A máquina do desenvolvimento e a graxa da corrupção

13 de fevereiro de 2019 às 18:12

Yuri Sahione/Leandro Coutinho
No &uacute;ltimo dia 29 de janeiro, a Transpar&ecirc;ncia Internacional (TI) divulgou sua tradicional pesquisa do &iacute;ndice de percep&ccedil;&atilde;o da corrup&ccedil;&atilde;o.<br /> <br /> O resultado brasileiro, como era de se esperar, foi muito ruim, consolidando um aumento cont&iacute;nuo da percep&ccedil;&atilde;o da corrup&ccedil;&atilde;o (em 2012 eram 43 pontos e, em 2018, 35 pontos, sendo que quanto maior a pontua&ccedil;&atilde;o, menos a corrup&ccedil;&atilde;o &eacute; percebida).<br /> <br /> Ainda que a TI tenha exposto a deteriora&ccedil;&atilde;o da rela&ccedil;&atilde;o da sociedade brasileira com o Estado, n&atilde;o &eacute; dif&iacute;cil explicar o resultado. A Opera&ccedil;&atilde;o Lava-Jato continua progredindo com novas fases e em novas frentes. Fora dos Tribunais, o tema da corrup&ccedil;&atilde;o foi pauta do debate pol&iacute;tico nacional, tendo influenciado decisivamente nos resultados do pleito de outubro passado.<br /> <br /> Explicar o &quot;caso brasileiro&quot; frente o momento singular e particular em que vivemos &eacute; relativamente simples. O que n&atilde;o parece nem um pouco explic&aacute;vel &eacute; a m&eacute;dia das notas dos demais pa&iacute;ses que fazem parte dos BRICS.<br /> <br /> Brasil (35 pontos &ndash; 9&ordm; PIB mundial), R&uacute;ssia (28 pontos 11&ordm; PIB mundial), &Iacute;ndia (41 pontos - 7&ordm; PIB mundial), China (39 pontos - 2&ordm; PIB mundial) e &Aacute;frica do Sul (43 pontos - 34&ordm; PIB mundial), todos abaixo da m&eacute;dia mundial 43 pontos, os BRICS s&atilde;o uma contradi&ccedil;&atilde;o ao pr&oacute;prio conceito de desenvolvimento que eles representam. Os pa&iacute;ses juntos ocupam um quarto da &aacute;rea total do planeta, possuem 42% da popula&ccedil;&atilde;o mundial e seus PIBs agregam 22% da economia mundial.<br /> <br /> O resultado pode levar &agrave; cren&ccedil;a que a corrup&ccedil;&atilde;o pode ser um fator indutor ao desenvolvimento, j&aacute; que em muitos casos &eacute; a partir de pr&aacute;ticas ilegais que neg&oacute;cios s&atilde;o desenvolvidos, empregos gerados e muito dinheiro &eacute; injetado na economia.<br /> <br /> A euforia que a corrup&ccedil;&atilde;o, como indutora da economia, pode trazer est&aacute; longe de se confundir com desenvolvimento. A hist&oacute;ria recente do Brasil &eacute; um grande exemplo.<br /> <br /> O governo e as empresas por ele controladas injetam muito dinheiro na economia, em projetos mal planejados, com discut&iacute;vel retorno e superfaturados. O resultado, no m&eacute;dio prazo, &eacute; superendividamento, perda da capacidade de gera&ccedil;&atilde;o de receitas, completa desestrutura&ccedil;&atilde;o econ&ocirc;mica e administrativa, al&eacute;m de acentuar as desigualdades sociais.<br /> <br /> O cen&aacute;rio desolador que vemos atualmente no pa&iacute;s demonstra que muito se gastou, mas nada se investiu. Muito se fez, mas pouco se aproveita. O desenvolvimento azeitado pela corrup&ccedil;&atilde;o &eacute; aquele em que come&ccedil;amos a construir e, em pouco tempo, constatamos que tudo desmoronou e j&aacute; n&atilde;o h&aacute; mais nada a se fazer.<br /> <br /> Se o momento &eacute; de investir nos BRICS, devemos aproveitar a oportunidade para nos apropriarmos do dinheiro investido e do conhecimento depositado para construirmos alicerces econ&ocirc;micos, sociais e culturais, pavimentando o caminho para sermos uma pot&ecirc;ncia global.<br /> <br /> Se, ao contr&aacute;rio, preferirmos o desenvolvimento engraxado, estaremos fadados a sermos eternas promessas, pa&iacute;ses em desenvolvimento, futuras pot&ecirc;ncias, enfim, nada melhor do que j&aacute; somos hoje.<br /> <br /> *<b><i>Yuri Sahione</i></b> &eacute; advogado, especialista em Direito Penal e presidente da Comiss&atilde;o Especial de Estudos Permanentes sobre Compliance da OAB.<br /> <br /> *<b><i>Leandro Coutinho</i></b> &eacute; advogado e presidente do Instituto Compliance Rio (ICRio).