Contudo, h&aacute; a necessidade de alert&aacute;-los de que a vertente pol&iacute;tica ambiental que tem sido demonstrada recentemente deve ser radicalmente revista. A coer&ecirc;ncia deve ser pe&ccedil;a chave para a pol&iacute;tica ambiental, encarregar a preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente a pol&iacute;ticos com interesses notadamente contradit&oacute;rios nada mais &eacute; do que deixar aos cuidados da raposa o galinheiro.<br /> <br /> As discuss&otilde;es acerca da utiliza&ccedil;&atilde;o de recursos naturais e preserva&ccedil;&atilde;o do meio ambiente t&ecirc;m sido travadas mundialmente. N&atilde;o &eacute; para menos, o desafio ecol&oacute;gico &eacute; um dos maiores problemas - ou talvez o maior - a ser enfrentando pelos governos e pela humanidade. &Eacute; fato consumado que com o advento de in&uacute;meras revolu&ccedil;&otilde;es tecnol&oacute;gicas, ininterruptamente se exige, extrai-se e se polui cada vez mais o meio ambiente, rompendo com a harmonia ecol&oacute;gica.<br /> <br /> Em uma perspectiva global, isso impacta violentamente o modo como os pa&iacute;ses e governantes enfrentam a quest&atilde;o de preserva&ccedil;&atilde;o ambiental. Problemas ambientais requerem respostas e medidas a n&iacute;vel global. Assim, distantes de solucionar os problemas decorrentes do aquecimento global, do desgaste de recursos n&atilde;o-renov&aacute;veis e degrada&ccedil;&atilde;o severa do meio ambiente, alguns pol&iacute;ticos preferem acreditar que esses problemas n&atilde;o existem.<br /> <br /> Por fim, se o atual governo quer, de fato, demonstrar que &eacute; diferente dos anteriores e que vai mudar o Brasil, a sugest&atilde;o &eacute; a de que repense as pol&iacute;ticas p&uacute;blicas ambientais e atue com maturidade, valendo-se do conhecimento cient&iacute;fico de profissionais especializados em prote&ccedil;&atilde;o ambiental e desenvolvimento sustent&aacute;vel e garanta a devida autonomia ao Minist&eacute;rio do Meio Ambiente. Se o Brasil for capaz de compatibilizar preserva&ccedil;&atilde;o ambiental com desenvolvimento econ&ocirc;mico, no futuro, tais medidas ser&atilde;o respons&aacute;veis por colocar o pa&iacute;s em outro patamar no cen&aacute;rio internacional.<br /> &nbsp;<br /> <b><i>Armando Luiz Rovai</i></b> &eacute; professor de Direito Ambiental da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e doutor direito pol&iacute;tico e econ&ocirc;mico em pela Pontif&iacute;cia Universidade Cat&oacute;lica de S&atilde;o Paulo.<br /> <br /> <b><i>Bruno Luis Talpai</i></b> &eacute; Bacharel em Direito pela Pontif&iacute;cia Universidade Cat&oacute;lica de S&atilde;o Paulo e P&oacute;s-Graduando em Ci&ecirc;ncias Pol&iacute;ticas.