Justiça só muda com reforma do Judiciário

02 de fevereiro de 2019 às 13:07

Ribamar Fonseca
Fala-se muito em reformas, reforma da Previd&ecirc;ncia, reforma Tribut&aacute;ria, reforma pol&iacute;tica, etc, etc, mas ningu&eacute;m fala na reforma mais importante e urgente do pa&iacute;s: a reforma do Judici&aacute;rio. O nosso Judici&aacute;rio, que foi transformado numa casta pela Constitui&ccedil;&atilde;o de 1988 e tem sido uma vergonha para os brasileiros com suas escandalosas decis&otilde;es parciais pol&iacute;ticas, precisa urgentemente ser reformado porque perdeu a credibilidade, a confian&ccedil;a e o respeito do povo. Com honrosas exce&ccedil;&otilde;es entre os seus membros, &eacute; o pior Judici&aacute;rio de toda a hist&oacute;ria do Brasil, capaz inclusive de violar a Constitui&ccedil;&atilde;o Federal, sem a menor cerimonia, para atender interesses pol&iacute;ticos. A recente decis&atilde;o de impedir o ex-presidente Lula de assistir ao enterro do irm&atilde;o Vav&aacute;, vitima de um c&acirc;ncer, al&eacute;m de ilegal, se revestiu de inomin&aacute;vel crueldade, mais um desrespeito aos direitos humanos. Infelizmente muitos ju&iacute;zes, em todas as inst&acirc;ncias, perderam a vergonha e o pudor, indiferentes ao julgamento da popula&ccedil;&atilde;o que, segundo a esculhambada Carta Magna, &eacute; de onde emana o poder. A hipocrisia e o cinismo se tornaram marcas do atual Judici&aacute;rio, que envergonha antigos e austeros magistrados que fizeram hist&oacute;ria no Supremo.<br /> <br /> Segundo levantamento feito pelo jornalista Josias de Souza, da &quot;Folha&quot;, em 2015, em cumprimento &agrave; Constitui&ccedil;&atilde;o, cerca de 175 mil detentos tiveram permiss&atilde;o para enterrar seus mortos. As leis, por&eacute;m, n&atilde;o valem hoje para Lula que, preso no tempo da ditadura militar, foi autorizado a assistir ao vel&oacute;rio da sua m&atilde;e e acompanhar o seu enterro. Ou seja, a ditadura da toga &eacute; infinitamente desumana e pior do que a militar. E todo mundo sabe que a condena&ccedil;&atilde;o do ex-presidente foi uma farsa, pois sem crime e sem nenhuma prova, com o &uacute;nico e exclusivo objetivo de impedi-lo de concorrer &agrave; Presid&ecirc;ncia da Rep&uacute;blica nas elei&ccedil;&otilde;es do ano passado. Por isso, o juiz que o condenou foi premiado com o cargo de ministro da Justi&ccedil;a do governo Bolsonaro, pois com Lula no p&aacute;reo sucess&oacute;rio o ex-capit&atilde;o jamais teria sido eleito. Parece, contudo, que impedi-lo de concorrer n&atilde;o foi suficiente para afastar o medo e aplacar a f&uacute;ria dos seus advers&aacute;rios, que n&atilde;o admitiram sequer a possibilidade de v&ecirc;-lo livre por alguns instantes para enterrar o irm&atilde;o.<br /> <br /> O pior do Judici&aacute;rio, por&eacute;m, &eacute; a sua inst&acirc;ncia m&aacute;xima, ou seja, o Supremo Tribunal Federal, que tem o poder de reparar as injusti&ccedil;as mas prefere endoss&aacute;-las, sobretudo quando o alvo &eacute; o ex-presidente Lula. Contra o l&iacute;der petista a Constitui&ccedil;&atilde;o e as leis ordin&aacute;rias perdem o vig&ecirc;ncia, valendo apenas a convic&ccedil;&atilde;o dos ju&iacute;zes, que usam os argumentos mais esdr&uacute;xulos para justificar suas decis&otilde;es vergonhosamente injustas. Todas as vezes que algum magistrado decidiu libertar Lula, acolhendo os argumentos da sua defesa, houve uma surpreendente e imediata mobiliza&ccedil;&atilde;o de ju&iacute;zes, ministros, Policia Federal e Minist&eacute;rio P&uacute;blico para impedir o cumprimento da ordem judicial. A &uacute;ltima delas, do ministro Marco Aur&eacute;lio Mello, da Suprema Corte, foi rapidamente derrubada pelo seu presidente, ministro Dias Toffoli que, a exemplo da sua antecessora, Carmen Lucia, anula toda e qualquer iniciativa destinada a beneficiar o ex-presidente. E, por ironia, Carmem e Toffoli, os maiores carrascos de Lula, foram nomeados por ele quando Presidente da Rep&uacute;blica. Esse detalhe, por si s&oacute;, &eacute; suficiente para identificar o car&aacute;ter de ambos.