PRONTO PARA A DECOLAGEM?

20 de fevereiro de 2019 às 09:28

Gaudêncio Torquato
N&atilde;o pode dar errado. O Executivo, sempre com imensa for&ccedil;a em in&iacute;cio de gest&atilde;o, disp&otilde;e de condi&ccedil;&otilde;es para aprovar no Congresso seus primeiros projetos. S&oacute; mesmo forte instabilidade teria o cond&atilde;o de inviabilizar a agenda do governo. Sinal daquilo que Roberto Campos chamava de &ldquo;revers&atilde;o de expectativas&rdquo; &eacute; esse imbr&oacute;glio envolvendo o presidente Bolsonaro, seu filho Carlos e Bebianno. Mas a crise n&atilde;o parece debelada com a demiss&atilde;o do ministro na Secretaria Geral.<br /> <br /> Se o epis&oacute;dio n&atilde;o provocar terremoto ainda maior, deputados e senadores endossar&atilde;o a pauta do Pal&aacute;cio do Planalto, mesmo ressabiados. Ap&oacute;s disputar renhido pleito, desfraldando a bandeira de mudan&ccedil;as e sob apoio popular, Bolsonaro agrega for&ccedil;a para reformar a Previd&ecirc;ncia e aprovar o pacote anticrime e de combate &agrave; corrup&ccedil;&atilde;o. A fragilidade da administra&ccedil;&atilde;o s&oacute; ocorrer&aacute; na hip&oacute;tese de n&atilde;o apresentar resultados.<br /> <br /> As duas encomendas, se aprovadas, dar&atilde;o impulso ao governo, tirando-o do marasmo ou da sensa&ccedil;&atilde;o de baixa iniciativa, situa&ccedil;&atilde;o compreens&iacute;vel ante o afastamento do presidente para tratar da sa&uacute;de desde o atentado sofrido em Juiz de Fora (MG). A mudan&ccedil;a na Previd&ecirc;ncia, fixando a idade m&iacute;nima de aposentadoria aos 62 anos para a mulher e 65 anos para os homens, tem um prazo para ser aprovada: at&eacute; junho.<br /> J&aacute; a blitzkrieg para combater a corrup&ccedil;&atilde;o, o crime organizado e os crimes violentos, dever&aacute; ganhar ajustes, nada que desnature seu escopo.<br /> <br /> Os ministros Paulo Guedes e S&eacute;rgio Moro n&atilde;o podem perder suas causas, sob pena de abrirem um campo de disson&acirc;ncias na frente parlamentar, provocando uma decolagem turbulenta da nave governamental.<br /> <br /> Na C&acirc;mara, com o apoio de Rodrigo Maia, ser&atilde;o alcan&ccedil;ados os 308 votos para a aprova&ccedil;&atilde;o da PEC da Previd&ecirc;ncia e tamb&eacute;m os votos para chancelar a proposta do ministro da Justi&ccedil;a, que abrange 19 objetivos e prev&ecirc; altera&ccedil;&atilde;o de 14 leis, entre elas, o C&oacute;digo Penal, a Lei de Execu&ccedil;&atilde;o Penal, a Lei de Crimes Hediondos e o C&oacute;digo Eleitoral.<br /> <br /> A aprova&ccedil;&atilde;o se torna vi&aacute;vel ainda pelo fato de que as duas Casas congressuais est&atilde;o sob comando de quadros do DEM, partido em ascens&atilde;o. Na C&acirc;mara, a capacidade de articula&ccedil;&atilde;o de Rodrigo Maia, cuja vit&oacute;ria se deve a m&eacute;rito pr&oacute;prio, ser&aacute; decisiva. O Chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), n&atilde;o via com bons olhos a candidatura do correligion&aacute;rio. Eleito com vota&ccedil;&atilde;o extraordin&aacute;ria, 334 votos, Maia poderia at&eacute; vestir o manto de independ&ecirc;ncia, mas sua forma&ccedil;&atilde;o liberal e o compromisso que tem expressado de levar a bom termo projetos fundamentais para o pa&iacute;s sinalizam uma atua&ccedil;&atilde;o firme em favor do Executivo.<br /> <br /> Lembre-se que ele usou com mestria sua capacidade de articula&ccedil;&atilde;o para aprovar projetos de alto alcance no governo Temer, como o teto de gastos, a Reforma Trabalhista e a Lei da Terceiriza&ccedil;&atilde;o. A forma&ccedil;&atilde;o de um bloco, com mais de 300 parlamentares, reunindo PSL, PP, PSD, MDB, PR, PRB, DEM, PSDB, PTB, PSC e PMN, confere alguma seguran&ccedil;a ao governo.<br /> <br /> J&aacute; no Senado, o comando est&aacute; nas m&atilde;os do senador Davi Alcolumbre, do DEM do Amap&aacute;, um nome que emergiu de articula&ccedil;&atilde;o feita com sucesso por Lorenzoni, da Casa Civil. Portanto, ali tamb&eacute;m o governo contar&aacute; com s&oacute;lida base de apoio. Ademais, a interlocu&ccedil;&atilde;o ser&aacute; mais f&aacute;cil tendo em vista um colegiado de apenas 81 membros. A aprova&ccedil;&atilde;o da PEC carece do voto de 49 senadores.<br /> <br /> O que far&aacute; a oposi&ccedil;&atilde;o? PT e PSOL parecem sem rumo. Dizer que as reformas tiram direitos dos trabalhadores &eacute; chover no molhado. O dito n&atilde;o mais convence.&nbsp; Perde para o lema: &ldquo;reformar a Previd&ecirc;ncia ou quebrar o Brasil&rdquo;. MDB e PSDB agir&atilde;o sob o pragmatismo. Votar&atilde;o a favor das reformas, com um ou outro alerta, na tentativa de fazer sobressair sua &ldquo;independ&ecirc;ncia&rdquo;. O PSL, bancada maior da C&acirc;mara (55), superando a do PT, hoje com 52, ser&aacute; o carro-chefe a puxar os votos do governo. (Um alerta: partido que chega ao poder central, cheio de novatos, sem lastro doutrin&aacute;rio, corre o perigo de ver seus integrantes disparando tiros uns contra outros).<br /> <br /> De todo modo, se o governo n&atilde;o tiver for&ccedil;a suficiente para aprovar a mudan&ccedil;a na Previd&ecirc;ncia, abrir&aacute; um gigantesco inferno astral logo no in&iacute;cio do governo.<br /> <br /> E fica a d&uacute;vida: quem far&aacute; a articula&ccedil;&atilde;o do governo? O general Santa Cruz, da Secretaria do Governo, Lorenzoni, da Casa Civil ou o vice-presidente Mour&atilde;o?<br /> <br /> P.S. O papel dos filhos do presidente &eacute; uma inc&oacute;gnita. Uma Torre de Babel est&aacute; &agrave; espreita.<br /> &nbsp;<br /> <i><b><img src="http://www.novoeste.com/uploads/image/artigos_gaudencio-torquato_jornalista-professor-usp-consultor-politico.jpg" width="60" hspace="3" height="80" align="left" alt="" /><br /> <br /> <br /> Gaud&ecirc;ncio Torquato</b></i>, jornalista, &eacute; professor titular da USP, consultor pol&iacute;tico e de comunica&ccedil;&atilde;o Twitter@gaudtorquato