<br /> <br /> Ningu&eacute;m tem d&uacute;vidas de que Lula &eacute; um preso pol&iacute;tico, cujo crime foi contrariar os interesses das elites brasileiras e dos norte-americanos, que sempre ambicionaram as riquezas do nosso pa&iacute;s. O Presidente mais bem avaliado da Hist&oacute;ria do Brasil, dentro e fora de nossas fronteiras, que tirou o pa&iacute;s do mapa da fome, melhorou a vida do povo e garantiu o acesso do pobre &agrave;s universidades, tem o reconhecimento internacional e, por isso, est&aacute; sendo cotado para receber o Pr&ecirc;mio Nobel da Paz. Ele arrancou o Brasil do dom&iacute;nio dos Estados Unidos, n&atilde;o deixando que eles colocassem as m&atilde;os no pr&eacute;-sal nem na Base Espacial de Alc&acirc;ntara. Para os americanos, portanto, que n&atilde;o pensavam em abrir m&atilde;o do nosso petr&oacute;leo, era imperioso afast&aacute;-lo da vida p&uacute;blica e impedi-lo de voltar ao Pal&aacute;cio do Planalto, pois ele se tornara o maior obst&aacute;culo ao dom&iacute;nio do Tio Sam em toda a Am&eacute;rica Latina. Para isso contaram com a valiosa participa&ccedil;&atilde;o dos vira-latas entreguistas brasileiros que, logo ap&oacute;s o golpe de 2016, passaram a desmontar a Petrobr&aacute;s e vender os seus ativos, al&eacute;m da Embraer. S&atilde;o vendilh&otilde;es da P&aacute;tria que deveriam ser julgados por alta trai&ccedil;&atilde;o ao pa&iacute;s.<br /> <br /> A n&atilde;o ser que algo inesperado aconte&ccedil;a, alterando o atual panorama da Justi&ccedil;a brasileira, Lula vai apodrecer na pris&atilde;o como deseja Bolsonaro e o seu ministro da Justi&ccedil;a. Se o novo Congresso, renovado, criar vergonha e se mostrar um poder de fato independente, os parlamentares podem tomar a iniciativa de reformar o Judici&aacute;rio, mudando toda a sua configura&ccedil;&atilde;o, em especial, os crit&eacute;rios para nomea&ccedil;&atilde;o dos ministros dos tribunais superiores. O primeiro passo &eacute; acabar com a vitaliciedade, estabelecendo um mandato de pelo menos quatro anos para os ministros, com direito a uma recondu&ccedil;&atilde;o conforme crit&eacute;rios previamente estabelecidos. Se os ocupantes dos principais cargos do Executivo e do Legislativo, que s&atilde;o eleitos pelo povo, tem mandatos, por que o Judici&aacute;rio n&atilde;o pode ter? S&oacute; esse detalhe j&aacute; poderia mudar o comportamento dos ministros que, conscientes de que n&atilde;o seriam eternizados no poder, certamente teriam mais cuidado em seus julgamentos, procurando ser mais justos em suas decis&otilde;es. &Eacute; preciso convencer os magistrados de que eles n&atilde;o s&atilde;o semi-deuses. Afinal, o povo j&aacute; n&atilde;o aguenta mais ver tantas injusti&ccedil;as da Justi&ccedil;a.<br /> <br /> <img src="/uploads/image/artigos_ribamar-fonseca_jornalista-e-escritor.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> <b><i>Ribamar Fonseca</i></b>, jornalista e escritor<br /> Fonte: <a href="https://www.brasil247.com/pt/colunistas/ribamarfonseca/382348/Justi%C3%A7a-s%C3%B3-muda-com-reforma-do-Judici%C3%A1rio.htm" target="_blank"><span style="color: rgb(0, 0, 255);"><u><i>https://www.brasil247.com/</i></u></span></a>